sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Vigor

Para o empoderamento, virilidade.

Para a sabedoria, curiosidade.

Para 'as coisas', riso solto.

Para o natal, Jack.

Para o céu, desdém.

Para mim, oi; para você, tchau.

 

Simone de Paula - 25/09/2020

Eugenia Loli


sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Viagem insólita

Ali o mundo parecia estar invertido. Eu boiava, totalmente submersa, e não sentia nenhum incômodo em relação à respiração. Comecei vendo aquele ambiente como um céu azul, mas ao mesmo tempo era ar e água, céu e mar. Suave, aparentemente estático, envolvente. O azul foi se misturando com o verde, as cores frias iam aparecendo pelas bordas. E então o amarelo chegou e com ele o branco. Cores mescladas, eu deitada, flutuando sem nenhuma preocupação. Meus olhos permaneciam fechados, mas eu não dormia, apenas estava. Acima do meu corpo, bem rente a ele, uma superfície desenhada em linha branca. Um fio de prata que dividia as cores e a ausência de cor, o preto espacial. Um tecido enorme perfurado por pontinhos brancos por toda parte, estrelinhas brilhando naquele céu noturno. Despertei. Meu corpo se metamorfoseou numa espécie de espectro. Toda branca, como um vestido de voil longo. Os braços pareciam asas, as pernas pareciam rabo de peixe. Eu subia e descia naquele mar colorido. Era uma espécie de pássaro explorando aquele lugar inteiro. Rodopiava, mergulhava, torcia e voltava. Expandi meu horizonte e perfurei o breu espacial, desapareci e voltei. O desejo incessante de movimento, dança, voo, liberdade. Mais uma vez uma decisão se deu, mergulhei lá de cima no submundo da terra, fui ao mais fundo que pude, explorei outra escuridão, essa não espacial, mas gutural. Não havia superfície que pudesse me segurar, me prender, me arranhar. A velocidade me fazia deslizar, sem sentir nada, protegida dos machucados da realidade da matéria. Das profundezas subi, retornando ao estado passivo e pacífico do lugar em que estou agora, escrevendo essa viagem insólita.

Simone de Paula - 18/09/2020

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Plexo solar

Na nossa conversa, meio não é metade, é centro, e com isso, teorizamos.

Eu tentava demarcar a área que compunha esse centro, incluindo a periferia, espaço expandido do miolo afetado pela corrosão. Apontava, indicava, ampliava toda a superfície para lhe dizer que isso é uma grande composição espacial. E ele, que naturalmente tem escutado bem as minhas diligências móveis e imóveis, resumiu com uma boa expressão: plexo solar.

Rimos, claro... Eu sei há ironia nisso e ele certamente não perderia a chance de provocar esse efeito. Ou é concordância com os meus termos ou discordância delicada como um tapa de luva de pelica. Pouco importa, aceitamos essas diferenças e seguimos a partir do centro de energia. 

Segui, contando da relação rizomática desse meio em direção às extremidades, levando eletricidade, ativando as partes mais distantes e interligando outros membros ao tronco principal.

O corpo espacial, na constituição vinda da unidade à composição, não decepciona quando se trata de uma atividade motora eficiente. Porém, quando exige uma constituinte operativa de uma mecânica determinada, falha e promove desencontros na operação.

É por isso que as atividades ilícitas assumem o controle do processo, invadem as brechas e dominam os pontos mais destacados e sutis.

O desbloqueio exige força primeiro e destreza depois, maleabilizando o entorno e reintegrando os sistemas.

Tá aí uma concepção que não decepciona.

Simone de Paula - 11/09/2020



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A sombra no mar

Te tomei por um albatroz. Aquele de asas longas e voo corajoso.

Naquele tempo, me sentia o mar, amplo e infinito abaixo de você. Fui o lugar de miragem, de perigo.

Notei porém, que no brilho do mar, era uma sombra que se projetava, iluminada pela luz do sol, refletida na superfície cristalina da água.

Albatroz sou eu mesma, que na travessia, bate as asas com força e desejo. 

Quando limitada ao chão da embarcação, desconjuntada, será que provoco escárnio, tal qual a ave marinha? Curioso pensar, que você se vê assim, como essa sombra provocadora de riso, pelo desarranjo do seu corpo. 

Ilumine o céu e se coloque no alto das nuvens. Se eleve para buscar água nas gotículas da chuva que espera por cair. Se lance como Ícaro aos céus e se arrisque à queda mortal, só pela satisfação de se ver pássaro um dia na vida.


Simone de Paula 01/09/2020

 


Deste texto lindo...

https://www.facebook.com/eltonluizleitedesouza.souza/posts/3261699630720849

Deste poema tocante...

https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2019/02/06/o-albatroz-charles-baudelaire-ivan-junqueira/