sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Restauro

Quem é você?

Onde esteve? Com quem falou? O que fez? 

Levantar os dados da vida dá muito trabalho. Arqueologia pura. 

Lembranças, porque a mente é capaz de guardar muitos dados.

Encontros memoráveis, porque arquivos são capazes de manter as coisas em ordem e te permitir achar o que nem sabia que tinha perdido.

Insistências angustiantes, quando lembrou de uma coisa, por ter encontrado outra, mas não consegue recuperar a primeira. É impressionante a capacidade de se apegar à falta, à ausência, ao buraco.

De tudo que tem, não falta nada. Bendito dito! Mas nossa cabeça de bagre não aceita essa lógica, porque empaca no furo.

E o mais curioso, furo é abertura, pra faltar coisa mesmo, pra dar espaço e respiro. Mas dizem que ele inaugura a existência e com isso, faz a gente emperrar onde não tem nada.

Sim, teve, foi, passou, perdeu. Não vai fazer tanta falta assim, não era imprescindível, porque se fosse, não teria sido perdido, ou melhor, teria sido guardado.

Pegando pela memória, foi assim desde o começo, meio esquecido, meio sem fazer questão. Mas aí, na linha do tempo, a insistência aparece aqui como apareceu lá. E para quê? Por uma vaidade besta.

Deixar pra lá, não se incomodar, porque é a falta que pode faltar e que não movimenta nenhum desejo bom o bastante para se realizar.

Simone de Paula - 03/11/2023