sexta-feira, 31 de março de 2017

É simples, mas será que é amor?

Foi tudo simples: ele falou, eu perguntei, ele aceitou, deu certo.
É mais ou menos como um Édipo diante da Esfinge, ela fala, ele responde - acerta, ta vivo; erra, morreu!
No campo dos desejos essa lógica da esfinge funciona tão bem que a gente nem percebe, mas sente da mesma forma, sem nem pensar que pode ser diferente. Se o outro aceita, eu acerto, júbilo. Se o outro recusa, eu erro, vexame.
Será que para homens e mulheres dá no mesmo? Entre eu e minhas amigas, pelo que sondei, seguimos nesse sentido. Mesmo que a gente decore diferente, crie uns detalhes para dar uma graça personalizada, mas ou é êxtase ou desgosto. Com eles fica difícil investigar, não falam, disfarçam, desconversam. Alguns escondem os sentimentos, isso eu sei, mas será que todos?
A gente pode até pensar alternativas para reinterpretar o que sente, mas o sentido já foi sentido e não dá pra voltar atrás, é verdade. O coração não engana, a cabeça sim.
Pensei agora nas aulas de Filosofia, quanto mais eu repasso Platão e Aristóteles, mais eu me percebo orientada pelo segundo. 
Há anos desisti de me acovardar diante da Esfinge, se tiver que morrer, que seja tentando, pois eu estaria mais morta se evitasse colocar a prova um saber sobre o meu desejo.

Simone de Paula - 31/3/2017


sexta-feira, 24 de março de 2017

Objeto-fetiche

Acho que eu tenho um objeto-fetiche: luvas!
Não escrevo para contar uma história infantil, de menina romântica e sonhadora, que mantém essa lembrança amorosa guardada no centro do peito com um toque de rancor.  Quero falar das luvas.
Eu até poderia fazer um texto mais nostálgico ou poetico, porque as luvas em si me levam para outra dimensão, provocam um estado emocional que me eleva um tantinho do chão.
Diziam que eram usadas para esconder a pele em sinal de pudor. Imagine só, quem pode olhar as mãos de uma mulher sob luvas e não ter suas pulsões disparadas? São frias, na aparência e na essência. Luvas e mulheres, essa dupla é infalível.
Seda, cetim, couro, lã, renda, veludo.... Isso, luvas de veludo! O comprimento nem importa tanto mas o desenho daquele objeto é surreal, ainda que simulacro de real. Elas nem precisam estar recheadas, vestidas, preenchidas, se bastam por si. Ver luvas é não ver mãos. 
Se há um símbolo da femme fatale, aquela que domina qualquer olhar, não são olhos, boca, vestido, meias ou sapato salto agulha, tudo isso existe para ela poder usar as luvas, essas sim que poderiam aparecer sozinhas e definir o lugar de uma mulher. 
As divas de Hollywwod usavam, todas! Se Marilyn vendeu o 'Channel no. 5', é porque não quis revelar o que vestia antes mesmo de querer tirar.
Confesso, não paro por aí, luvas de médicos, enfermeiros, esteticistas, bem justinhas , coladas na pele. Não consigo deixar de pensar nas luvas de couro dos imponentes militares, suavizando o caráter cruel que está por baixo daquele tecido macio. 'Tapa com luva de pelica', que expressão mais precisa. 
Eu tive boneca com luvas. Na gaveta da mãe tinha um par. Hoje, tenho algumas.
Quando as vejo na loja fico olhando, passando os dedos no tecido, imaginando que depois do frisson do frio que minha pele sentirá ao vestí-las vem o calor que provocam, uma simbiose das matérias e texturas, puro deleite. Quando as uso, olho encantada para elas. Dirigir com luvas de couro é um êxtase.  
Eu sabia, acho que você não. Revelei um segredo e agora paro por aqui. Você tem um objeto-feriche?

Simone de Paula - 24/03/2017



Conto inspirado na capa deste livro e na vontade de reler 'A mão e a luva', de machado de assis. 



quinta-feira, 23 de março de 2017

Casa

Tive um sonho
Você me olhava enquanto as paredes eram de vidro

Busquemos tijolos?

Espero que nossa base abrigue diferentes materiais
Para uma construção sólida diante da constante mudança e transformação 

Amor e espaço

sexta-feira, 17 de março de 2017

Quem chamou Lilibeth?

O dia já tinha amanhecido fazia tempo e o barulho da rua não cessava. Lilibeth tentava dormir mais um pouco. A noite tinha sido exaustiva e quando ela saisse da cama ainda teria muita faxina a fazer na casa. Cortina cerrada, quarto escuro. No meio do outono, nem calor nem frio podiam atrapalhar o sono que insistia. Mas gritos, buzinas e a obra da casa ao lado, isso era impossível de controlar. Sonhava com o dia que pudesse estar num lugar vazio, sem ruídos. Mantinha os olhos fechados e a mente entorpecida tentando lembrar do silêncio que ela tanto desejava. De repente ouviu seu nome. Susto, pressa, pulou da cama, acelerada. Prendeu o cabelo, colocou o vestido, que tinha deixado na cadeira, por cima do corpo nu, abriu a porta do quarto e saiu. Olhou a casa quieta, ninguém na sala, nem na cozinha. Ela jurava ter ouvido a voz do pai a chamando. Era a voz de ordem de sempre. Mas ele não estava ali. Foi ao quarto dele, nada, ninguém. Saiu no quintal, talvez ele tivesse chamado e saído. Não, ele também não estava lá. Não foi sonho, mas tambem não foi real.  Quem chamou Lilibeth?
Ela voltou para o quarto, abriu as janelas, arrumou a cama. Foi para a cozinha preparar o café e ainda carregava no peito a estranha sensação de ter sido enganada pela voz de comando que invocou seu nome. Se sentiu tola pela reação imediata e impensada com que saira daquele estado de torpor e sono e acatara o sentido de prontidão. Pensou na sua vida, na sua história.
Enquanto a água do café fervia ela tentou recuoerar a imagem da mãe. Ela nem sabia se tinha tido mãe. Viveu com o pai a vida toda. O pai e ela, ela e o pai. Mas teve uma mulher, que aparecia de vez em quando na casa quando ela tinha uns doze anos, Eulália. Era muito estranha e vivia mexendo nela, olhando o corpo, os cabelos. Depois virava para o pai e comentava coisas que ela não lembrava, mas percebia no olhar do pai uma atenção enorme, coisa que só via quando ele contava dinheiro. Os olhos dele faiscavam e os labios pareciam segurar a saliva que poderia escorrer pelo canto da boca a qualquer momento. Coou o café e colocou na xícara com muito açúcar, ela gostava de tudo muito doce. 
Revisitava as cenas que nunca esquecia. Os homens que entravam na casa, no quarto, no corpo. Nas primeiras vezes o pai a chamava, fazia carinho nos seus cabelos e conversava com ela em tom suave, dizendo que eles estavam sem dinheiro para comer, mas que o estranho tinha muito mais que eles e queria dar um pouco, mas que queria algo em troca que ela poderia dar. Ela aceitou. Ela aceitou? Ela confiou. Se decepcionou. Chorou, gritou, apanhou. Eulália frequentou muito a casa no começo, orientando o pai. Depois de um tempo, das conversas suaves, dos subirnos, das surras, ela calou e acatou. E a partir dali o que ela atendia era a voz, o grito, o comando.: "Lilibeth!", e ela corria, obedecia como um robô. Muitas vezes foi bom, ela não pode negar. Muitos homens ela amou, mas eles sumiam e ela sofria quieta pelo sentimento impossível. Não tinha amigas, não tinha ninguém. Era ela, o pai, a voz, os homens. Eulália sumiu, nunca mais apareceu desde que ela tinha aceitado colaborar com o sustento da casa. O pai tinha a ordem e ela tinha o corpo. O corpo e apenas 15 anos de idade. 
Colocou mais café na xícara. Sentiu fome, pegou leite, pão e manteiga e continuou sentada na mesa da cozinha, comendo e olhando a toalha, ainda com a sensação estranha que perturbava seu peito. Lembrou de muitas vezes olhar o pai rindo e contando dinheiro enquanto ela tentava dizer que estava enjoada, cansada, machucada. Ele nunca ouvia, só falava e ria. Ela não sabia nada sobre o dinheiro, o que ele cobrava, o que pagavam. Ela já tinha entendido que não era espontâneo, que ninguém oferecia o dinheiro a mais que tinham por uma espécie de caridade esquisita como o pai tantas vezes quis fazer parecer. Ela não tinha a mínima ideia de nada, nem do preço daquele pão que ela comia. Ela mal saía de casa. Nem sabia como andar direito. Foi à escola por um tempo, mas depois dos quatorze anos, nunca mais. 
O pai chegou da rua, com voz carinhosa, a chamando de Lili. Ela não respondia, mal falava com ele, era muda, para ele e para todos os outros homens. Ela não precisava falar, nenhum deles queria ouvir. O pai mostrava um vestido que tinha trazido para ela. Ela olhava e não achava nada, mas sabia que deveria experimentar naquele momento e fazer um oequeno desfile, exibindo o produto que ele ofereceria naquela noite. Fez, obediente. Ele sorriu o sorriso dos olhos gananciosos. Ela viu. Queria mais um tempo sozinha, precisava fazer essa coisa do peito passar. Pediu para dar uma volta pelas ruas. Ele se surpreendeu, mas disse que iria com ela, que era perigoso. Ela aceitou, não saberia mesmo onde ir e de onde voltar. Seguiram algumas ruas, ela olhava muito bem as esquinas atravessadas, registrava o caminho de ida e vinda. Na volta, disse ao pai que queria andar mais, que o corpo doía de ficar tanto em casa. Ele aceitou. O peito acalmou. Os dias passaram, a rotina noturna comtinuou, mas ela não dormia mais, passava muito tempo em claro, pensando, refazendo o caminho na cabeça. Onde daria o final da avenida, o fim da cidade? Dentro dela crescia o desejo de ir embora, sair de lá de vez. Sentia raiva, aquela que parecia nunca ter sentido, mas sabia que tinha engolido. Numa manhã como aquela que alucinou a voz de comando, sem ninguém em casa, com o barulho da rua, pegou algumas roupas e saiu. Seguiu sem parar, reto, foi ver onde ia dar. Andou um, dois dias. Pedia alguma comida em um bar, sabia sorria para homens e ganhar algo deles. Aceitou uma carona e foi parar num quarto fedorento. Fuigiu se lá. Percebeu que teria que fazer o papel do pai, negociar o seu corpo se quisesse ter dinheiro para seguir em frente. Não sabia. Tentava cobrar, dizer preço, diziam que sim, mas riam depois e a largavam sem nada. Um deles, muio educado, lhe chamou de Lilith e disse que era o nome de uma mulher rebelde e desobediente, primeira esposa de Adão, expulsa do paraíso. Ela lembrou da casa, do pai, do paraíso. Quis voltar. Não tinha para onde ir, nem tinha como negociar a si mesma. Voltou. Olhou para o pai e se desculpou. Ele a abraçou. Ela disse que não queria mais nenhum homem. Ele disse que não sabia o que fazer para ganhar dinheiro. Ela também não sabia. Sorriu para ele, fez um café e tomaram em silêncio, juntos, no mesmo vazio. Finalmente a voz calou.

Simone de Paula - 17/03/2017

quinta-feira, 16 de março de 2017

quinta-feira, 9 de março de 2017

Dona Flô e seus dois narizes

- Flô para os íntimos!
Era assim que ela se apresentava e caía na gargalhada. Adorava uma piada, um trocadilho. Não perdia a chance de fazer graça. Ria de si mesma sem precisar esperar pela diversão da audiência.
Aos trinta anos, Florinda, a Flô, tinha sofrido um acidente doméstico que lhe custou o nariz perfeito que tinha ganhado de nascença. Na saída do banho, ela escorregou e foi de cara no batente da porta. A dor era indizível, e na hora, realmente ficou muda. No hospital, o cirurgião plástico lhe deu um novo nariz, mas ela não conseguia mais viver sem pensar todo dia e toda noite no belo nariz que já tinha exibido no rosto. Se olhava no espelho e sabia que tudo nela era sem graça. E agora, até o nariz entrava nessa categoria. Ela tinha olhos castanhos, cílios médios, rosto oval, lábios levemente carnudos. E agora, nariz arrebitado. Nada mais chamava a atenção nas suas feições. Ela pensava que poderia ter uma cor de pele melhor, ou um olho de cada cor, mas não, era básica, padrão. 
O novo nariz cumpria suas funções, lhe acompanhava,mas não lhe divertia como o outro. Ela gostava de ver como algumas pessoas lhe olhavam com espanto quando ela virava o rosto de repente. Era comum sugerirem uma operação plástica. Tudo porque ela tinha um belo e imponente nariz. Se aqui fosse terra de Almodóvar, ela seria sua musa. Ou, pelo menos, faria uma ponta nos seus filmes.
Para compensar o estrago que o acidente fez e o médico confirmou, ela agora escolhia outras formas de destaque. No figurino, roupas coloridas e estampadas. Queria sedas como as de quimonos com padrões de natureza. A maquiagem trazia exuberância de cores e tons. Em certas ocasiões, ela usava brilhos e  glitter em excesso. Seu comportameto tinha o tom jocoso de quem só faz piadas. Muitas vezes, infames.
Flô não nasceu bonita, alguns a classificavam como exótica ou diferente. Mas a mãe não se assustou com os traços mais marcados naquele rosto de menina. Ela foi olhada com admiração e criada entendendo que era diferente e isso lhe dava um plus. Ela não escondia o que era fora do padrão, ela exaltava suas marcas da diferença. Mas após o acidente, precisou de alternativas para destacar o que era mais partilar nela, e que por obra do destino, ela tinha perdido.
Já tinha pensado reverter a cirurgia, mas tinha ficado num impasse. Passou trinta anos decidida a não mudar nada no seu corpo para se adequar aos modelos. Agora ela tinha um nariz modelo. Se a vida tinha lhe alterado as feições, seria incoerente ela querer fazer um procedimento para insistir naquilo que não mais lhe pertencia. 
O nariz tinha ido embora, morrido, só a assediava diante do espelho e quando ela fechava os olhos antes de dormir, nostálgica. Lembrava dele, sorria, sentia prazer por já ter portado um nariz daqueles. Mas ao acordar, respirando bem, exibia seu estilo e tentava ficar em paz. A vida poderia brincar com ela muitas outras vezes, ela saberia ria da piada do outro. Ela era assim, que bom!

Simone de Paula - 09/3/2017



Conto inspirado no livro 'um, nenhum e cem mil', de Pirandello e também em 'Dona Flor e seus dois maridos', de Jorge Amado. E na atriz Rosy de Palma, nos filmes de Almodóvar. 


Aprendizagem

quando abriu a porta a notaram
eram poucos

ela olhou em volta, eles a ela
seus passos são lentos, é cuidadosa

no corpo brincos pequenos, quase nada, uma roupa simples
no entanto, vestia-se inteira com a elegância interna da aceitação


e seguiu acompanhada.

"ela agora aprendia atravessar a porta, atravessando a porta" 
(Marion Woodman)


Maria Laura

sexta-feira, 3 de março de 2017

A putinha e o corno manso


Ele tinha comprado aqueles binóculos no mercado de pulgas do final de semana. Era uma aquisição pela diversão, sem grandes intenções. A brincadeira de voyeur de todo neurótico. Mas uma vez com aquela arma na mão, ele aproveitou. Luzes do apartamento apagadas, janelas abertas, era hora de espiar, fuçar, encontrar os segredos dos vizinhos.
Na intimidade, todo mundo mija de porta aberta.
Algumas semanas depois e nada parecia interessante. Só a vida de família, os agrados aos cachorros e gatos e o velho nojento que comia caca do nariz. A repetição das cenas o fez guardar o brinquedinho.
Uns três meses se passaram e durante a comemoração do seu aniversário, com poucos amigos, depois de cerveja e whisky à vontade, alguém se lembrou dos binóculos e pediu para usarem naquela noite. Riam das bobagens dos vizinhos. Até que a namorada do irmão dele, que estava no banheiro, gritou: “aqui na janela do banheiro tem coisa acontecendo’. Todos entraram correndo, enquanto ela fechava as calças e apertava a descarga. Se acotovelavam no box e tentavam ver o que ela tinha achado tão interessante.
Saindo, ela comentou: “ouvi uma mulher gemendo...”. Isso bastou para atiçar o bando de tarados que ali se encontrava. Ficaram em silêncio e ouviram o tal gemido. Dali ficou fácil achar a diversão. Não tinha muito como ver, porque o casal estava deitado na cama. Mas Otávio ficou louco, agora ele tinha o alvo que queria. Prometeu que faria fotos e mandaria para todos.
Nos dias que se seguiram ele ficou de olho. Era um tal de foder pra cá, foder pra lá... Ele imaginou que aquele casal devia estar em lua-de-mel.  Era melhor que programação da tv ou pornografia de internet.
A coisa esquentou. Ele colocou uma escadinha no box e via o casal na cama. Outras vezes, estavam na janela. Quando eles usavam a sala, dava para ver tudo com detalhes. Numa noite clara de lua cheia ele viu que a mulher o olhava e sorria, ela posava para ele.  Quando ele notou que ela sabia dele espiando, e ainda gostava, ele ficou louco. Mandou whataspp para os amigos, mas só depois de bater uma punheta, porque a excitação o impedia de fazer qualquer coisa antes disso.
Se divertia com aquilo toda noite. Sentia que ela era tipo a namorada dele, que o provocava e depois ele ainda dormia feliz.  Começou a sentir ciúmes do parceiro dela, que ele supunha ser o marido. Mas como podia ser aquilo? Ela se excitava com ele, vizinho, e se empenhava em excitá-lo. Mas quem tava ali era o marido. Será que ele sabia? Será que ele se incomodaria se soubesse? Será que ele a mandava fazer aquilo? Que casal era aquele?
Num domingo, depois de uma noite daquelas com a vizinha do prédio da frente, que ele encontrava diariamente na janela do banheiro, ele foi para a padaria, tomar aquele café-da-manhã tardio. Chegando lá, deu de cara com os dois. O casal ali e ele não sabia o que fazer. Se sentiu constrangido. Olhou para ela que o olhou com um olhar cúmplice. Ele gelou, viu que o marido nem o notou e que ela ainda sorria provocante para ele. O que fazer? Nada, sentar, porque agora, com aquela ereção, e ele de calça de moletom, não podia nem se mover direito. Pediu um café e um chapado, quem sabe comendo, aquilo passava. Ela falava com o marido, que realmente não sabia de nada. E ele virou amante virtual? Não sabia se ria ou fugia. Ele estava fissurado nela, queria entrar no jogo, sorrir de volta, trocar olhares cúmplices. Queria tê-la como amante. Percebeu que ela usava a mesma tática sedutora com o garçom e com o pai do bebê da mesa do lado. De traidor, passou a ser o traído. Como ela podia fazer isso com ele? Ele, que todas as noites estava ali, olhando para ela.  Olhou feio e começou a pensar os maiores xingamentos, para ela e para o marido. A putinha e o corno manso na frente dele. Quanto mais ele xingava, mais excitado ficava. Não podia viver sem aquela mulher.  
Comeu rápido o que tinha pedido. Olhou para ela e ela sorriu. Ele desmoronou. Levantou, pagou e saiu. Nem voltou para casa, foi encontrar os amigos, espairecer. Por volta das 22 horas, lá estava ele pronto para encontrar sua amante na janela do banheiro, sem camisa, só de cueca, do jeito que ela gosta.

Simone de Paula – 03/03/2017

Qualquer semelhança com nomes ou situações é mera coincidência.