sexta-feira, 13 de maio de 2022

Labirinto

 

"Meu labirinto é simples."

Essa foi a resposta que dei hoje cedo, depois de ter desenhado um labirinto em que sereias brincavam. 

Desenhei com traços e cores infantis, elementos simples, uma espécie de playground dos seres submarinos e imaginários. Foi uma forma de ilustrar um nome.

Mas, meu censor particular, veio com a frase crítica cheia de autoridade: "esse labirinto tá muito fácil, elas passam livremente, porque ele está muito aberto. Labirinto tem que ser difícil."

Será?

Não, cada um com seu labirinto. O meu é pra brincar, mais para se esconder do que achar a saída. 

Adoro a ideia de labirinto, desde o mito grego de Dédalos e o Minotauro, com Ariadne e Teseu, quanto jardins, desenhos e até jogos de videogame. É lúdico, divertido, brincadeira de esconde-esconde.

São figuras arquetípicas, simbólicas, representações de aspectos internos instigantes. Criações literárias fazendo aparecer condições humanas. Universais na forma e particulares no conteúdo.

A saída está logo ali, mas estar perdida, rodando pelas vielas, é sempre uma forma de encontrar espaços inesperados e surpresas assustadoras ou apaixonantes. 

A vida é labirinto.

Simone de Paula - 12/5/2022

 

 
Labirinto SP 

Labirinto Penpont – País de Gales
 
Palácio de Knossos

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Plexo solar

Dizem que o plexo solar é o centro energético do corpo. Ele rege a potência ativa e produz vitalidade.

Venho ativando um tal fogo interno, mobilizando plantas, frutas e raízes, fazendo alquimia para gerar energia.

"É uma loucura!" como diria Narcisa, o treco faz sua disposição entrar em estado ativo e equilibrado. Librianas, com Lua em gêmeos, piram.

Simone de Paula - 15/02/22

PS - eu podia falar sobre a sexta-feira da paixão, mas já estou na renovação

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Por via das dúvidas

Essa expressão, 'por via das dúvidas', é muito interessante mesmo. Caminhando pela incerteza, encontramos formas de nos certificar. Garantias não há, mas algumas definições podem existir.

Hoje fiz meu primeiro teste de covid desses dois anos de pandemia. Sintomas de gripe, ou mesmo sintomas atribuídos ao covid, são raros em mim. Então, quando sinto a garganta raspando, a coriza no nariz, ou uma leve dor de cabeça, consigo avaliar que fiz alguma extravagância que se refletiu no meu corpo. 

No final de semana, festival de música a céu aberto, chuvarada, roupa molhada, metrô com ar condicionado 'no talo', aglomeração e voilá, sintomas físicos direto da fonte.

Prevenida, com máscara quando subia o ar quente e úmido da proximidade dos corpos, mas pouco sono e muita exposição garantiram as manifestações orgânicas indicativas de gripe ou covid. 

Por via das dúvidas, fui fazer o teste. Farmácia, perguntas, cutucada no nariz, lágrimas nos olhos, funga-funga e voilá, negativo.

Foi mais para resguardo daqueles com quem convivo, porque me sinto bem, mas valeu, diante de uma pandemia, a gente passa por todas as experiências.


Simone de Paula - 01/04/22

sexta-feira, 25 de março de 2022

Reformar pra não mofar

Essa frase aí do título foi escolhida para impulsionar o desapego.

A vontade de mudar, fazer, acontecer, fica fácil no campo das ideias e das virtualidades. Um movimento veloz e satisfatório que garante não abrir mão de nada. E isso traz segurança e ao mesmo tempo, frustração. Quanto mais recursos, dependendo da disposição de gastá-los, menos realizações de fato.

Tirar daqui e por ali fica fácil. 

Tirar daqui e jogar longe, sem saber onde vai cair, é possível.

Agora, escolher onde descartar, o que se tira daqui, isso parece o mais difícil.

Nessas, a umidade (interpretando livremente a Marie Kondo), a emotividade sobre as coisas vai transformando tudo num ninho esverdeado de mofo. Se proliferam, crescem, cheiram mal, afastam a satisfação de outrora. Decadência.

Por essas e outras, o desejo pelo diferente, ou o igual disfarçado e renovado, pode ser a melhor pedida para encontrar novos cestos de despejo. 

Seguimos nessa grande reforma do mundo, incessante, como no nosso pequeno reduto, nossa casa.


Simone de Paula - 25/3/22

sexta-feira, 18 de março de 2022

Olha a onda! Aonde?

"Estive fora uns dias, numa onda diferente..."

A música do Paralamas do Sucesso, naquele ritmo meio reggae, meio rock, anuncia esse momento.

Sou dos anos ímpares e dos segundos semestres. Então, anos pares tendem a ser cheios de vontade de viver anonimato, vida caseira, paradas.

Sigo assim.

/Simone de Paula - 18/3/22

Uns dias

sexta-feira, 4 de março de 2022

Lua também?

"Lua também interfere na alimentação? Essa eu não sabia. Mais uma!"

Pois é amigas e amigos, tudo interfere em tudo. O mundo é um assombro. 

Ontem mesmo eu vinha caminhando à noite rumo à minha casa. Não voltava do trabalho, como poderiam pensar, vinha mesmo da cartomante. 

Ando com uns probleminhas na cabeça, não paro de pensar em futilidades. Coisas do tipo: o botão que liga o gás do fogão, a chave da porta da frente, o trinco da janela. Essas bobagens que me pegam e eu sinto que vou escapar deste mundo. Tem vezes que alguém poderia me raptar, entrando direto pela porta da frente. E outras, é mais sobrenatural, como um espírito me puxando janela abaixo. Nessas horas, eu como. Enfio uma castanha na boca, mastigando forte, afiando os dentes. Não menos frequente é a barra de chocolate, arma certa contra a maldade, tamanha docilidade contida naqueles quadradinhos macios. 

A cartomante me olhou de cima abaixo, logo que entrei na sua salinha impregnada com cheiro de incenso. Acho que usam isso mais para dar a impressão de um lugar místico, de contato transcendente, do que realmente fazer algum efeito físico no ambiente. Mas, o cheiro estava lá, marcante e inesquecível. Se tinha alguém na sala além de nós, era aquele corpo olfativo. Madame Mauva, esse era o seu nome. Não conseguia me concentrar nas cartas, porque o nome dela rolava na minha boca, eu repetia aquele ditongo: au, auuu, au. E, ao mesmo tempo, pensava na cor do esmalte, naquele rosa beirando a cor da uva. MaUVA. 

Ela me tirou desse looping perguntando o que me levava à consulta. Eu disse do probleminha na cabeça. Ela me olhava fixamente enquanto embaralhava as cartas, como se me scaneasse de fora pra dentro. Incômodo, mas eu estava lá para alguém me decifrar mesmo, então, deixei. Fiquei paradinha para evitar a confusão do espectro espiritual, caso eu mexesse demais meu corpo.

Ela colocou o baralho na minha frente, e eu já fui com a mão para cortar, quando ela me impediu. Se antecipou colocando a mão dela sobre o monte de cartas e disse: espere! Era serena e ao mesmo tempo profunda. Quanto mistério. É preciso curso de teatro para esse ofício de cartomante, né, porque se não tivesse todo esse protocolo, talvez as palavras não tivessem tanta importância. 

Eu fiquei com a mão no ar, esperando. Ela levantou e foi até a janela. Olhou para o céu e meditou por uns segundos. Deixou a sala em direção à cozinha e eu resolvi abaixar minha mão. Coloquei no colo, como uma boa religiosa faria. Sei lá, a gente vive fazendo essas poses como se isso significasse alguma coisa, né. Nesse caso, eu tentava ser respeitosa com as forças astrais para elas me ajudarem na resposta que eu precisava daquele oráculo.

Ela voltou com uma xícara de chá, verde bem suave, perfumado. Trouxe também um pires com alguns biscoitinhos de especiarias e casquinhas de laranja cristalizada. Arregalei meus olhos e quase já fui aceitando a comida quando lembrei que ela me ensinou que devo esperar. Me contive. Ela então me ofereceu aquelas guloseimas e solenemente falou: coma primeiro, depois você coloca a mão no baralho.

Provei o chá e depois peguei o biscoito. Comecei pelo chá porque eu quis dizer que não era gulosa e só estava pensando naquela massinha doce e crocante. A gente sempre deixa o que quer para depois, santa inquisição! Provei tudo, mas me contive, não repetir a dose. Ela então, empurrou o baralho na minha direção e ordenou: corte!

Ela olhava as cartas sorteadas por mim com olhar intrigado. Analisava cada detalhe como um cientista no microscópio. Silenciosa, sem expressões faciais, me deixou esperando. Rompeu o silêncio dizendo que era Lua cheia e o apetite estava em alta, por isso tinha me oferecido as guloseimas, para acalmar meu espírito faminto antes dele encontrar o caminho do destino. Eu sorri e perguntei: mas lua tem a ver o que com isso? Ela sorriu e respondeu algo que me fez todo sentido do mundo, só que não, "Tudo!"

Me disse que eu estava assombrada por viver sob tantas restrições. Qua eu não podia nada na vida, pois tudo tinha que ter uma explicação ou uma finalidade e isso tinha me tornado uma pessoa muito amarga e agressiva. Que o momento agora era de permissão. Eu ouvi e quando ia perguntar o que isso significava ela me interrompeu e encerrou a consulta de forma lacônica: vá para a casa, olhe para a lua e volte daqui 3 meses. A lua te dirá o que deve fazer.

Saí frustrada, me sentindo boba. Seria melhor ter ido a uma casa de chá, pelo menos eu comeria tudo que me servissem. Diante desse pensamento percebi que eu queria mais e não peguei. Andava na rua  repassando mentalmente o acontecido, como contei para vocês, e olhando o céu, mais especificamente aquela lua gigante, clara, que fazia a noite parecer dia. 

Cheguei em casa e não tinha nem chá, nem biscoitos, mas tinha laranja. Descasquei as tirinhas e fiz um cristalizado de açúcar nelas. Chupei aquela fruta fresca com vontade e fui dormir. 

Simone de Paula - 04/03/22









sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Sedução

Presença insistente e em silêncio que me desafia nas minhas certezas, me derruba do meu platô, me lança no desconhecido.

Simone de Paula - 25/02/2022

Como sugestão de uma colega de pesquisa sobre o tema da sedução, segue a poeta argentina Alejandra Pizarnik

só a sede
o silêncio
nenhum encontro
cuidado comigo amor meu
cuidado com a silenciosa no deserto
com a viajante com o copo vazio
e com a sombra de sua sombra

 8 Poemas de Alejandra Pizarnik 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Não dependa de mulher!

Cidinha recebeu o diagnóstico de uma doença terminal. A informação caiu como uma bomba sobre sua cabeça, mas ela não teria tempo de sofrer e se lamentar, só teria tempo de orientar melhor o filho, Olavinho.

Depois do término do casamento com Cláudia, Olavinho tinha voltado a morar com a mãe. Namorando aqui e ali, dividia com ela suas questões amorosas e também contava com ela para cuidar dele.

Cidinha passava partes do dia muito meditativa, introspectiva e nostálgica. Lembrava dos pais, das frases ouvidas, das histórias vividas. Mas, uma frase era a que mais aparecia, era uma sentença de fato: "não dependa de homem!" Imperativa, negativa, chegava de todos os lados, da mãe, do pai, tias, enfim, era o mantra para as mulheres de sua geração. E ela obedeceu prontamente, porque ela não tinha dependido de ninguém. Quando cansou do pai de Olavinho, tratou de mandá-lo embora de casa. Mas, se viu dependente do amor do filho e foi avaliando quantas dependências tinha criado na vida. Realmente, financeiramente nunca dependeu, mas no quesito emocional, na necessidade de reconhecimento, ou ainda de conhecimento, ela dependia e muito. Mas agora era tarde, e a tão desejada independência total tinha chegado: morreria em breve!

Decidiu que ela precisava mudar um pouco o rumo das coisas. Seja porque tinha medo do filho sofrer, seja porque tinha carregado um pouco dos ideais feministas no peito. Cidinha resolveu incutir em Olavinho a sentença que tinha recebido. Era a melhor herança que ela poderia dar a ele e também colaboraria com as mulheres que pudessem aparecer na vida dele.

Começou a dizer diariamente para o filho: "Olavinho, não dependa de mulher!"; "Isso é a pior coisa que pode acontecer, porque você vai ficar na mão delas." E com essas frases, ela ensinava o filho a cuidar dele mesmo, das roupas, comida, cuidados de organização. Planejamento, investimento, intenções de conquistas futuras. Dicas de estudos, passeios, possibilidades de vida. 

Olavinho estranhava a conduta da mãe, que nunca tinha feito isso, muito menos insistido na frase "não dependa de mulher!", mas ele lidava numa boa com os momentos juntos que tinham. Era curioso que ele se sentia mesmo mais estável emocionalmente, sem precisar imaginar em cada mulher que via uma potencial parceira. 

Poucos meses se passaram, Cidinha foi ficando mais fraca e contou ao filho que estava morrendo. Ele quase se desesperou, mas entendeu o que a mãe vinha fazendo com ele. Cuidou dela, dando atenção e o que ela precisava. 

Ficou quase um ano de luto, refazendo a vida, organizando as coisas, colocando em prática a sentença que a mãe lhe deu. Começou um novo namoro, mas ainda conservava o amor pela ex-mulher. Decidiu que a reconquistaria, para poder lhe dar o melhor dele. Acompanhava a carreira esportiva dela à distância e sabia em que clube ela jogava. Foi atrás, conseguiu a atenção dela. Disse que podia esperá-la. Dois anos se passaram e Olavinho e Cláudia conseguiriam se reunir de novo. Ela estava mais madura, já pensando no que faria profissionalmente quando parasse de jogar. Ele a apoiava. Decidiram aumentar a família, com filhos, gato e cachorro. Cláudia conversava com Cidinha diariamente, agradecendo o que ela tinha feito pelo filho e, por extensão, por ela. 

É isso, ensinar aos meninos a "não depender de mulher!", e nem de homem!!!

Simone de Paula - 18/02/22

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Suor e lágrimas

Olavinho foi um bebê muito chorão. Desde que saiu da maternidade, vivia com lágrimas nos olhos e grito na garganta. A mãe, Cidinha, achava que podia ser fome, e como ela tinha muito leite, vivia com ele pendurado no peito. Era a única coisa que fazia Olavinho parar de chorar.

Na hora do desmame tardio, Cidinha teve muito trabalho, porque o menino a mordia e não queria deixar de mamar, mesmo com os dentes crescidos. A mãe conversava, explicava, e o menino aceitou, em meio a soluços.

Olavinho cresceu, arranjou namoradinhas, mas vivia nostálgico com aquele peito de quando era bebê. E as meninas, não gostavam muito daquela obsessão.

Quando conheceu Cláudia, que era jogadora de vôlei, Olavinho pirou. Ele assistia todos os jogos e fazia questão de levá-la pra casa após as partidas. Notou que com Cláudia a obsessão dos peitos tinha diminuído, mas ele não entendia o por quê.

Ele a via jogar, saiam de lá direto pra casa dela, ela tomava banho e depois saiam para um programa de namorados. Tudo funcionava bem. Olavinho pensava que ela seria a mulher da sua vida. O namoro durou bastante, porque ele não precisava atacar os seios da moça. E nem ela  precisava rechaça-lo ou se incomodar com a insistência.

Depois de mais de dois anos juntos, Cláudia recebeu uma oferta para jogar em outra cidade. Time maior, com patrocínio. Ela ficou muito animada e Olavinho também. Porém, a rotina que eles tinham mudou. Ele não conseguiria ver todos os treinos, apenas os jogos. E, como no final de semana ela não treinava, Olavinho só a encontrava 'de banho tomado'. E, com isso, a obsessão voltou.  

Cláudia não entendia a mudança de comportamento do namorado. Se incomodava, se sentia perturbada com aquela conduta. Ele tentou explicar que isso era uma característica dele e que não queria perdê-la por isso. 

Tentaram seguir o namoro, Olavinho ainda estava intrigado como uma hora ele tinha a obsessão pelos peitos e em outra hora, não tinha mais. Resolveu passar as férias com ela, levá-la nos treinos, retornar a rotina de antes. Depois de menos de uma semana, ele já sentia uma paz diante do corpo da namorada. 

Na quadra, Cláudia era bastante discreta, afinal, o uniforme disfarçava os seios. Mas fora de lá, ela adorava decotes. Ele notou que quando ela entrava no carro, suada do jogo, ele sentia um alívio. Lembrou de quanto ouviu que ele tinha sido um bebe chorão que parava só quando mamava. Essas memórias o levaram de volta lá nos tempos de infância, quase sentiu no cheiro do suor da namorada o cheiro da mãe. Fechou os olhos e entendeu no mesmo instante o que tanto queria dela. 

O relacionamento deles durou mais dois anos. Tinham casado, mas Cláudia não queria ter filhos, investia na carreira esportiva. Foi convidada para ir para fora do país e Olavinho não quis acompanhá-la, ele não poderia deixar a mãe em definitivo. Se separaram e ele busca uma nova mulher que possa aceitar as particularidades dele.

Simone de Paula - 11/02/2022





sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Nostalgia

Se falta inspiração, investe na transpiração.

Esses dias têm sido assim, sem muita vontade de colocar alguma coisa em palavras. Um tanto já foi dito, mas não completamente registrado. Ainda assim, parece que falta o motivo para seguir dizendo.

Nas últimas semanas assisti documentários, relembrando alguns ídolos da música, coisas que eu escutava e que me transportaram para o passado. Aquele ar de nostalgia.Tive vontade de voltar lá atrás como quem sou hoje, porque possivelmente algumas coisas seriam diferentes.

Ouvi uma anedota ontem, sobre o diabo garantir que se alguém pede pra voltar no tempo, ou pra ficar vivo diante do encontro com a morte, faria tudo igual. Talvez. Mas admito, depois de um processo de análise, difícil fazer o mesmo, visto que já nem se é o mesmo. Aquela habilidade de fazer as coisas de determinado jeito, se foi, não dá mais pra repetir. 

De qualquer forma, eu só pensei que queria uns dias lá atrás, talvez para fazer melhor algumas coisas, outras apenas fazer diferente, ter vida nova dentro da mesma.

Segue o fluxo, enquanto ele se faz transitar. Pare, quando for tempo de parar.


Simone de Paula - 04/2/2022

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Vagas abertas

Estamos caminhando para o fim da pandemia, dizem os especialistas. Que seja, tomara!

Quando tudo isso começou, susto, reação imediata, invenção de novos modos de vida, suspensão das práticas rotineiras, etc. Tudo isso foi vivido intensamente, num curto espaço de tempo.

Mas, o tempo foi passando, as escolhas foram sendo feitas, alguns se afundando e outros arriscando fazer o que adiavam por motivos variados. Consequência: todo mundo mudou um pouco, a si e a vida.

Porém, um sentimento me acompanha há uns meses e cresce. Perdi contatos.

Não que meus amigos / amigas tenham morrido, longe disso, mas foram para outro lugar. Mudaram de cidade, país, se distanciaram. Nossos programas, nossas conversas, diminuíram até quase acabar. Sinto falta, muita. 

Vivo um misto de luto por isso e o desejo de abrir vagas para novas amizades. Meu ofício diário me proporciona interações íntimas, mas numa relação neutralizada. Então, convivo diariamente com muitas pessoas, mas distanciada desse tipo de relação.

Fazer amizade na vida adulta não é tão fácil como na juventude. Não concordo muito com isso, porque já fiz muitas e sei que farei mais um monte. Pessoas com quem se trabalha (perdi essa), colegas de grupos de estudos, amigos de amigos em encontros, parceiros de academia, gente com mesmos gostos e hobbies, um monte de oportunidades. Eu gosto de gente, com qualidades e defeitos, que chamo de características. Gosto de humanos, trocas, incômodos e prazeres. E, gosto de vida real, que pode ser fantasiada e realizada. Sou da ação: "vamos tomar um café?", "só se for agora!"

O distanciamento social, com os estados ansiosos, depressivos, amedrontados e com excessos de trabalho, dificultou a conexão presença real e física. Já fiz algumas amizades pelas redes sociais, acredito plenamente que essa ferramenta possibilita muitos encontros improváveis sem o uso dela. 

Os traços do nosso tempo, os impedimentos do despertar de Eros, provocando a curiosidade pelo outro, a exigência em mudar o mundo e criticar ou ter opinião sobre tudo o tempo todo, isso tudo promove uma grande desconexão.

O fato é: as vagas aqui estão abertas para novas amizades. Se o ditado é: 'Joga pra cima que cai na cara!", 'joga pro universo que ele te traz de volta!', tá aqui meu tiro, lançado pra cima, vamos ver o que cai na minha rede.

 

Simone de Paula - 28/1/2022



sábado, 22 de janeiro de 2022

Tudo na vida...

"Tudo na vida começa com um sim"... e termina com um chega!

A citação da 'hora da estrela', acompanhada de um desabafo, me fez marcar o início do texto e passar a sexta-feira envolvida em letras e escrituras, me perdendo do meu próprio ofício.

Da escrita do Outro à minha grafia, perdi o prazo, escorreguei, mas levantei deslizando por essas linhas.

Tá aí, mais um escrito para cumprir o protocolo.

 

 

Simone de Paula - 22/01/2022

PS - acho que eu queria mesmo era fazer no 22-22

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Ella

Ella ganhou esse nome porque a mãe tinha realizado o sonho de ter uma menina. 

Na infância fazia certa confusão quando ouvia o seu nome, era alguém lhe chamando ou apenas usando só o pronome feminino. Mas aprendeu a modular isso. Adulta, pensava que a mãe tinha sido exagerada nessa escolha, pois era uma família que tinha muitas mulheres e ela era filha única. Mas a gente ganha nome e tem que seguir com ele.

Se por conta de ter que lidar com essa especificidade entre o nome e o pronome, por gosto mesmo ou falta do que fazer, Ella pensava muito. Uma cabeça que não parava. Não era nenhum mal, mas também não ajudava muito, pois cada tarefa exigia um tempo longo de execução, porque entre um movimento e outro, tinha a dispersão pelo pensamento que ia longe. 

Na infância, ficava pensando na brincadeira, antecipando o que ia fazer. Adolesceu e passou a ficar imaginando o que acontecia com colegas e ídolos fora do seu campo de visão, a vida deles era uma festa. Começou a trabalhar e não conseguia estar no dia certo do calendário, porque vivia pensando nos eventos mais importantes. Sim, ela se atrasava muito para as coisas, ou deixava de fazer. 

O começo do namoro com Maurício foi um sofrimento, porque com o pensamento veio o sentimento. No começo era saudade e depois, ciúmes. Ella não tinha sossego.

Começaram a falar em morar junto ou casar, ela se angustiava muito em pensar como levaria trabalho, casa, marido, tendo que dividir as atenções. Mas Ella não deixava de viver, apenas funcionava em duas bandas, uma no mundo presente e outra no pensamento paralelo.

A vida se complexifica, muitos temas acontecem simultaneamente e adultos precisam administrar tudo muito bem. É por isso que perdem desejo, curiosidade ou mesmo criatividade, porque ter a cabeça em muitas responsabilidades exige disciplina, coisa pra estoico.

Nesses dias encontrei Ella, que me contou que estava com a cabeça vazia. Disse que tinha perdido os pensamentos. Não se sentia mal, mas não sabia onde encontrá-los. 

O resumo da história é que ela tinha feito umas práticas novas de esvaziamento da mente, que vinha tentando formas de sair da exaustão mental há meses e nada adiantava. Essa tinha dado certo. Não sabia como, mas parece que tinham desligado o botão. Perguntei se ela andava esquecendo das coisas, preocupada com algum  problema neuronal, mas ela disse que não, que aquilo é que era o mais doido, a cabeça ficava desligada, como uma televisão, quando você liga, tem que escolher um canal e assim que é, quando liga, que é quando precisa pensar em algo, escolhe o quê e pronto, voilá, não fica mais exausta,

Me pergunto, desde esse encontro, se eu quero também desligar minha tv.


Simone de Paula - 14/1/22


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Tapete mágico

Nossa, o dia passou tão rápido. Só agora me dei conta que eu nem tinha escrito nada aqui.

Queria compartilhar uma coisa linda que vi pela manhã, passeando pelo pinterest. São composições artísticas de um iraniano, com tapetes, elemento mais do que decorativo, altamente simbólico na cultura persa e árabe. Os signos contidos na tapeçaria indicam uma cenário, próximo aos ambientes domésticos. Como os quimonos para os japoneses. 

O artista Babak Kazemi escolheu uma história famosa, de um casal de amantes, Shirin e Farhad. Ele subverteu tanto a narrativa, quanto o ambiente. Resultado: essas imagens lindas. 

Eu adoro composições e colagens. O que ele faz é mágico, como os tapetes voadores dos contos das Mil e uma noites. Alladim, minha história preferida.

Não nego todas as questões que envolvem a ditadura religiosa em que se encontra hoje o Irã, nem mesmo a opressão às mulheres atribuídas às palavras de Allah, deus islâmico. Mas esse trabalho, assim como tantos outros de escritores, cineastas, artistas plásticos, mostra a imensa criatividade e inventividade com que os orientais expressam seu simbolismo e sua mitologia.

Divirtam-se!!!

Simone de Paula - 07/01/2022


http://www.silkroadartgallery.com/portfolios/exit-of-shirin-and-farhad/