sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Bio/Grafo

Tu olhas, me marca. Eu sou!

Percorro, te toco, te marco. É hoje!

Consisto, insisto, pontilho o daí até aqui. Te perco.

Você sabe o que eu não sei e diz: pra mim. Se esconde.

Pauso, silencio, estanco a voragem. Tu vens.

Bamboleia, quase cai, se sustenta. Cedi.

Sumo, sorvo, suspiro por ti. Cadê?

Chega: mais. Mais, pra quê? O rei e eu, aqui!

Simone de Paula - 29/01/2021



sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Orientações

Escolha o lugar mais silencioso da casa.

O horário é de sua escolha, mas eu aconselho o meio da tarde, entre 3 e 4 horas.

Fecha a janela, a cortina, qualquer coisa que propicie no ambiente aquele escurinho iluminado pela luz natural.

Não feche o vidro, brisa e barulho ao longe funcionam como aquela água correndo na fonte ininterruptamente.

Se tiver chuva, certamente a fortuna está com você.

Deite, de bruços se for possível, deixando o corpo todo espalhado pelo maior espaço de superfície que conseguir.

Feche os olhos naturalmente, ou seja, olhe sem mirar para o lugar que estiver no meio do caminho deles, o cansaço que ocorre pelo simples fato do esforço da consciência vai levá-los a se fecharem sozinhos.

Pronto, tire um belo cochilo. De preferência, de 15 a 20 minutos, não mais do que isso. 

Desperte!

Gire o corpo, mude de posição, desfaleça mais uns minutos.

Esses cinco minutinhos finais são providenciais para o superego te dizer: 'hora de levantar!'

Se seguir todos os passos, o resto do dia será de estado de plenitude. Confie em mim!


Simone de Paula - 22/01/2021

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Tecladitas

Já pensei tanto hoje que não tenho mais palavras para usar.

Comecei cedo, tentando interpretar o sonho cheio de idas e vindas que me acompanhou a noite toda. Eu dormia, mas a minha mente se divertia. Fantasias, correria, tudo compunha aquela narrativa.

Acordei e li, acompanhada do café e da luz do dia. Chegava a prometer sol aquele céu despertando comigo. O texto era um poema, melhor, um canto antigo, que me induziu a pensar nele em voz alta, como os antigos cantavam mitos e histórias, para fazer sonhar quem ouvia.

Continuei na rotina. O corpo fazia tudo no automático e a mente discutia, debatia, argumentava e teorizava sobre os assuntos do mundo. Quanta estafa!

Andei, comprei, trabalhei e cozinhei. Comi, escrevi, cochilei.

O dia chegou no meio da tarde e era hora de contar tudo isso. Mas na minha mente, já tão desgastada, palavra não tinha. Olhei a chuva cinza que insiste em melodiar meu quarto, acompanhada dos passarinhos que piam sem parar. E, para não deixá-los sozinhos, ouvi o som do teclado a digitar letras no ritmo dos pingos d'água, e eis que isso aqui surgiu.

Simone de Paula - 15/01/2021

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

S.O.S.

Apesar do clima sombrio que estávamos vivendo naqueles tempos, resolvemos embarcar naquela experiência. Era como uma Arca de Noé de amigos, conhecidos de trabalho, que de tanto contato, viraram íntimos, quase família. 

O dirigível era aberto, limpo, bem cuidado. Carlão, o responsável, era assumidamente um bom controlador, mas com a simpatia e doçura de alguém que quer agradar. Sabia de tudo o que acontecia com todos. Éramos amigos, eu confiava nele naquela função. 

Mesmo estando com meus velhos conhecidos, eu me sentia parte e ao mesmo tempo estranha ao grupo. Vai ver era por isso minha sintonia com o Carlão, tínhamos um entendimento telepático das situações.

Dirigível no ar, todo mundo excitado com o clima de começo de viagem, destino determinado, mas ainda distante, tudo funcionando bem.

Drinks, risadas, paisagem contendo céu, nuvens, montanhas, tudo que se vê de lá de cima. Alívio por estar longe do caos, mas apreensão, pois qualquer um, em qualquer lugar poderia ser alvo. 

Papeei um pouco aqui e ali, mas estava ansiosa, queria chegar, ou mesmo ter a garantia de estar salva desse presente indefinido que se vive no transfer -  o veículo que te transporta e não é nem aqui e nem lá, mas ainda assim é um lugar é um tempo suspensos.

Bem, voltando à situação, apesar do meu estado psicológico... Todo mundo estava curtindo, aproveitando o trajeto. Mas comecei sentir algo estranho, um clima de dissolução. Era como se o dirigível começasse a se desmanchar, perder massa, consistência, acho que é assim que a gente se sente em queda livre. O estranho é que ele não estava apenas perdendo altitude, eram as bordas que se esgarçavam e iam fazendo tudo aquilo se desmanchar. Olhei para o Carlão que parecia perceber o mesmo que eu. Ele já estava com telefone na orelha, ligando sem parar para as pessoas. Com cara de tranquilidade, mas no fundo do olhar o terror estampado.

Cheguei mais perto e quando ia perguntar se ele sentia o mesmo que eu, ele me atravessou: "dona Ema é sua mãe?" E eu respondi que sim e ele completou:" já avisei que talvez vc morra." Eu pense, "caramba, tá bom, pode ser que o piloto esteja nos levando para o buraco, mas minha mãe tem 82 anos e morreria de ouvir essa notícia." Pensando bem, primeiro, eu sou bem convencida, imaginando que por me perder, minha mãe morreria de tristeza pela minha falta. Mas eu também via a cena, a imaginava do outro lado do telefone dele, reagindo a essa notícia, chorando. Apesar disso, eu nem disse nada, pq nessa hora nossas suspeitas se confirmaram, aquele piloto era um alguém a serviço de uma força de comando que matava sem mais nem porquê. Aliás, eliminava. 

O dirigível foi caindo, se dirigindo velozmente em direção ao chão. Os passageiros então se deram conta do que acontecia. Carlão me olhou e disse: "preciso avisar todos os parentes de quem está aqui, para que saibam que talvez todo mundo morra agora." Quando ele terminou essa frase, parece que o piloto cansou da brincadeira sádica, endireitou o veículo, baixou a velocidade e voltou a voar com estabilidade e em direção ao nosso destino.

Que tempos, meus amigos, que tempos...

Simone de Paula 08/01/2021



sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

2021

Gosto de mar, de amar, música, chuva, espera boa, cheiro de natureza, figo, iogurte, preguiça, disciplina.

Não gosto de  filmes de guerra, sorvete, tédio, congestionamento, aprisionamentos.

Um desejo? Um ano de surpresas, buracos no chão que revelam depois do abismo a possibilidade de novidade. A esperança vinda do som profundo do silêncio e o sentimento convulsivo do riso.

Simone de Paula 01/01/2021