sexta-feira, 26 de abril de 2019

Torções

A transposição direta que tento fazer daquilo que em mim pulsa para chegar no seu ato é impossível. Nunca chegarei lá enquanto não entender que é necessário um tanto de voltas e retortas para aproximar um e outro.
É como no pole dance: um mastro estático, parado no meio de um espaço, indicando que só por estar ali algo deve ser feito com aquilo. 
Imagino que sei o que devo fazer e me disponho pelos meus meios subjetivos em relação ao pau imóvel. Me movo e o uso como minha base, nesse caso vertical? Me arrisco na gravidade? Ou experimento, colocando meu corpo, através dos sentidos, em contato com aquele outro corpo sem sentido? 
Subo, desço, viro e volto. Vertigem no giro que leva minha cabeça para baixo. Medo de rachar a testa e sangrar no chão duro e firme que se destaca pela horizontalidade em que a gravidade me mantém. 
Frisson na brisa que toca minha pele enquanto tento um rodopio. Estou suspensa, no ar, brincando e testando. 
Mas você não está lá, não desse jeito que imagino que esteja, participando, parte, partindo meu corpo em dois, três, dez. 
Parti, partiu.

Simone de Paula - 26/04/2019



sexta-feira, 19 de abril de 2019

Nostalgia

Que saudade dos antigos, que podiam falar dos astros, dos deuses, do amor.
A ciência moderna, chegou de assalto e tomou de nós todas as graças de que dispunhamos na tentativa de querer que o amanhã chegasse.
O mundo está em colapso, como sempre esteve. Nunca o mundo foi bom, belo e justo. Nem tomado pelo terrível e deplorável completamente.
O diabo está aí, dia-a-dia, manifestado naquilo que te faz sofrer. O diabo desenhado pela arte ou pela religião, nem de longe combina com aquele que te assola, te toma pelo teu mais profundo sofrimento. E deus, aquele que brilha a esperança, te abandona porque não podes mais ser tolo.
Consulte os livros, o google, os universitários. Esqueça os velhos, vividos em outros tempos, que acreditavam no poder da benzedeira, da reza feminina, do broto da terra.
Estou aqui, nostálgica, implorando para que a razão me deixe e a fascinação da louca visão interna se dê em mim.
Amém!

Simone de Paula

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Natureza

Amor, você me cresce tanto.
Igual ao rio negro se unindo ao rio branco.
A união das águas.
Em uma das cenas de temperatura mais lindas que eu já vi.

ml

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Cabo de guerra

Nós, em dupla, pra mim, é uma tortura.
O corpo clama. A cabeça acelera. O instante nunca chega.
Você segura a corda frouxa. Eu seguro cordialmente, evitando colocar intensidade e força. Se eu puxo demais, noto seu peso, sua solidez, não te movo um milímetro. Desisto. Caio, levanto, largo, mas você segue lá, segurando, oferecendo o cabo solto para que eu insistentemente estique, pratique.
Prefiro as brincadeiras livres, que meu corpo não dependa do seu, que minha força não se impacte com a sua. Mas você não cede e segue o jogo do cabo de guerra.

Simone de Paula - 12/4/2019

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Tintos e tangos

Não foi um ato falho, foi um desejo assumido.
Desejo de corpo bailando.
Da familiaridade latina.
Na sonoridade do mestre Astor.
Só isso e tudo isso.


Simone de Paula - 05/4/2019


quinta-feira, 4 de abril de 2019