sexta-feira, 26 de agosto de 2016

o peixinho nadador

Era uma vez uma moça que adorava peixinhos.. comprou um e levou pra casa.Ela fez um aquário bem bonito e o peixinho nadava muito feliz. . Um dia,  ela teve que deixar a casa que ela morava às pressas e nem lembrou do aquário.. O peixinho ficou lá, sozinho, nadando naquela água parada .. O dono alugou a casa pra outra moça e perguntou se ela queria o peixinho.. Essa nova moradora era mais doidinha e quis ficar com o peixe, mas resolveu que ele precisava de mais espaço pra nadar. Colocou o peixinho na banheira. O peixinho ficou muito feliz, tinha toda aquela água pra explorar. E o mais surpreendente é que nem o peixinho e nem a moça sabiam que ele podia crescer.. Ele nadava feliz e ia crescendo, crescendo e virou um peixão. A nova dona quis mimar o peixinho e colocou a banheira no jardim, assim ele sentiria o calor do sol, o frescor do ar, o brilho da lua e das estrelas, como se estivesse no mar. Peixão feliz, moça feliz, muita água pra nadar e histórias pra contar.

Simone de Paula - 23/8/2016

Obs. Esse conto será desenvolvido na próxima semana.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Ponto de vista.

Não posso falar pelos outros, tampouco sentir. Eu sempre falo do meu lugar, invariavelmente a partir do meu olhar e da minha experiência. E isso em várias situações é pouco. Muito pouco para compreender o mundo. Tenho descoberto que a única forma de conseguir alcançar outros mundos é não me fixar demais no meu. É olhar profundamente para si e perceber que esse exercício pode me trazer uma única referência, nunca uma única verdade. Porque no fim, entender que do outro lado existe alguém sentindo um monte de coisas como você, é um belo saber.

Carla - 23/08/2016

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O crime do rei

Era uma vez um rei que vivia moribundo na torre do castelo. Ele estava trancado há tantos anos naquele lugar que nem sabiam mais que idade tinha, mas o motivo da prisão era relembrado todo ano, no dia da entrada da primavera.
O rei não manifestava sua presença, ninguém ao certo sabia se ele ainda vivia. Mas a bandeira vermelha estendida na janela no primeiro dia de primavera fazia todos acreditarem que ele ainda estava lá.
Desde a ocasião da prisão do rei, o castelo ficou mais soturno, vazio e silencioso. O trânsito era apenas de serviçais levando e trazendo alimentos e notícias de fora.
Certa manhã, uma caravana se aproxima da cidade e deixa todos em polvorosa. Lá de dentro sai um rapaz acompanhado de um padre. Dirigem-se para uma estalagem e perguntam sobre o castelo e o rei. O estalajadeiro, vivido e esperto, não explica muito bem o que acontecia ali, mas oferece uma bebida quente, afinal, ainda estavam no final do inverno. Os viajantes aceitam e pedem um quarto para passarem a noite e um prato de comida. Adélia chega com sopa de cevada e porco assado com batatas. Os dois a olham, agradecem a refeição e pedem mais bebida. Quando ela vem servir, frei Orlando pergunta sobre o castelo e o rei. Adélia é jovem, simpática e conversadeira. Logo vai contando a história. 
- Sabe, o rei cometeu um crime grave. Quando souberam, logo o prenderam na torre do castelo. 
- Mas que crime ele cometeu? Perguntou o frei curioso.
- Ah, ninguém sabe direito como foi, mas no último dia do inverno, ao cair da tarde, o rei saiu para dar um passeio com seu cavalo. Ele cavalgava muito bem e adorava ver anoitecer em cima do cavalo. Mas naquela noite, ele sofreu um acidente, caiu e machucou a perna. O cavalo o deixou ali e fugiu, não se sabe por que, mas o rei, voltou de lá transtornado, faminto e com a roupa toda rasgada. Alguns dias depois disso, ele foi condenado. O rei virou réu. Está lá, confinado até hoje.
- Mas porque o rei foi condenado por cair do cavalo? Perguntou Inácio, o rapaz que estava com eles.
- Aí é que ninguém sabe. Mas o estado em que o rei voltou não esconde que um crime foi cometido por ele, disse Adélia, e voltou para a cozinha depois do grito forte do pai, o estalajadeiro.
Frei Orlando e Inácio não entenderam, mas perceberam que algo estava mal contado nessa história.
Dormiram aquela noite, pois a viagem tinha sido longa. No dia seguinte, foram até o castelo e tentaram agendar uma audiência com o rei, para ver o que diriam os serviçais. A resposta foi bem discreta:
- o rei está adoentado e não poderá recebê-los.
Intrigados, deixaram uma carta com o serviçal e pediram que a entregasse. Na carta, Inácio dizia que acreditava que o rei estava sofrendo de um tipo de doença mágica e que ele saberia curá-la. Informou onde estavam hospedados e que ficariam por ali até os primeiros dias da primavera.
Voltaram para a cidade e perceberam que algumas pessoas pareciam estar sob um efeito hipnótico, pois não falavam muito sobre o tal crime, apenas o antes e o depois. Entre a queda do cavalo e a aparição do rei, ninguém sabia de nada. E pior, nem sabia porque tinha sido condenado.
Os dias passaram e nenhuma resposta do rei. Eles já estavam ficando sem esperança de conseguirem encontrar o monarca. Caso a primavera chegasse e não tivessem falado com o rei, deveriam deixar a cidade.
Mas, chegou o tal último dia de inverno. As pessoas estavam agitadas, ansiosas, como se esperassem algum tipo de acontecimento. Inácio deixou o frei descansando a tarde e resolveu dar umas voltas nos arredores da cidade. Sozinho, foi cavalgando, pelo caminho mais seguro e aberto. Notou que perto de um riacho, haviam casas muito simples, aparentemente abandonadas. Se aproximou delas e resolveu olhá-las por dentro. Eram três casas, separadas por um belo jardim. Notou que não eram jardins comuns, mas um era de ervas, outro de flores e o último de frutas. Percebeu também que tinham muitos insetos no jardim, causando até asco, pois pareciam possuir aquela flora., sem controle. Chamou, mas ninguém atendeu. Logo na entrada da primeira casa, se deparou com sua imagem, se assustou. Tinha ali um espelho gigante que impedia que se passasse para os outros cômodos. Ficou atônito e saiu. Na segunda casa, entrou e percebeu tudo vazio, sem mobília, com as janelas abertas, como se fossem apenas paredes. Andando distraído, sentiu um desequilíbrio. Notou um buraco no chão, tinha um poço dentro da casa. Ele quase caiu ali. Assustado, saiu rápido. Mas não poderia deixar de olhar a casa seguinte. Entrou e parecia uma casa normal, confortável, com cheiro de comida fresca e lareira acesa. Teve vontade de ficar ali, repousar, passar o resto dos dias naquele ambiente. Sentou-se, fechou os olhos e percebeu um ar suave. Ao fundo ouvia uma música agradável, na voz mais bela que já tinha escutado. Os pensamentos o envolviam e o corpo dele parecia ficar anestesiado. Tudo era tão bom que não poderia ser verdade. Um pensamento breve atravessou aquele estado inebriado: 'o rei virou réu'. Inácio pulou da cadeira e tentou sair correndo dali. Mas quando tentou abrir a porta, percebeu que estava preso. A casa começou a mudar, escurecer, envelhecer. Inácio começou a gritar por ajuda e tentar sair dali.
Ele entendeu que o rei tinha passado por ali, pois se via quase enlouquecendo naquele ambiente. Mas como sairia de lá?
Não ouvia nada, estava preso, confinado, sozinho, apavorado. 
Quando o frei acordou, notou a falta de Inácio e viu o bilhete sobre o passeio. Frei Orlando sabia de algumas feiticeiras na região, mas nunca tinha falado delas para Inácio. Ficou apavorado em pensar que o rapaz poderia encontrá-las e ser aprisionado. A noite caía, mas o frei seguiu os passos do rapaz. Chegando à beira do riacho viu as casas e a festa das feiticeiras diante de uma linda fogueira. Elas riam e cantavam por terem encontrado um novo ídolo para as próximas primaveras. O velho rei não servia mais e agora teriam mais força e energia com aquele jovem e belo rapaz.
Frei Orlando interrompe a festa, tentando se proteger das feiticeiras com palavras mágicas. Elas não aceitam aquela presença e o expulsam. Ele sabe que se elas quiserem, ficam com o rapaz e ainda o impedem de qualquer ação. Decide apelar para a última possibilidade e grita desesperado:
- Inácio é de linhagem real!
As três param para ouvir melhor.
- Inácio é filho de uma de vocês com o rei. Concebido naquela noite e enviado para ser criado fora da cidade. Ele voltou para encontrar sua história e agora vocês querem aprisioná-lo.
As três se olharam e refletiram sobre aquela informação. Da casa do espelho sai uma feiticeira mais velha e ordena que parem o ritual. Ela olha para o frei e o chama para vir mais perto. Quando ele chega, ela o autoriza a pegar Inácio. E diz apenas uma frase:
- Leve-o para junto do pai. Eu libero o rei e toda a cidade do feitiço. Avise-os para não se aproximarem demais daqui novamente.
Frei Orlando volta e nota o castelo com as luzes acesas e uma grande festa de primavera acontecendo na cidade. Inácio, sem lembrar de nada, é apresentado ao rei como seu filho e herdeiro e assume seu lugar ao lado do pai.

Simone de Paula - 19/8/2016

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Alquimia

Para marinar:

Frango
Limão
Cúrcuma
Pimenta moída vermelha
Pimenta do reino
Sal
Garam Masala
Azeite
Alho amassadinho
Pau de canela
Coentro ou salsa ou tomilho ou cebolinha ou o que goste de colorir

Dentro do saquinho, tudo junto, acaricie as especiarias
Descanse por duas horas, deixe o sabor se construir
Forno, uma hora
Uma amanteigada quando secar

Azedinho, dourado, macio, fabuloso


Uma boa refeição preparada pelas memórias, alimenta o presente,  acalma o coração, abraça a ternura, convida para ficar.

Maria Laura

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Um susto

Foi um susto. Me mantive parada, meu corpo entrou em modo de alerta e parecia que a qualquer momento teria que fugir do perigo. Estava sem ar e não sei por quanto tempo fiquei assim. As lágrimas cobriram os olhos em segundos. E as palavras sumiram, não conseguia falar. Mas, sentia. Apenas sentia.
Senti intensamente que estava viva e que em um segundo isso poderia mudar. Senti que as coisas não eram definitivas e que me distraí demais com bobagens. Senti que o fim poderia acontecer a qualquer tempo. Senti uma imensa tristeza escutando a história do fim da vida daquela menina. Não a conhecia, mas senti o seu fim. Pensei que o fim poderia vir apenas quando cada um estivesse pronto, mas não. O fim não vem como pensamento. O fim é sentido muitas vezes como susto.

Carla - 16/08/2016

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O Canto


Freqüentava as missas religiosamente aos domingos. Desde cedo, tinha sido orientada a seguir toda a ritualística que envolvia aquele sistema de fé.
Chegava à Igreja e sabia onde sentar, como se comportar, que cara fazer ao rezar e a postura certa na hora de comungar. Era uma pequena católica.
No cerimonial mais caprichado da missa principal do domingo, os cantores do coral soltavam a voz e inundavam o templo com a potência encantadora daquela melodia. Ela acompanhava tamborilando alegremente no assento do banco de madeira. Olhava profundamente para os vitrais que se iluminavam sob a luz do sol e sentia as notas penetrarem na sua alma.
Na adolescência, pensou em ser freira, almejava o sentimento de plenitude que experimentava durante as missas. Desistiu, imaginando seguir a carreira de cantora, ou instrumentista.
Estudou muito e entrou na faculdade de Música. Aprendeu a tocar instrumentos, conheceu biografias e teorias de grandes mestres do universo sonoro, vivia animada com a possibilidade de ser capaz de produzir em si mesma aquele sentimento que conhecia desde a infância.
Treinava muito, todos os dias, mas não conseguia sentir aquilo que imaginava e lembrava. Acreditava que isso acontecia pela inexperiência, ainda era aprendiz.
Ela não falava nem para a família e nem para os professores ou colegas musicistas, mas vivia frustrada, decepcionada, pela falta que sentia no peito, na alma.
Tentava chegar aos nomes daquele sentimento como forma de poder se apropriar dele. Êxtase, amor, paixão, inspiração, entusiasmo, encanto, deslumbramento, enlevo, arroubo, arrebatamento. De pensar em cada um, experimentava novamente o que tinha sentido.  Mas como era possível ela não atingir nenhum deles enquanto tocava a música que mais amava, ou cantava no tom mais sutil que poderia conseguir?
Obstinada, tecnicamente se tornou muito boa. Talentosa, afinal vivia por uma paixão, foi convidada para participar de um festival de inverno. Ensaiou muito e estava ansiosa para ver se diante do público poderia ser tomada novamente.
Mas a vida é mesmo uma pregadora de peças e ela, a dez dias do festival, pegou um resfriado forte, seguido de dor de garganta, tosse e febre. Nos primeiros dias da doença, se sentia entregue a um som, totalmente inebriada por um bálsamo sonoro. Era sonho, delírio ou realidade?
Foi ao médico, precisava melhorar e retomar os últimos ensaios. Lá, na sala de espera, bastante lúcida pela apreensão em que se encontrava, começou a ouvir uma música vinda da casa ao lado. Parecia um ensaio, uma aula. Sabia que dali alguém cantava e seu corpo começava a ser afetado, animado, excitado. Aquela voz grave do cantor, assumindo com força a bela canção italiana, permitiu a ela perceber que nunca, jamais, o êxtase poderia ser produzido por ela mesma. Era no encontro com o outro, na surpresa do desconhecido que o arrebatamento pode se dar.
O reconhecimento a tranqüilizou. Pensou que se ela sentia isso no encontro com o outro, sua habilidade musical poderia produzir também aquilo em mais alguém. Como por encanto a dor passou, a garganta nem mais parecia raspar. Ela suspirou e decidiu: serei uma musicista!


Simone de Paula - 12/08/2016

Inspirado na bela canção italiana cantada em voz grave todas as tardes da semana.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sem fim

Eu estava calada, disse.
Foi você quem insistiu na resposta que eu não poderia dar.
Pedi meu silêncio, não por vontade, mas pura necessidade, não tinha que ser diferente.
O caminho era estreito, ainda assim foi.
Depois de chegar, precisávamos checar os mapas para que nos perdêssemos mais uma vez.
Dali então eu seguiria, mas agora contigo.
Me deixe respirar, a fonte me disse que é inspiração.
Teremos diálogos depois, logo. Infindáveis.
Vamos trançar falas e tecer remendos feridos, para uma noite de sono suave.
Sei: a minha cidade mora na sua

Maria Laura

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Haikai

cume se ergue
no bálsamo cinza
da roda sem fim

o leve sopro
transforma a terra
espalha gotas

encanta a voz
que desliza a brisa
e une os nós

Simone de Paula - 05/08/2016

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Contato

Devia ter ido para um lugar diferente, mas não pude, não sabia.
Devia?
Houve um momento, um sinal tocou, um barulho forte demais, eu achava que deveria sumir dali e pegar a mão mais curta.
Deveria?
Só saí andando, nem sei onde estava e até agora ninguém me respondeu. Ninguém sabe.

Não importa mais, se eu respirar com vontade, entendo que estou presente, somente isso cabe agora: reconhecer-se.

Maria Laura

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Como procurar?

Ele morava no mesmo bairro  muito tempo. E todos diziam: ele é a pessoa que mais encontra lugares legais no bairro. Nãotive dúvida. Marquei um papo para tentar descobrir como é que ele mapeava esses lugares e qual era o método para encontrar lugares assim. A primeira pergunta que fiz foi: “Como você encontra esses lugares?” E a resposta foi muito precisa: "Encontrei muitas coisas no bairro em virtude da minha angústia. Os melhores lugares foram encontrados nas minhas andanças no bairro, quando a angústia era tão grande que ficar em casa acabava sendo perigoso. Aprendi  muito tempo que a angústia precisa ser vivida ao ar livre. Não é sentimento para experimentar em um quarto e sala. Ela - a angústia - precisa ser no espaço. Quanto maior o espaço, mais ela fica fluida e talvez o que reste seja uma bela reflexão. No meu quarto e sala, como não havia espaço, ela se condensava no meu corpo e os estragos eram grandes. Levava alguns dias para me recuperar. Então, um dia, descobri que se andasse, sentisse o vento, trocasse olhares com estranhos, prestasse atenção no caminho e colocasse o corpo em movimento, ela virava uma bela pergunta a ser respondida"
Diante da resposta, fiquei ali, quieto e pensativo: “Onde posso conseguir essa angústia?

Carla - 02/08/2016