sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Restauro

Quem é você?

Onde esteve? Com quem falou? O que fez? 

Levantar os dados da vida dá muito trabalho. Arqueologia pura. 

Lembranças, porque a mente é capaz de guardar muitos dados.

Encontros memoráveis, porque arquivos são capazes de manter as coisas em ordem e te permitir achar o que nem sabia que tinha perdido.

Insistências angustiantes, quando lembrou de uma coisa, por ter encontrado outra, mas não consegue recuperar a primeira. É impressionante a capacidade de se apegar à falta, à ausência, ao buraco.

De tudo que tem, não falta nada. Bendito dito! Mas nossa cabeça de bagre não aceita essa lógica, porque empaca no furo.

E o mais curioso, furo é abertura, pra faltar coisa mesmo, pra dar espaço e respiro. Mas dizem que ele inaugura a existência e com isso, faz a gente emperrar onde não tem nada.

Sim, teve, foi, passou, perdeu. Não vai fazer tanta falta assim, não era imprescindível, porque se fosse, não teria sido perdido, ou melhor, teria sido guardado.

Pegando pela memória, foi assim desde o começo, meio esquecido, meio sem fazer questão. Mas aí, na linha do tempo, a insistência aparece aqui como apareceu lá. E para quê? Por uma vaidade besta.

Deixar pra lá, não se incomodar, porque é a falta que pode faltar e que não movimenta nenhum desejo bom o bastante para se realizar.

Simone de Paula - 03/11/2023

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Contos da Lua nº 5

Lá vem ela, toda glamourosa!

Peito erguido, orgulho assumido. Se coloca como sua majestade, mesmo nem notando que já pode ter perdido o reino.

Generosidade, sim! Petulância, também! Teimosia, disfarçada de certeza.

Sem dúvida, encanta e ilumina o ambiente. Chama a atenção porque não esconde a sua presença.

Assume quem é, tem identidade. Porém, tudo é personagem. Veste a roupa e sustenta a narrativa.

Brilha, dramatiza, ri e chora para todo mundo ver. 

Não se desculpa pelos desvios, seja de caráter ou do erro do figurino, afinal, não carrega culpa.

Puro desejo, pela vida e pelo outro. Quer e tem o que quer, usufrui do melhor. Até na falência, não vê a falta como um problema, mas como uma forma de dar a volta por cima. Não é questão de garra, não, é forma de se colocar na vida.

Vibra, e nessa vibração, conquista corações. É prato cheio para os invejosos.

Presenteia, como forma de fazer parte da sua vida, da sua casa, do seu corpo. Ganha com isso a fidelidade do outro. 

Leal, mesmo te passando a perna, porque antes de tudo, coloca a si em primeiro lugar. 

Levar rasteira desse é uma forma de aprender a viver por si mesmo, pelo desejo e pelas relações. Ou tudo é diplomacia, negociação, ou tudo é na base do eu primeiro, mesmo disfarçado do fazendo por você. 

Autenticidade, especialmente porque interpreta seu próprio personagem.

Sim, a Lua em Leão para fechar com chave de ouro.

E para concluir essa série de contos da Lua, um filme mais cult, que até merece um descritivo sobre ele.

Porque sim, Leão, né gente?!? pedindo sempre mais atenção.

Simone de Paula - 27/10/23


"Pierre Wesselrin (Jess Hahn) é um músico parisiense, que recebe um telegrama informando que sua tia rica faleceu. Como ela apenas tinha dois parentes vivos, Pirre deduz que herdará sua fortuna. Com isso decide realizar uma grande festa para comemorar, convidando todos os seus amigos. Entretanto no dia seguinte ele descobre que fora deserdado pela tia, com a fortuna ficando inteiramente para seu primo, que considera um idiota."

"É a história de um músico fracassado Pierre Wesselrin (Jess Hahn). Rohmer mostra uma Paris diferente da mostrada geralmente nos filmes, bela e turística, mas sim a miserável, mendigos, deprimente, moradores de rua, pedintes. Rohmer exibe diversos locais da cidade, bares, cafés, lanchonetes, restaurantes, livrarias, etc. Rohmer ressalta a falência financeira de Pierre e seu fracasso profissional/musical. O signo de Pierre é Leão e seu signo influe em sua trajetória de vida no roteiro de Rohmer, pois o diretor/roteirista discute Astrologia no filme, assim o fato de ser leonino leva Pierre a esperar por uma dádiva/milagre, e sua vida é marcada ou pela riqueza ou pela pobreza, ou tudo ou nada. Pierra anda perdido e vagando pelas ruas de Paris, passa fome, frio, mendiga, em total silêncio contemplativo de desespero e aflição, humilhado e cabisbaixo. O filme é belíssimo, poético e de um lirismo ímpar. Maravilhoso. Dez! "


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Conto da Lua nº 3

Blá blá blá. 

Falar, mexer, pensar, tudo ao mesmo tempo agora.

Tem mais ideias do que articulação para colocar todas para fora de uma vez. Durante a tagarelice, ainda lembra de mais alguma coisa pra incluir. 

Associa livremente e ninguém sabe onde começou e nem como vai acabar. Ás vezes numa risada, outras numa discussão acalorada.

Quer aprender, conhecer, ensinar. Movimento na mente, no corpo e no coração. Mas não é sentimental, não. Usa a razão para cifrar e decifrar o mundo material e emocional.

Amizades muitas, todas, mas sem grude, sem par, quanto mais múltiplo e diverso, melhor.  E é disso que vem a fama da promiscuidade, porque conhecer, nunca é demais. 

Seduz com atitude, conversa fiada, se fazendo de bobo. Não cria clima, mas vai pra cima. E, se não der em nada, nem tem crise, porque era mesmo só uma tentativa, uma brincadeira sem consequências.

Tinha lá uma música da Blitz que dizia, rádio Blá!  Isso é tudinho essa Lua em Gêmeos de hoje. 

E para ilustrar, tem esse filme, meio musical, meio romance, meio DR, que é muita coisa junta e misturada, La La Land - Blá, blá, bang!

Simone de Paula - 20/10/23



sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Conto da Lua nº 2

Ah, que delícia! Chegou o momento de prazer, deleite.

Comedimento não pela avareza, mas para usufruir do melhor, na medida certa, para não transformar o que é bom em ruim pelo excesso.

Fome, o que é? Apetite! Gula, o que é? Apetite. Vontade, o que é? Apetite. 

Não é só de comida que se fala aqui. É também de descanso, adiamento do que não importa, aquisição do que vale, viver com o que é bom.

Sabedoria do corpo, de pesos e medidas, do bom e do belo.

Sedução com a matéria, feitiço com a realidade.

Ciúme, posse, quer só para si. Constância, permanência, teimosia.

Satisfeito, mas nunca desinteressado.

Todo sedutor carrega um seduzível dentro de si, e numa esquina qualquer, um cheiro, um olhar, pode abrir novamente as portas para o apetite e levar a querer além do que tem. 

Nesta sexta treze, a Lua em Touro vem provocar os sujeitos das dietas e do detox, para dizer que só se vive uma vez. E, com tanta coisa boa por aí, melhor pegar só um bocadinho a evitar o prazer com medo das mazelas da vida.

Para ilustrar, essa série lindinha, Cozinhando para uma casa Maiko, que traz comida e beleza, sedução e parceria, na medida certa.

Simone de Paula - 13/10/23





sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Conto da Lua n 6

Limpa, organiza, esquematiza, produz.

Sabe aquela música, 'todo dia ela faz tudo sempre igual', é mais ou menos isso.

Não é só pra repetir, mas porque disciplina e método garantem a melhor forma de eficiência e eficácia.

Pena que o mundo não para pra manter tudo no lugar.

Precisa de garantia, de saber que tem patrão, que alguém manda, porque sabe bem obedecer.

Não é só questão de hierarquia para ter reconhecimento, mas para que as coisas tenham ordem, lugar, definição.

O mundo precisa disso, nem que seja um pouco. Mas com isso vem crítica, juízo de valor sobre tudo e todos.

Tem escala de certo e errado, de bom e mau, sempre ficando do lado exato da corda.

Sabe que faz para que alguém desfaça e isso provoca nervoso, irritabilidade, tensão. 

Segue ao slogan: 'atendemos bem para atender sempre.' Faz porque gosta, porque quer, mas insiste em dizer que faz porque alguém tem que fazer.

Se ocupa, não descansa, nem tem tempo para isso.

E, nesse conto, a expressão limitada da Lua em Virgem. E como filme inspirador, mais um filme antigo, mas maravilhoso, 'Vestígios do Dia", com Anthony Hopkins e Emma Thompson.


Simone de Paula - 06/10/23


 

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Conto da Lua nº 9

Excesso, brilho, festa e diversão.

Sorriso gigante no rosto, braços abertos para a multidão.

Tudo tem a dimensão do universo, tem desejo e energia de sobra para fazer tudo que tá no mundo, que chama por diversão.

Bom humor, brincadeira, joga o jogo da vida sem medo de perder.

Quer tesão, sexo, sangue, suor e lágrimas. 

Comedidos e racionais não entendem porque não consegue parar. A resposta é simples: porque não quer.

Tem corpo cheio de energia, músculos pulsantes, disposição, simpatia e carisma.

Fala alto, sobe no palco, chama para a festa.

Na hora da briga, não se esconde, grita mais alto, não ameaça, mas não recua. E no final, ainda senta com o adversário para tomar uma cerveja, ou os dois acabam exaustos no hospital.

Quer tudo, quer todos, não é de ninguém.

E essa é a Lua excessiva de Sagitário. Liberdade, libertinagem, na vibe da felicidade.

E um filme antigo e maravilhoso, Pricilla, a Rainha do deserto.


Simone de Paula - 29/09/23



sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Conto da Lua nº 12

Entre o encantamento e o sofrimento, ela segue no balanço das águas.

Acredita, porque sente que é assim. Se é místico, racional ou paranormal, pouco importa.

Não sabe funcionar pela lógica padrão, escapa das amarras das provas concretas, se apega às promessas mais inspiradoras e malucas.

Se te conta uma história, como um pescador, aumenta na medida do que gostaria que tivesse sido. Quer parceiros de viagem que naveguem olhando para as estrelas e vibrando para encontrar um novo mundo.

Se vai dar certo, talvez não. Ou vai ser menos prazeroso do que ela imagina, mas o que seria da vida se não se pudesse correr riscos?

Emotiva, sonhadora, criativa, encantadora. 

Seduz mesmo sem querer, mas de boba não tem nada. 

Chantagem sempre com cara de tristeza e sofrimento, desamparo e abandono. Carrega a orfandade dentro de si. Com isso, se apega a quem olha, quem dá atenção.

Num dia qualquer, encontra o amor. Dias depois, a desilusão. Mas nada disso a impede de dar mais uma volta na roda-gigante da vida, amando de novo e sofrendo mais um tantão.

Essa é a Lua em Peixes, que vê pêlo em ovo, brilho no olho, desejo no tom de voz. Tudo que tem aura, tem o olhar atento dos portadores dessa Lua arricada.

E  para ilustrar essa condição, a fofura de Amélie Poulin.


Simone de Paula - 20/09/23



sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Conto da Lua nº 7

Uma gracinha, é isso que ela é.
Não tem a exuberância de umas, nem a discrição de outras, mas chama a atenção pelo charme, pelo carisma e pela simpatia.
Gosta de par: parceria, complemento, dupla.
Junta o eu e o outro com maestria. Mas tem tantos outros pra um só eu que a indecisão faz parte do seu ser.
Harmonia, beleza, prazer, delicadeza. 
Usa todas as formas de evitar gafes, constrangimentos e brutalidade.
Não é boba. Não fica em segundo lugar, mas também não entra em competição, porque sabe se posicionar no lugar certo pra ganhar o que quer.
Se apega no começo, depois quer liberdade, pois sem isso, não há amplitude na relação. Quanto mais experimenta, mais reconhece faces de si mesma.
Não anda, desfila. Não interpreta, só faz pela sedução e pela conquista.
Todas essas firulas são da Lua em Libra, esse encantamento perfumado que faz do ambiente um lugar de desejo.
E para ilustrar esse conto, nada melhor do que o filme Noiva em Fuga. 
Julia Roberts é uma escorpiana, do finzinho de outubro, mas certamente tem alguns astros em Libra, pois é a atriz que mais faz filmes com a carinha de par perfeito para o romance.

Simone de Paula - 15/9/23



sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Conto da Lua nº 8

Não chama pra briga, que eu já estou pronta para a batalha.

Resiliência, sempre. Mas nada mais essencial do que a desforra. Melhor, a espera pela vingança.

Quero ser vista, disfarçada de outra, mas agindo como eu mesma.

Não esqueço, porque tudo comigo é intenso, me pertence.

Já nasci perdida, o que é mais uma perda nessa vida?

Estou aí, viva, com a morte certa esperando numa esquina.

Como diz a doutora, a morte é um dia para ser vivido.

Me comprometo, cumpro.

Lealdade, fidelidade, pra quê? Você vai falhar comigo, e se eu sinto isso, me antecipo, rompo primeiro a corda.

Faço tudo que for possível, até o fim. 

Não vou me esquecer da grana. Quero muito, quero mais. O que é meu, é meu, não abro mão do que tenho. Mas nem tudo que tenho é tudo que quero. Sempre tem lugar para mais um, dois, três ou quatro. Isso na grana, isso no sexo, isso no trauma, isso no nexo.

Amo profundamente. Choro desesperadamente. Me refaço constantemente.

E eu poderia ficar aqui para sempre escrevendo frases poderosas e magnéticas sobre a maravilhosa Lua em Escorpião. Sim, madrasta também, porque não alimenta os filhos, os manda pescar. Porém, os empossados com essa condição, sabem como viver até o limite.

E, para representar essa potência, uma série interessante, anos 80, da Netflix - GLOW!

Simone de Paula - 08/09/23





sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Conto da Lua nº 10

E vem chegando discreto, sério, levemente curvado.

Sem amor, sem calor, pronto pro trabalho. 

Cenho franzido, semblante sisudo,  não sabe rir direito, nem brincar solto, se sente meio desconfortável nesse lugar.

O pai, cadê meu pai? A mãe esteve lá, mas pensando em outro lugar.

Quer ordem, regra, reconhecimento, tudo que garanta que fez certo.

Não quer mudar, cobra pelo combinado. Não tem jogo de cintura, dança duro pra tentar acompanhar.

Quer amor, calor, aconchego, mas quando chega perto, se sente preso, quer soltar.

Se isola, mesmo desejoso de fogo, gente e carinho.

"Faz um cafuné em mim, por favor, mas não gruda, não!"

E essa lua madrasta, que não consegue pegar o filho no colo e amar incondicionalmente. Lua caprica, iluminando o alto da montanha.

E o filme sugerido é The tender bar, nesse universo dos homens: pais, filhos, avós e tios, todos tentando se apoiar pra não cair.

Simone de Paula - 01/9/23



sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Conto da Lua nº 1

Se eu quero te pegar, pode vir quente que eu tô fervendo.

Não importa quem é você, só eu mesmo interessa. 

Velocidade, intensidade, agressividade.

Impulso físico, verbal, sexual.

Não encosta que eu te empurro. Não me olha que eu te encaro. Mas não fica parado, porque senão eu bug-o.

Eu funciono como o risco de fósforo: barulho, labareda, queima rápido e deixa fumaça. Mas logo passa.

Não quero ordem, nem demanda, só sigo meu lema.

Sou herói, soldado, sempre na frente da minha batalha.

Não espero, berro, faço tudo pra chamar a atenção.

Se pareço quieto e calado, e porque estou aguardando o próximo sinal, que me desperta rapidinho pra uma nova meta.

Não quero falar, discutir, conversar, palavras são nada. Ação, é nisso que se concentra a vida, pulsante, interessante.

Não entra na minha frente que eu passo por cima.

Essa delicadeza toda para a Lua em Áries. E a sugestão é a série Treta, da Netflix.

Simone de Paula - 25/8/23




sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Conto da Lua nº4

Minha vida, meu amor, meu tudo.
Elejo você para ser meu, só meu. Registro tudo de nós, para sempre.
Não quero o novo, não quero nada mais, só quero repetir até findar, até a eternidade.
Registros, memórias, quanto mais concreto, melhor.
Filho, casa, família. Sem vazio, sem abandono, sempre com você.
Desconfio, tenho medo. Controlo, seguro, dou um jeito de não largar. 
Se machuco, me machuco. Se me escondo, te escondo. 
Evito saber de você, para não ter que te perder. 
Não me afasto para ver se você volta. Arrisco, só quando sei que você está preso no meu laço. 
Te acompanho, insisto, me antecipo, me faço ser indispensável.
Só a morte pode te levar de mim. E com ela, uma parte vai junto. 
Pranteio sua falta, mas carrego em mim o oco que ficou no meu corpo pela sua partida.

E a Lua em Câncer veio hoje dar o tom dramático desse conto.
Um filme sugerido é Belle Époque, que me parece ter um pé nessa Lua molhada.

Simone de Paula - 17/8/23



sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Conto da Lua nº 11

A vaidade se disfarça na excentricidade. 

É preciso seguir um tanto de convencional para marcar o diferencial: faz os movimentos todos, certos, segue os protocolos, assume a posição devida, porém, só quando lhe convém. 

Não calcula ser rebelde, só é, porque ali parece ser um lugar de destaque. Precisa que tudo seja padronizado, só assim a esquisitice vai ter esse valor.

Não espera nada, é indiferente ao que quer. E não espera nos dois sentidos, tanto como expectativa, quanto como aguardo. Na hora que H, manda ver. 

Não se incomoda em ser incômoda. Não muda de opinião. Não se convence, não se acomoda. 

Também não tem pressa, nem ansiedade de sair mudando o tempo todo. Uma marca basta para a diferença.

Sabe que apoia a situação pelo inusitado, pela surpresa no outro. Não se coloca na oposição só pela treta, quando assume uma posição é pela causa.

Sabe que as coisas acontecem e nessa hora, BUM! Cai em cima dela a oportunidade de ousar, pular pra fora da moldura, entrar no palco da vida, brilhar, com o descaso de quem nunca desejou o que recebeu. 

Assim é a afetação da Lua em Aquário. Disfarça o desejo, mas exibe o feito. Segue na linha, só pra escapar a todo momento que pode. Finge indiferença, pra se manter no patamar dos ídolos. Se cerca de gente pra não precisar se unir a ninguém. Respira fundo e segue em frente.

"Tits up!"

Sob esse slogan, a série The Marvelous Mrs. Maisel me parece ilustrar bem a Lua em Aquário. 

Na personagem principal isso parece mais evidente, mas a série como um todo carrega esses elementos.

Assista se puder, muitos vão se divertir. 


Simone de Paula 11/8/23


sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Um soco

Foi um soco que me ataca em cheio no peito.

O peito afundou, cedeu, se recolheu.

O coração destroçado, faz força para , ser vivo, funcionar, mesmo diante do perigo.

A dor latente, de ontem, de hoje, pediu para eu não parar de tentar.


Simone de Paula - 04/08/23

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Toca

É tanta resposta que a gente busca que nem sabe mais qual a pergunta fundamental.

A falta do outro tá numa condição prévia que nos obriga a reiterar a existência desse outro, na mesma medida que reforma a nossa própria existência. 

Sem ele, tem eu?

Só posso saber disso perguntando e querendo receber perguntas para materializar nas respostas a presença, quase sempre duvidosa.

Como Alice, que diante das incertezas do país desconhecido, e maravilhoso, só fazia querer saber para poder estar ali como um alguém. Quando o non sense dos acontecimentos, associado aos ritmos imprevistos dessas situações, mostraram para ela que não havia tempo de perguntas e respostas, de entendimentos e explicações, finalmente ela se deixou levar pelo mais indescritível momento de vida: só vai!

Quisera eu entrar nessa toca hoje!

Simone de Paula - 28/7/23

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Tim-tim-tim

É um sacrilégio, mas gosto muito de café e tomo o solúvel alguns dias da semana. Por falta de recursos adequados, ou eu tomo esse, ou nenhum. Optei por esse

Na semana passada, vive uma situação inusitada: o café assumiu a personalidade do músico. Coloquei o granulado na xícara, mais umas gotinhas de adoçante e, por fim, água quente. Fui mexendo com a colherinha e o som foi do mais grave ao mais agudo. Tudo como o de sempre, mas agora com som de poesia.

O gosto era o mesmo, mas meu encanto era novo. 

Tem dias que isso acontece, uma surpresa se dá num dia comum.

Simone de Paula - 21/7/23

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Ídolos

Nossos ídolos e as pessoas que eles são.

Eu só queria escrever essa frase mesmo. Mas isso é mais um tweet do que um escrito que se prestaria a estar num blog. Daí, que resolvi escrever mais sobre isso aí mesmo.

Que pessoa é capaz de um grande feito, seja pela beleza estética, pela justeza ética, ou ainda, pela genialidade lógica? Daí, que julgamos a capa do livro pela leitura deslumbrada.

Já desvendamos que por trás de grandes gênios (volto a essa palavra logo menos), há um tanto de excentricidade, arrogância, descaso com o outro, quebra de protocolos, porque sem isso, será que o feito surpreenderia? Particularmente acho que sim, até porque esses grandes gênios se destacaram e depois nos ofereceram mais daquela fonte, ou seja, transformaram em um estilo um padrão daquilo que é deles mesmos.

Voltando ao gênio, cada um carrega o seu dentro de si. A astrologia antiga tinha até um nome para ele, Almutem. Mas, como nos transmite Aladim, é preciso achar a garrafa, tirar o gênio de lá e ainda saber fazer pedidos e sustentá-los atendidos. Talvez venha daí a capacidade das pessoas que fazem feitos geniais, simplesmente esfregar a garrafa e liberar o gênio. Pedir e levar, sem se apegar muito ao que tinha sido pedido, mas sabendo curtir, sem reservas ou conservas, o recebido.

Peço aos deuses e deusas (pra que nenhum fique de fora e, vaidosos como são, se voltem contra mim) que me liberem para encontrar o gênio perdido.

Simone de Paula - 14/7/23


sexta-feira, 7 de julho de 2023

A morte pede passagem

Nos últimos dias muita gente próxima morreu. De repente, por uma doença, uma tragédia, uma inexplicável parada cardíaca, tanto faz o motivo, mas aconteceu.

Ela chegou, atravessou um corpo, deixou seu rastro, difícil de apagar. 

Falamos de perdas, de lutos, das causas, tudo isso porque não se pode falar diretamente dela. É preciso encontrar meios de definir algum tipo de linguagem para falar do real sumiço da alma e do desaparecimento do corpo.

A gente quase nem pensa na morte, uma negação necessária para lidar com os imprevisíveis da vida. Como disse um conhecido esses dias: "ele acordou feliz essa manhã e terminou sem um pé."

Parece que diante da imensidão das montanhas, ou do mar, e da magnitude do inexplicável da existência, só nos resta lembrar da nossa humanidade. Nos aproximamos, reavaliamos o que verdadeiramente importa, nos dedicamos à afetividade e ao outro, tudo como reação ao absurdo de perder alguém.

Nesse momento, reconhecemos, em nós, como realmente lidamos com o imprevisível, pois tudo que imaginamos, que controlamos, podemos já prever reações. Mas não sabemos o que vai nos acontecer frente à interrupção definitiva.

Diante das despedidas, desejo reencontros.


Simone de Paula - 07/07/23


sexta-feira, 30 de junho de 2023

Beth

Beth, breathe!

Ela poderia usar esse apelido de escola na vida, mas optava por fumar e beber para aliviar a pressão que sentia.

Começou a notar uma dormência na ponta dos dedos, que inviabilizada suas ações. Mexia as mãos aflitivamente, mas escondia que estava em descontrole das suas ações e sentimentos.

Vaidosa, escondia todos os podres sob a pele alva, a beleza nórdica, a personalidade cordata.

O colapso veio no dia em que dirigia com os filhos voltando do supermercado. No rádio, uma música abriu uma brecha de memória do último jantar em que estava com o marido e olhava tudo que poderia estar acontecendo sob seus olhos, mas que ela não deveria saber. Na mesma hora que essa lembrança apareceu na sua mente, os dedos começaram a trimilicar. Se descontrolou e enfiou o carro no poste. Ninguém se machucou, mas ela precisou admitir que tinha alguma coisa errada com ela.

Foi ao médico, que a mandou ao psicanalista, que ouviu ela falar as banalidades da vida burguesa, sem entrar nas angústias que carregava no peito. Pedia para acender um cigarro toda vez que se aproximava do assunto que provocava o descontrole. Segurava o cigarro apagado entre os dedos, os mantendo controlados. 

Meses depois encerrou o tratamento, não queria mais ter que encarar a si mesma, era difícil continuar escondendo o que não deveria vir a tona. 

Encontrou outra forma de disfarçar o saber que não podia ser revelado. Tentava fugir, cavalgando diariamente, sem destino e com vigor. 

Desejo e raiva misturados, intensificados a cada ciclo de vida. Insatisfação em cima de insatisfação, banhados com fumaça e álcool. Vaidade e vergonha duelando para ver quem ia vencer a parada a cada encontro social. Não havia maquiagem que escondesse a tristeza que aparecia por trás do semblante altivo e realizado. 

Pensava em tudo, tentava de todas as formas contornar a realidade, só esquecia de uma coisa, coragem. 

Dormia ouvindo a si mesma: Beth, breathe!

Simone de Paula - 30/6/23

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Alma

Alma é uma pesquisadora de linguagens arcaicas e extremamente dedicada ao seu trabalho. Chefe da equipe do departamento de pesquisa de um respeitado museu, passa o dia no laboratório investigando lascas de pedras antigas, no intuito de decifrar a origem de uma língua que pode ter chegado até os dias de hoje, tentando recuperar o que foi perdido.

Por outro lado, conserva uma fachada de mulher inabalável, mantendo fora de seu horizonte as próprias perdas. Sofreu perdas fortíssimas nos últimos anos. Todas inesperadas, como geralmente a perda acontece. Algumas delas até puderam se tornar uma espécie de raiva, atribuindo a culpa à alguém. Mas outras, só poderiam ter sido obra do destino, do acaso, ou de deus, três figuras que Alma optou por não incluir no jogo da vida. Não sabe o que fazer com elas, nem com as perdas, nem com as figuras.

Mesmo ressentida por tudo que tinha vivido, Alma conseguia manter o ritmo, especialmente com as atividades do trabalho. Porém, o diretor do museu a chamou para dar duas notícias. Segundo ele, uma boa e outra ruim. Ela realmente não via graça nesse tipo de clichê, mas jogava o jogo de responder, para não criar um caso com uma coisa boba e tocar no ponto sensível que era a vaidade daquele chefe. Pede que dê a notícia ruim primeiro. Ela escolhia a ruim sempre, tinha uma explicação para isso, era realista e nenhuma boa notícia tiraria de cena, ou aliviaria, a ruim. Não se via como pessimista, mas tinha escolhido trabalhar com dificuldades, com coisas que raramente poderiam se realizar plenamente. Era movida por compromisso e obstinação, por mais fugaz que pudesse ser o sucesso do seu empenho.

Ele a comunicou do corte de verba que a pesquisa dela teria. Já havia muito tempo que os estudos estavam em curso e os resultados, ou descobertas, eram constantemente questionados. Preferiam investir em algo que pudesse ter maior repercussão pública, atraindo olhares para o museu. Ela reagiu, argumentou, mas percebeu nele um olhar de piedade no empenho dela, pois não teria como reverter a decisão. Primeiro, a raiva movia sua argumentação, mas diante desse olhar, tomada pelo orgulho, se calou e disse aceitar. Perguntou como fariam com tudo que já tinha sido produzido. O olhar dele mudou, tinha traços de segredo no ar. Disse que agora vinha então a boa nova. Ela ficou meio atordoada com esse jogo, ainda com o misto de raiva e humilhação, colocou a mão na cabeça e perguntou do que se tratava a boa notícia. Uma empresa de alta tecnologia, que trabalhava no campo da robótica, já vinha desenvolvendo robôs há décadas. E agora, o novo protótipo, eram robôs humanizados, com o intuito de serem pares românticos de pessoas solitárias. Mas eles precisavam de alguém para testar esse novo produto, e em troca, dariam uma boa quantia para a continuidade de alguma pesquisa. Ele tinha pensado nela, pois além da seriedade como pesquisadora, também era uma mulher disponível no campo amoroso. A primeira reação dela foi dizer que não, que jamais se prestaria a esse papel por dinheiro. Mas ele a elogiou, apresentou o valor que estavam dispostos a oferecer, e ainda disse que tinham outros pesquisadores que poderiam dispor dessa verba. Concluiu dizendo, "vai acontecer, com você ou outra pessoa." Mais uma perda, agora, no entender dela, da dignidade. Aceitou, não tinha como desperdiçar a verba, afinal, sua equipe de pesquisa também seria dispensada caso tivessem que abandonar o trabalho.

Ela recebeu por email um questionário longo, cheio de detalhes e pormenores, que ela levou mais de uma semana para responder. Além do tempo real para prencher tudo, ainda existia a resistência dela, deixando para depois, fingindo ter esquecido, mas realmente muito perturbada com aquele 'estranho' em sua caixa de emails. Uma vez enviado o questionário, era a vez de trabalharem na programação do robô e marcarem um primeiro encontro de teste. 

Ela chegou na sede da empresa, um prédio high tech, muito iluminado e cheio de vidros e colunas de metal prateadas, respondendo ao nosso imaginário futurista. Foi encaminhada para um corredor e passando por uma cortina de veludo, entrou numa sala que simulava um bar tipicamente para encontro de casais. A hostess indicou sua mesa e a apresentou para Tom, um homem bonito e bem arrumado que a cumprimentou de forma amigável, mas sedutora. Ela entendeu que aquele era o robô. Ficou surpresa e achou graça em tudo, mas mantinha as defesas ativadas, pois não cairia naquela falácia de achar que por parecer um ser humano, aquela máquina seria capaz de enganá-la completamente. Começam a conversar e ela percebe que há uma possibilidade de criar um paradoxo no assunto em que estão. Faz isso, lança mão da sua competência, da sua inteligência humana e seu profundo conhecimento no funcionamento da linguagem, que provoca um bug no sistema do robô. Como ele não conseguia decidir o que responder, como sair daquele indecidível do paradoxo, ele pifou, deu tilt. Ela saiu de lá vitoriosa, imaginando que cancelariam o projeto. Mas isso sim foi uma ilusão, pois foi apenas uma questão de ajuste no sistema operacional e na programação e ele estava pronto para o novo encontro. Levou menos tempo para resolver o problema que ela criou do que ela levou para responder o questionário com informações pessoais. Novo encontro e ela saiu de lá com ele a tiracolo.

Foram para a casa dela, ele programado para o romance e ela programada para inviabilizar o processo. Começam a conviver e ela praticamente o coloca dentro do armário do quarto dos fundos, ou seja, ela manda ele ficar lá e vai viver a vida dela, sozinha, como de costume. Mas ele está ali, comprometido a realizar o propósito da sua existência, ser o parceiro amoroso de Alma. Ele atua como um namorado perfeito, dando atenção a ela, fazendo tarefas domésticas, oferecendo mimos e cuidados. Ela não cai em nenhuma dessas armadilhas, pois isso não a seduz, pelo contrário, a faz ficar mais resistente, pois é estereotipado demais. Porém, ele foi programado com dados dela, e ela nem percebe que pode ter desejos de ter um homem nesse estilo. Ela nem se questiona, só segue na fé cega de que vai, no final do período de algumas semanas, dizer que é impossível esquecer que um robô é um robô. Ela, uma pesquisadora respeitada, quebrava uma importante regra de pesquisa, que é não saber a priori o resultado do que está sendo investigado. 

Alma vai se incomodando mais com a presença de Tom, algo exagerado para a situação. Porém, o que vai se passando de fato é que ela vai caindo no jogo de conquista pelo simples fato dele estar ali. A presença dele, a insistência dele, o compromisso vão abrindo a alma dela para aceitá-lo nessa posição de casal. 

A vida dela vai se mostrando maior do que apenas o trabalho. O pai idoso, com problemas neurológicos, o ex-namorado que agora está em outro relacionamento, o aborto sofrido que levou a relação dela para o buraco, tudo isso vai aparecendo e Tom, não tem muito o que fazer, a não ser estar ali, permitindo que ela possa, através dessa presença e aceitação que ele oferece, viver os lutos das perdas sofridas. Alma vai se envolvendo com Tom, deixando de lado a resistência em aceitar um outro ao seu lado. Ele permite que ela viva as emoções sem que precise se explicar ou se segurar. Ela pode reclamar, brigar, atacar, o usa da forma que quiser. Ele vira companheiro quando ela não quer estar só e nisso, pode contar com a divisão do peso das experiências dolorosas da vida. 

Alma agora está dividida, entre ter aquele homem-máquina ao seu lado (com quem pode dialogar, compartilhar, destruir, numa relação que possibilita a permanência e a consciência), e de que ele não é humano, mas uma máquina (ele faz o que ela manda, ou seja, ele executa comandos). Alma se vê encantada, quase se apaixonando, mas isso é demais para ela. Ela o manda embora, ele vai, e ela entra em crise de ser a verdadeira responsável, dessa vez, por essa perda. E, além disso, tinha que se haver com a empresa, que não sabia onde encontraria o protótipo que estava sendo testado. 

Ela está tão perdida quanto ele. Quando se conheceram ela estava perdida sobre como processar o que já não fazia mais parte da vida como ela conhecia. Mas ela estava inteira nisso. Agora, o que a deixava perdida é não saber mais muito de si mesma. Ainda estava levemente deprimida sobre o que não tinha mais, mas Tom abriu nela um novo desejo de amar, permitiu que ela se sentisse viva novamente, quebrou a rigidez que a acompanhava para não se entristecer e abandonar tudo. Porém agora, que tudo isso foi experimentado, inclusive um desentendimento entre eles, ela não quer mais viver tão fechada em si mesma. 

Sai de casa se rumo, mas com um destino, o mesmo lugar em que desde a adolescência ela tinha se permitido amar. Chegando lá encontra Tom, que sabia que esse era o lugar de segurança dela, portanto poderia ser o dele também. Novamente ao lado dele ela pode relaxar. Encontra a origem e o destino no mesmo lugar.

Simone de Paula - 23/6/23







sexta-feira, 16 de junho de 2023

Aconteceu

Por que tem coisas na vida que só acontecem? Foi assim, fácil, porque só aconteceu. 

Não foi num dia único, como um evento com hora marcada no céu estrelado. Também não foi uma coisa programada, planejada, organizada para tal acontecimento. Aliás, como foi 'SÓ', nem dá muito para classificar como acontecimento. Foi mais um fenômeno observado no dia seguinte do que um efeito de um ato.

Nem dá para saber direito como começou, se foi numa conversa, num olhar, numa chateação pelas coisinhas complicadas da rotina diária de dar soluções para os problemas criados pelos outros em troca do dinheiro injusto para pagar pelas bobagens que parecem agradar aos sentidos ou à vaidade do ego. 

Também não dá para saber quando acabou, porque nem acabou, mas já não é mais faz tempo. 

Eu sou meio masoquista, gosto de uma coisa difícil, sei lá, parece que eu escolho pelo que não está lá, disponível, neurose clássica. Porém, não foi bem isso que aconteceu nesse caso. Aliás, teve uma outra historia, nesse mesmo contexto, com os mesmos elementos envolvidos, que foi muito, mas muito difícil. Tanto foi, que desisti, porque tentar empurrar a montanha do lugar que ela acredita estar, é tarefa impossível. Mas daí, que depois da desistência, de minha parte, as coisas mudaram de rumo, foram se desenrolando. Foi aí então que começou a se dar a facilidade, e aconteceu.

Foi tão puro que brotou lágrimas. Não em mim, que sou meio insensível, sei lá se porque me chateei muito na vida e quase tudo pouco me importa, mas teve essa aguinha salgada lubrificando os olhos cheios de expectativa, querendo só dizer, "foi isso!"

Parece cheio de mistério, né? Mas não é não, é que pela facilidade da coisa, por não ter direito um evento que inaugura, por ir fazendo até que apareceu feito, fica difícil contar de forma mais explícita e encadeada. Foi assim, começou sem se saber como, e está aí, acontecendo. Terminou sem terminar, sabe? Sem dor, nem perda, só passou, sem acabar.

E pra concluir, logo, logo vai ter uma prova concreta disso tudo. Mas essa prova concreta é tão apenas um pedacinho, que nem dá pra ver na prova o ocorrido.

Nem vou anunciar um 'aguardem', porque não tem nada para criar suspense, como disse desde o início, foi fácil, só aconteceu, sem expectativa, sem espera, sem nem saber que ia ter.

Simone de Paula - 16/06/23

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Espaço

 Eu quis espaço.

Luz, ar, vazio.

Tirei parede, abri porta e janela.

Os detritos ficaram no caminho, impediram circulação.

Fiz limpeza. Água, vassoura e rodo. A trilha apareceu.

Ainda tinha um calombo aqui, uma barreira ali, só vi porque tirei o que tinha sobrado das quebras.

Cortei um pedaço através de uns buracos novos, pequenos, só pra passar uns cacos.

Saiu tudo.

A estrutura está lá, segurando o espaço, visível, possível.

Agora sim, mais luz,  ar, circulação afetiva e tempo de passagem.


Simone de Paula - 09/6/23

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Intervalo

Há pouco mais de um ano parei. Interrompi esse exercício de escrita, ficcional, reflexivo, pulsional.

Era um esvaziamento - palavra tão repetida atualmente que nem representa direito o que ela pode significar - de ideias, de desejo. 

Intervalos e pausas são fundamentais, especialmente nos momentos que tantas coisas estão por vir. E vieram. Algumas esperadas, outras já imaginadas e outras tantas, essas, de surpresa total e absoluta. 

Morri, sobrevivi, renasci.  Escrevi, publiquei, mudei, reconquistei.

Nesse processo longo de escrever semanalmente adquiri músculo e fluidez. Os dedos engrossaram e a língua amaciou. Por isso, estou aqui, mas também ali, que é onde desfilam os melhores instantes.

E o mais interessante disso tudo, especialmente nessa retomada dos Contos semanais, é que quanto menos palavras eu tenho para dizer, mais possibilidades se expressam ao escrever. Tiveram momentos que a escrita foi um jorro de coisas não ditas, pelo ensurdecimento e endurecimento do meu outro. Mas hoje o vetor inverteu. Primeiro, porque esse outro, tanto faz, se for surdo ou bom ouvinte, será preciso que seja leitor. Depois, porque quem não quer falar sou eu, daí, que não tem som pra circular, mas letras para perfilar.

Acabou o intervalo, estamos de volta!

Simone de Paula - 02/06/23

Kathy Womack