sexta-feira, 28 de julho de 2023

Toca

É tanta resposta que a gente busca que nem sabe mais qual a pergunta fundamental.

A falta do outro tá numa condição prévia que nos obriga a reiterar a existência desse outro, na mesma medida que reforma a nossa própria existência. 

Sem ele, tem eu?

Só posso saber disso perguntando e querendo receber perguntas para materializar nas respostas a presença, quase sempre duvidosa.

Como Alice, que diante das incertezas do país desconhecido, e maravilhoso, só fazia querer saber para poder estar ali como um alguém. Quando o non sense dos acontecimentos, associado aos ritmos imprevistos dessas situações, mostraram para ela que não havia tempo de perguntas e respostas, de entendimentos e explicações, finalmente ela se deixou levar pelo mais indescritível momento de vida: só vai!

Quisera eu entrar nessa toca hoje!

Simone de Paula - 28/7/23

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Tim-tim-tim

É um sacrilégio, mas gosto muito de café e tomo o solúvel alguns dias da semana. Por falta de recursos adequados, ou eu tomo esse, ou nenhum. Optei por esse

Na semana passada, vive uma situação inusitada: o café assumiu a personalidade do músico. Coloquei o granulado na xícara, mais umas gotinhas de adoçante e, por fim, água quente. Fui mexendo com a colherinha e o som foi do mais grave ao mais agudo. Tudo como o de sempre, mas agora com som de poesia.

O gosto era o mesmo, mas meu encanto era novo. 

Tem dias que isso acontece, uma surpresa se dá num dia comum.

Simone de Paula - 21/7/23

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Ídolos

Nossos ídolos e as pessoas que eles são.

Eu só queria escrever essa frase mesmo. Mas isso é mais um tweet do que um escrito que se prestaria a estar num blog. Daí, que resolvi escrever mais sobre isso aí mesmo.

Que pessoa é capaz de um grande feito, seja pela beleza estética, pela justeza ética, ou ainda, pela genialidade lógica? Daí, que julgamos a capa do livro pela leitura deslumbrada.

Já desvendamos que por trás de grandes gênios (volto a essa palavra logo menos), há um tanto de excentricidade, arrogância, descaso com o outro, quebra de protocolos, porque sem isso, será que o feito surpreenderia? Particularmente acho que sim, até porque esses grandes gênios se destacaram e depois nos ofereceram mais daquela fonte, ou seja, transformaram em um estilo um padrão daquilo que é deles mesmos.

Voltando ao gênio, cada um carrega o seu dentro de si. A astrologia antiga tinha até um nome para ele, Almutem. Mas, como nos transmite Aladim, é preciso achar a garrafa, tirar o gênio de lá e ainda saber fazer pedidos e sustentá-los atendidos. Talvez venha daí a capacidade das pessoas que fazem feitos geniais, simplesmente esfregar a garrafa e liberar o gênio. Pedir e levar, sem se apegar muito ao que tinha sido pedido, mas sabendo curtir, sem reservas ou conservas, o recebido.

Peço aos deuses e deusas (pra que nenhum fique de fora e, vaidosos como são, se voltem contra mim) que me liberem para encontrar o gênio perdido.

Simone de Paula - 14/7/23


sexta-feira, 7 de julho de 2023

A morte pede passagem

Nos últimos dias muita gente próxima morreu. De repente, por uma doença, uma tragédia, uma inexplicável parada cardíaca, tanto faz o motivo, mas aconteceu.

Ela chegou, atravessou um corpo, deixou seu rastro, difícil de apagar. 

Falamos de perdas, de lutos, das causas, tudo isso porque não se pode falar diretamente dela. É preciso encontrar meios de definir algum tipo de linguagem para falar do real sumiço da alma e do desaparecimento do corpo.

A gente quase nem pensa na morte, uma negação necessária para lidar com os imprevisíveis da vida. Como disse um conhecido esses dias: "ele acordou feliz essa manhã e terminou sem um pé."

Parece que diante da imensidão das montanhas, ou do mar, e da magnitude do inexplicável da existência, só nos resta lembrar da nossa humanidade. Nos aproximamos, reavaliamos o que verdadeiramente importa, nos dedicamos à afetividade e ao outro, tudo como reação ao absurdo de perder alguém.

Nesse momento, reconhecemos, em nós, como realmente lidamos com o imprevisível, pois tudo que imaginamos, que controlamos, podemos já prever reações. Mas não sabemos o que vai nos acontecer frente à interrupção definitiva.

Diante das despedidas, desejo reencontros.


Simone de Paula - 07/07/23