sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O passado.... passou

É lembrança ou é apego?!?

Com essa frase começo o escrito de hoje, sexta-feira, 31 de dezembro de 2021. Último dia do ano.

Seria aquele momento de balanço, retrospectiva dos acontecimentos, avaliação das perdas e danos e comemoração das conquistas e êxitos. Tudo certo até aí. Depois, promessas ou desejos para o ano vindouro, com a decisão de seguir adiante, sem permanecer ‘chorando o leite derramado’.

O ideia do réveillon é essa, seguir deixando pra trás o que passou, não sem antes ter feito o tal balanço. Rituais de passagem deveriam servir para isso, para quitar com o destino aquilo que não nos agradou.

Se isso serve anualmente para a gente dar ao passado o tratamento que ele merece, ser deixado pra lá (porque tem aqueles eventos, bem enevoados, diga-se de passagem), por que a gente insiste em carregar!?!

Eu gosto de uma antiguidade, especialmente do ponto de vista estético. Já fui mais insistente nisso, hoje sou menos, parece que o gosto ficou desbotado. Mas ainda segue aqui. 

Mas, tirando isso, tendo usado muito tempo para desgastar as lembranças, ofereci ao passado um lugar bem confortável no ontem, sem total esquecimento, mas com muita desimportância. Isso é bom.

No entanto, os apelos e apegos ao que já foi, a tentativa de relembrar ou recuperar, manifestam um vazio de perspectiva diante do presente, e mais ainda a impressão de desesperança em relação ao futuro.

Sou adepta do tempo, ficar, esperar, aproveitar, usufruir, permanecer até esgotar. Porque quando chega ao fim, uma novidade se dá pela fresta aberta do desejo. Porém na velocidade em que vamos, nem bem um começa já se é obrigado a terminar. 

Hoje termina um ano, que deveríamos ter tido alguns dias para encerrá-lo. Pensando nele ou não, mas apenas permitindo que ele tivesse decantado, para seguirmos de branco, limpos para o novo que se pintará em nós. 

Tome os banhos, silencie, relembre e escreva para deixar lá em 2021 o que foi de 2021. Se um dia, você precisar contar essa história, ela estará disponível para ser lembrada, e só.

Ano novo, vida nova. Nem tão nova, porque sequência do que já estamos vivendo, mas com possibilidades de repetir, coisa que é impossível não fazer, mas também de permitir que o destino nos surpreenda com a fortuna que ele nos reserva.

Que o ano novo, seja novo, sem necessidade de gastar a energia mental relembrando por não ter o que pensar. O ócio da mente é uma maravilha para sair do estado de exaustão.

Tim-tim!!!

Simone de Paula - 31/12/21

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

União

União quando nos juntamos, União a marca de açúcar. União também nome de rua, escola de samba, e sei lá o que mais.

Estamos no Natal, na véspera mais precisamente. O mundo reunido por uma data que nem todos comemoram. Quase dois anos também unidos pela pandemia do covid, sem o sentido da comemoração, mas da dor.

E enquanto eu escrevia isso, embrulhava presentes e assava um lombo, recebi um email com um pensamento estóico para completar esse texto:

"Esta comunhão, mantida com escrupuloso cuidado, que nos faz misturarmo-nos como homens com nossos semelhantes e sustenta que a raça humana tem certos direitos em comum, é também de grande ajuda em nutrir a comunhão mais íntima que se baseia na amizade." - Sêneca - Carta 48, “Sobre trocadilhos como Indigno ao Filósofo”

 Tá tudo certo, "... então é Natal..." como canta a Simone :D

 

Simone de Paula - 24/12/21

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Reencontro

Ontem reencontrei um amigo querido com quem tenho muita sintonia. Olhos nos olhos, depois de quase dois anos. Um papo longo que só terminou porque o restaurante fechou. Comida boa, bebida gelada, risadas e compartilhamento. Viemos de lugares diferentes, transitamos estradas paralelas, nos cruzamos em alguns trechos e isso foi suficiente para definir a amizade.

Para garantir o encontro, nada melhor do que um dead line, ou seja, agora ou nunca! E foi assim: AGORA! Mexe na agenda e faz acontecer.

Nossa amizade tem uma história, claro, como tudo que a gente conta e, por isso, faz parecer especial. As trocas começaram por espaços compartilhados. Depois, por assuntos comuns com planejamentos possíveis. Na pandemia, o ensinamento, novas descobertas, caminhos aproximados. Suave, delicado, gentil. No ritmo lento e constante que coloca o corpo presente e faz material a virtualidade da linguagem.

E falamos de corpo, claro, porque foi pelo espaço dos corpos que o encontro aconteceu inicialmente. 

Já que o corpo apareceu aqui, lembrei da experiência linda do último sábado, com a apresentação Gestos Transitantes, do Núcleo Dédalos, para o encerramento do grupo de estudos Corpo (en) cena. Depois reencontros com amigos, mais e mais nesse momento em que, vacinados, relaxamos os cuidados e nos reaproximamos.

Acho que é assim, o corpo pede passagem e atravessa o desfiladeiro da linguagem.


Simone de Paula - 17/12/2021

Gestos Transitantes

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Texto

Pra que serve um texto?

Pra que serve escrever?

Conheço um cara que é muito bom de escrita. Intelectual, culto, bom teórico. Escreve sério, coloca sempre uma palavra que ninguém conhece, e se conhece, não sabe o significado. Essa é a marca da insegurança que se mostra em cada artigo, tese ou livro que sai das mãos dele. Se disfarça de melhor do que o leitor quando o deixa no vácuo do sentido. Perdoável, porque o que sai, vale.

Conheço também uma mina, escreve ótimas crônicas. Divertida, texto limpo, fácil, criativo, mesmo quando transborda ironia nas críticas que faz. Leitora competente, segura nas opiniões, bem formada e culta na medida certa para esbanjar charme e sabedoria. Prolixa, se excede para conquistar e manter sua audiência.

E, entre tantos outros, tem eu. Nem conheço bem, mas imagino. Escrevo porque quero dizer coisas, mesmo que isso signifique 10% do que penso. Tem também o treino, pela gramática e/ou estética. Semanalmente mantenho minha disciplina, inventando meios de me colocar no mundo. Faz bem, exige esforço e foco, porque sempre a via mais fácil é de deixar para a próxima vez. Me empurro e sigo. Sim, faço por mim.

Simone de Paula - 10/12/2021



sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Double

 

Descubro, de tempos em tempos, que vim mesmo nessa vida pra aprender o que é uma dupla. E, ao mesmo tempo, sei exatamente o que é.

Por efeitos de desencontro, gasto  energia, criatividade e muita saliva para explicar para o outro como duplar. Mas esse exercício, exaustivo nessa altura da vida, só me faz perceber que eu me desgasto exemplificando aquilo que eu sei e o outro jamais saberá. É mais para eu entender o que já sei do que para o outro me acompanhar. Não que eu goste de admitir isso.

Vai ver é do duplo o problema e não da dupla, até porque, não me refiro ao gêmeo. 

Fato mesmo é que tudo isso importa demais. Mesmo querendo me livrar dos astros, a Libra que me opera, me destrata. Um dia me livro dela, ou melhor do outra que tá bem próxima de mim.

Simone de Paula - 03/12/2021

 

 

 

Ofra Amit, 'Bubblegum twins someforeignletters'