sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Tá tá

Tá?
Tá!
Tchau.
Tchau...
Bota o som, mastro!
Tá! tárá tá tá, tá tá tá tá... tárá tá tá tá tá, tá tá... tá! tá! tá! tá!
Faz música comigo. Bate o salto no taco. Toca, cria, vibra. Sonoridade. Energia. 
Tá! tárá tá tá, tá tá tá tá... tárá tá tá tá tá, tá tá... tá! tá! tá! tá!
Tá! tárá tá tá, tá tá tá tá... tárá tá tá tá tá, tá tá... tá! tá! tá! tá!
Tá! tárá tá tá, tá tá tá tá... tárá tá tá tá tá, tá tá... tá! tá! tá! tá!
Acorda!


Simone de Paula - 23/2/2018

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Dialeto


- Te vejo a noite?
- Quando?
- Hoje, a noite.
- Ahhh
- Vamos de acarajé ou massa?
- Pode ser.
- Oi?
- Sim, sim.
- To confusa, será Centro, Bixiga?
- Tudo bem.
- Acho que vou enlouquecer!
- Como você faz drama!
- Você tá brincando?
- O que mais você precisa saber?
- Eu não sei nada!

Passo na tua casa às 21h. Andamos até o metrô e descemos na República. Na dona Naizinha paramos por 15 minutos enquanto comemos o acarajé, um vegetariano e um duplo camarão. Tempo dela dar a bênção e a gente seguir até o Raul. Ele vai estar na portaria com a Dora, a bebezinha vem junto, a mãe dela não pode cuidar essa noite. A gente anda mais um pouco, procura um lugar, tudo cheio. Queremos paz e conversa. Quer saber? Pegamos um táxi. Lembramos do nosso lugar favorito e vamos pra cantina do Bixiga. Lá tem a massa que todo mundo gosta. Comemos pouco, já devoramos o bolinho no dendê. Dividimos os pratos e carregamos um vinho pra casa. E então nos entendemos. Até o café da manhã.
Sim?
Sim.

Maria Laura, SP.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A matemática do amor

Sim, poderia começar falando do um mais um igual a dois, que pelo amor almejam voltar ao um, e diante da impossibilidade de tal operação, inventam um pra compartilhar, se tornando assim três, mas só depois percebendo que o três exige muito mais articulações. 
Mas acho que a coisa pode ser mais complexa do que isso. Mais do que os números que dão uma imagem consistente aos sujeitos flechados pelo cupido, a questão é a das letras que tentam substituir aquilo que é indizível nesses sujeitos e suas modulações.
No começo a coisa é fácil, uma equação básica em que um se porta de x e outro se porta de y. Mas ocorre que x, mesmo tento se escolhido assim, quer experimentar ser y, ou melhor, carrega um y em si mesmo e parece precisar mostrar em certa medida essa condição. X = Y. Furo na equação básica. Chega a hora de buscar mais termos para tentar dar um jeito nessa conta complexa. De um lado, precisamos montar uma fórmula que representa a lógica de um. Mas por outro, precisamos montar uma outra fórmula compatível, que estruture a lógica do outro. E por fim, tentar juntar as fórmulas organizando-as de maneira a poderem se complementar para chegar a um resultado exato. X + Y - Z = 1. Mas como é difícil montar a lógica dessa operação! Nem todos os elementos aparecem de primeira. E, cada organização das letras, para que elas respondam a um comando exato, traduzam um efeito preciso, um novo elemento imprevisto aparece. 
Existem concursos que pagam muito a algum gênio que consiga solucionar problemas matemáticos ainda não resolvidos. Dias, noites, cálculos, sangue, suor e lágrimas. E mais, xingamentos, corpos exaustos, um tanto de obsessão. Tudo isso na mais completa solidão poderiam dar conta do recado. Em conjunto, conta, soma e multiplica, mas deixando um resto para mostrar que não é dando tudo de si que se encontra o todo. O êxtase estaria na própria solução do problema. Ou na dissolução da questão. As operações compreendem tantas nomenclaturas, cada uma fazendo funcionar uma parte da fórmula, acreditando que uma hora se chega a um fim. Essa é uma verdade, o exercício de solucionar um problema que nem estava descrito assim no primeiro encontro, infalivelmente chega a um fim quando se encontra o x da questão. X + Y = 0

Simone de Paula -16/2/2018


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Dí me

"Dí me, mi amor.."
A frase insistiu muitas vezes durante as cinco horas de viagem. Cada toque de celular era substituído pela voz potente e imponente do motorista com a frase caprichada: "Dí me mi amor".
Da primeira vez que ouvi, achei estranho, mas procurei entre os passageiros quem estava falando naquele volume tão cedo pela manhã e num veículo coletivo. Olhei, olhei, e vi que era o próprio condutor, dirigindo e conversando tranquilamente com 'mi amor', durante o trajeto. Aqui, com nossas leis rígidas de uso de celular e as leis rígidas de trânsito, tive uma pontinha de receio em saber que para aquele motorista, o apelo da sua amada era mais importante do que qualquer outra coisa, mesmo a segurança dos passageiros. 
Relaxei, não iria levantar e avisá-lo que não se deve atender o aparelho enquanto dirige e muito menos conversar longo tempo nessa situação.
Olhei a paisagem, quase cochilei, mas notei mais uma falação. Quem estava no maior bate-papo naquele ônibus? Lógico, o motorista. Mas ele não falava mais ao celular, mas sim com seu parceiro, seu substituto. Em uma viagem de cinco horas, dois motoristas levam o veículo e se substituem na única parada do caminho. Divertido, no mínimo. Era uma conversa animada, discutiam algum ponto que não dava para entender direito pela língua estrangeira e a rapidez com que falavam. Mas, o melhor não era o bate-papo durante o trajeto, mas conversar olhando nos olhos um do outro, com a estrada logo ali na frente. Ou seja, dirigia sem olhar. Mais uma surpresa, mais uma coisa diferente e inesperada.Mas, não parou por aí. 
Na parada, a única da viagem, depois de um café-da-manhã reforçado, era hora de trocar de posto. O companheiro de papo assumiu o volante e nosso personagem 'dí me', deitou confortavelmente no primeiro banco, recostou a poltrona que estava reservada para ele e dormiu feliz. Agora, a fala dava lugar ao ronco. Os pés para o alto, a cabeça bem apoiada, o banco rebaixado, o silêncio e a temperatura certa do ar condicionado. Tudo perfeito. E o ronco, esse também demonstrava que ele estava mais do que tranquilo. O sono era interrompido vez ou outra pelo toque do celular e a amada ligando perguntando por onde ele andava. Durante todo o trajeto, nós passageiros, éramos informados do local exato em que transitávamos, pois 'mi amor', queria saber. 
Fim da viagem, descemos do ônibus e imaginei que isso era apenas a excentricidade de um motorista. Que nada, a cada trajeto realizado, uma particularidade mais divertida do que a outra. Entre compras de produtos do interior e marmitas de comida para a refeição seguinte, vimos muita coisa divertida. 

Simone de Paula - 08/02/18

Obs. - Ocorrido durante a viagem de Havana a Trinidad, em Cuba

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Ensaio


quando vejo do lado de fora algo novo, que afeto!
reconheço dentro, um velho amigo, 
desconhecido e o mesmo

abre fontes de realidade
desejo de estar presente
na imperfeição, que arrebatamento!

estrelas viram rios
vento cachoeira
semente furacão

estréia de um mundo
onde tudo cabe o que tudo cabe 
nos limites da invenção
e pés fincados
passos

terra chão.


Maria Laura

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Ir

“O que é a vida?” Perguntaria o nosso finado Abujamra.
A vida é uma sucessão de decepções com alguns microacontecimentos de enorme felicidade. Sim, os microacontecimentos do Milan Kundera.
Eu respondo isso hoje, porque amanhã, tudo pode mudar. 
Decepção mesmo é a covardia, não a falha. Essa, só existe naqueles que tentam. Tentar é sempre um ato de coragem, resistência, persistência, insistência. Desistir é a declaração de que não vale arriscar na potência dos microacontecimentos. 


Simone de Paula - 24/11/2017

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Arrepio

um corpo
me embalou em onda
armadilha de pernas
e desejo

uma mordida de dentes afiados
mãos, pele, perfume, pulsares


entrelaçados

Maria Laura