quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A dora

Almoço no domingo.
Receita da família, segundo a memória da hora.
Ela, amorosa, vem nos visitar, se senta confortavelmente e observa.

Cada coisa tem o seu lugar, pensa.
Além tempo.

Azeitona preta moída no azeite,
pimenta vermelha e fresca,
tomate, abacate, limão, coentro,
mostarda arde, vapor, estalo, suspiro.

E o pão.

Ela disse, era a alegria no início de cada mês, era um dia, somente um dia de pão.
Lembrava a si própria em casa de 7 filhos, um pai e uma mãe, todos juntos, bocas desejantes, olhos sendentos e corações transbordando.

Seu afeto cruzou o meu e nos alimentamos.
Aos poucos compreendemos a saciedade e sua medida precisa.

Iguaria.



sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O dom de Orfeu

Hoje é dia de fazer uma declaração de amor.
Ganhei um Mercúrio em Escorpião e com ele a lembrança de Orfeu.
Orfeu que vagava pelos mundos infernais, implorando aos deuses que lhe pudessem devolver a mulher amada.
Orfeu, aquele que foi incumbido de usar sua lírica para que outros não fossem ao inferno, não sucumbissem à imagem e à miragem das sereias. Ele mesmo totalmente caído na mesma teia.
Orfeu, aquele presenteado por Apolo, com o dom da música e da poesia. E também foi marcado por Dionísio com o desejo e a paixão, ao encontrar Eurídice. 
Ele, tolo o bastante para acreditar estar nela tudo isso que pode sentir. Buscando desesperadamente reencontrar quem capaz de lhe manifestar.
Orfeu, que encanta e canta, também foi tocado pela morte e o desencontro que vem com ela. Não importa mais se os deuses lhe concedem o reencontro do amor, produzindo um novo retumbar no seu peito. Sentir a flecha de Eros atravessando o peito, é recordar a dor do punhal de Tanatos partindo o coração em dois.  Os ecos da morte nos assombram a cada novo amor. O que mais queremos encontrar nos chega maculado pela perda irreparável de quem achamos ser o dono, o portador do dom de sentir amor.
Eu mesma ia fazer uma declaração ao meu amor, que me abandonou um pouco e longe já não me permite encontrar palavras mágicas de invocação do que senti. Mas falei de Orfeu, e sua permanente falta, em Eurídice. 
Ele teria como cantar o desencontro, seu sofrimento por não mais ter a sua amada e sua insistente tentativa de reencontrá-la, se realmente pudesse deixá-la ir?

Simone de Paula - 24/10/2019







quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Mostra

Mostra-me
a imagem que constrói uma ponte
e essa ponte te leva bem mais perto
de você.

Caminho-me.


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Deus Mu Dança

Dispersão
Desrazão
Agitação
Não tem jeito, uma hora a coisa embola. Então...
Atração
Introspecção
Reflexão
Inação

Simone de Paula - 18/10/2019

Obs.: título-presente do anarquista astrólogo aquariano mais provocativo do Rí di Xanêro.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Sabático

Em tempo, segunda é boa como domingo.
Casa é carente e a suculenta.
As horas de respeito contribuem para toda criação.
Abraços amorosos são distribuídos pelo vapor da pressão o da panela, claro.
Feijão preto na hora, cenoura espaguete, semente de girassol em quase tudo.
Além do filme, da discussão e a opinião, da rivalidade sadia de dividir a vida.
Corpo alonga, cabeça alonga, almalonga.


sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Do jeito que dá

Nasci!
Ganhei um presentinho: vida.
Venho vivendo do jeito que dá.
Um dia eu chego lá e ganho outro presentinho: morte.
Daí a gente vê no que dá.

Simone de Paula - 11/10/2019

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Esses mares

Força, braveza, intensidade.
Ora nas ondas gigantes, onde o homem enfrenta seus maiores medos. Ora nas águas mais frias e cinzentas, onde o homem sonha em poder cruzar os mares e achar novos horizontes. 
Muitos poetas fizeram muito com tanta beleza... Eu só pude ver e dizer essas poucas palavras. Não consigo traduzir o que viram meus olhos. Estou em êxtase. 

Simone de Paula - 04/10/2019

PS - os mares de Portugal ... eu vi!