sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Poesia

Eu queria fazer poesia, mas não sei.

Soube recente, que as palavras da poesia carregam um menos que é mais. E eu lá sei por menos?

Tem ainda aquilo de esconder o sentido. Mas eu acho que o sentido se esconde por ele mesmo, até porque eu não sei o que quem lê vai entender. O difícil é escrever sem imaginar quem vai ler.

E a simplicidade? Conseguir encontrar o simples que não seja nem bobo e nem óbvio, como se de tão evidente, ficasse no intermeio entre o literal e o absurdo. Me inventei complexa. Que bobagem!

Rima nem sempre compõe poesia. Faz música, cria cadência, mas nem sempre toca o ponto de conexão com aquilo lá que é impossível reproduzir. Um fazer poesia sem palavra, mas efeito.

Se um dia virar gente, quero ser poeta.

 

Simone de Paula - 24/9/2021



sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Jogo dos sete erros

Mas afinal, será mesmo que o erro está em mim?

A imagem parece quase a mesma. Não são dois desenhos que se comparam, são três. Porém, como são muito semelhantes (sem ser idênticos, evidentemente), podem ser apenas lidos um a um, sem confusão entre os elementos visíveis e invisíveis que gritam para serem percebidos.

À primeira vista: duas pessoas, frente a frente, sintonizadas por uma posição de acordo e equilíbrio. Sim, vemos as pernas retas com os pés firmes no chão, direcionados um para o outro. Quadris alinhados, mostrando que nenhuma das partes se adianta ao desejo, ou tenta se afastar, evitando-o. Disposição é o termo que cabe. Peitos abertos, mostrando coragem. Queixo seguro com os lábios fechados, como num duelo, nenhuma das partes mostra a emoção do momento. Mas, a verdade, é que temos neutralidade, sem um esboço de sorriso ou descrença. Olhos nos olhos, presença real. Pois bem, tudo aí!

A primeira dúvida: os olhos olhavam mesmo uns para os outros? Eu acho que sim, mas você insinua que talvez não. Suas defesas são sempre orientadas para colocar a ilusão em mim. Talvez. O questionador se arroga a posição de saber. Só que não, nem sempre.

Segunda dúvida: se boca e queixo não esboçam sorriso e nem desacordo, os olhos, aqueles que poderiam olhar uns nos outros, poderiam também indicar algum sentimento, inclusive indiferença. E, mesmo que fosse isso, ainda seria alguma coisa. Mas aí já temos um ponto interessante. Se de um lado eu posso ver interesse (mesmo que poderia ser traduzido como indiferença), o que dá pra ver do outro lado? Como quem olha vê o seu próprio olhar? Como dá pra saber o que se transmite do que se sente quando se olha, se é impossível ver isso? Isso não é nem um erro, é justamente o ponto em que um comunica ao outro: "vi isso em você!" Mas como não temos fala, nem sonora, nem escrita, não teve comunicação.

Seguindo os passos dessa análise, teríamos mesmo coragem dos dois lados? Acho que essa pode ser notada. O peito aberto, elegante, esse sim, mostrava a total disposição. Já do outro lado, os ombros revelaram: era só simulação de liberdade. Num primeiro momento pareciam cansaço, ou até uma roupa com caimento ruim, num número maior do que o que encaixa no corpo. Mas o erro tá aí, tomar pelo ponto central quando foi na periferia que apareceu a diferença. A terceira dúvida se expressou.

Como é possível, lado a lado, a pelve estar tão endireitada? Nada pra frente ou pra trás? Nem um desvio de coluna? Aqui gritou o medo. É justamente o lugar da arma no duelo. Aqui é o tudo ou nada. De um lado poderia até arriscar uma leve oferta, mas e se fosse recebida com recusa? Ou ainda, do outro lado, poderia também ter mostrado que isso seria evitado, mas poderia ser tomado como rejeição. Receio total e completo de mostrar o que é para não ser visto como é, e consequentemente, ter que bancar o que estava em cena. Esse erro, confirma o anterior, a coragem queria ser plena, mas o medo a impedia de se realizar.

As mãos, nem muito percebidas, são aquelas que revelaram total descompasso. Poderia ser entrega e aceite, mas era apenas entrega ao nada. Esse sim, um erro, pois nem foi notado.

A sexta dúvida vai ao chão. Pés firmes, seguros. Dedos mirando os dedos. Mas um leve deslocamento  do calcanhar para o alto mostra, e alguém já está em movimento. E não é um em direção ao outro, mas no jogo lateral do tornozelo, o giro naturalmente já indica a desistência. O movimento é de saída.

O sétimo erro, a sétima dúvida, será que não tinha o que vi à primeira vista? Estava tudo aí, o visto e o revisto. Não dá pra dizer que o que se viu depois vale mais do que o que se viu antes, pois as realidades são múltiplas e abertas a serem interpretadas com o olhar de cada um, em cada momento, de acordo com o que se quer ver.

O jogo acabou, mas valeu!

Simone de Paula - 12/09/2021


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Ondas

 Hoje teve sol. Luminoso, acendendo o dia.

No chão, marcas, dos pés, das conchas e das ondas do.mar.

Brilho na água, acompanhado do barulho delicado das ondas.convidam a esquece o tempo e se entregar.

A areia recém molhada, esculpida em sinuosos montes, se esticava à espera dos passos valores que não esperavam chegar a lugar nenhum, apenas desfilar sob a luz daquele novo amanhecer.


Simone de Paula,- 10/09/2021


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Entrega

Esses dias têm sido do melhor jeito que poderiam ser. A viagem, que geralmente vem repleta de programação, tomou outro rumo. Não precisa saber nem do hoje e nem do amanhã, apenas ir fazendo o que o corpo pede. Fome, sede, movimento, calmaria. Frio, calor, saudade, amor.

O.objetivo era uma entrega, muito valiosa. Uma vez cumprido, era a hora de usufruir do tempo que sobrou. Tempo bom, estranhamente desnecessário, por isso, sem programa.

Ontem foi assim, hoje também. E amanhã idem, por que não?

Simone de Paula- 03/9/2021