sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Oriente-se

Me perdi no tempo, nos dias e horas. O caminho segue firme, longo, diverso, marcado e remarcado tantas vezes quanto nossa imaginação pode inventar.
Contar Mil e Uma Noites, ou 33 Anos e a vida eterna além dos dois mil anos. Tudo vale, é só um modo de não deixar morrer. Impossível esquecer. 
Ábaco ou grão, tudo que existe pode ser contado, e o que não se vê também.
Pedro, pedra, piere - pier: rios e mares, montes e vales.
Se veio da outra vida, das histórias de antes de dormir, do dia de chuva ou ainda dos vizinhos de uma cidade de imigrantes, eu não sei, mas veio e contaminou pra sempre, sem cura prevista ou desejada.

Simone de Paula - boa católica, mas não religiosa - 28/2/2020

Obs.: choveu no deserto, mas pirâmides do Egito. Depois, muita água vindo das montanhas do Sinai aí mar vermelho e mar morto. E ainda um Shabat em Jerusalém. É muito auspicioso para uma única viagem. Amém.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Hoje é sexta

Hoje é sexta. 
Há alguns anos escrevo algo todas as sextas. Tem vezes que eu quero contar só pra deixar registrado. Outras para expressar emoções e situações. E tem vezes ainda, que uma mera inspiração aparece e me surpreende e o tema se dá.
Hoje é sexta e eu estou aqui, assim, tentando achar o tema. E ele não vem, mas também eu nem me esforço para que venha.
Nos próximos dias vou ver tantas histórias que eu poderei contar pelo próximo ano inteiro. Quem sabe.
Fico pensando, não quero me esgotar hoje. 
Hoje é sexta e um mero papinho furado foi registrado. 

Simone de Paula - 21/2/2020

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Caranguejo peixe é?

Um compromisso se firmou. Nem sei bem como ficou tão firme, mas fixou.
Pensamentos, sentimentos, palavras e ações visando realizar o compromisso, afinal, era para isso mesmo que ele serviria, para um objetivo comum.
Mas o que se deu não foi bem assim, talvez o compromisso era simplesmente pelo compromisso, pela impressão de união e ilusão de garantia.
Não tardou e eu já entendi que objetivos, aqueles definidos, não existiam. Mas, atachados ficamos.
Roda, roda, roda... giros e mais giros tentando soltar as amarras.
Pé, pé, pé... anda daqui, chuta dali, pula pra cá e pra lá e nada, permanecemos no mesmo lugar.
Roda, roda, roda... sabendo que talvez seja só isso, se distraindo com o vendo e a vertigem que os giros podem dar, aproveitando o fato de estar lá.
Caranguejo, peixe é.... Caranguejo, peixe é? Não... caranguejo se esconde, peixe escorrega, os dois escapam, mas cada um de um jeito diferente. 
Fusão dos dois e daí sim, num solavanco, o escorregão rumo à liberdade.

Simone de Paula - 14/02/2020


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Era uma vez

Abril de 73, do século passado. 
Era uma manhã ou tarde de sábado, provavelmente, porque na semana não era comum acontecer isso. Meu pai resolveu mexer no gravador. Tinha comprado há anos e ainda ficava ali, por usar. 
Meu pai adorava eletrônicos de registro, tipo câmeras fotográficas, gravadores de áudio para fita de rolo, projetores de slides. Ele também gostava de carros e futebol.
A brincadeira era entre ele, mamãe e nós. Nós, os filhos, ainda éramos três: duas meninas "chatas" (mentira isso, mas mamãe  dizia para criar uma culpa, mâe de escorpião) e um bebê de oito meses. 
Papai começa, fazendo uma claquete, data da gravação, ele nem era da chamada área do áudio-visual, mas já entendia dos paranauês, taurino metódico, registrando tudo.
Primeira a falar, eu. Ele chama, "Simoninha", e pergunta minha idade. Eu respondo,"dois anos". Eu tinha oficialmente, dois anos e meio. Depois pergunta a idade da minha irmã mais velha, a Cristiane. E eu, "cinco anos". Na hora que pergunta do meu irmão, dá um tilt, e a resposta é, "ele é bebê", não tem ainda 'anos'.
Muita excitação na minha voz, riso, animação pra falar e responder certinho. Imagino meu corpo agitado, achando aquilo uma maravilha.
Mamãe entra no áudio, canta musiquinha, eu canto também. Ela aproveita e dá aquela reprimida básica, com uma certa ameaça, mas também fala tudo que eu tenho que fazer pra ir na festinha do dia seguinte. Anos de análise depois e isso é ela, talvez não importe mais.
Ontem essa mensagem do passado chegou, via whatsapp, mídia nem imaginada na ocasião, provavelmente. Ouvi tudo isso que estava perdido em uma das fitas do velho gravador. 
Meu registro veio a mim, como aquela carta pedida, sem remetente, mas certeira ao destinatário. 
Não tiro o sorriso do meu rosto desde então.  Foi muito, muito bom estar ali e ouvir agora isso aqui. 
A cena tinha luz solar, pulsão de vida, alegria de infância, tranquilidade do tempo.
Quando ouvi de longe a voz do meu pai, o nome dele saindo da boca da minha mãe, eu pude ressuscitar alguém e ainda reviver um tempo. Depois ele conduz a gravação e vejo nos detalhes da fala, as expressões típicas, era ele ali.
O jeito de falar, a impressão de que tudo está certo, sob controle, que o mundo não é cruel. Sim, toda segurança estava nele.
Eram tempos sombrios, de ditadura militar. Hoje estamos passando novamente por um mundo que espera fazer um acerto de contas com a liberdade. 
Diante desse presente do tempo, talvez de Júpiter em capricórnio e Lua em Câncer, o céu marcando através dos astros esse encontro, espero que nossas crianças e bebês hoje sejam preservados do sombrio, para que possam ver sol no mundo interno deles e viver um futuro com muita luz e inventividade. Temos futuro sempre, porque houveram muitos passados.

Simone de Paula - 7/2/2020

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Praia do Ana Rosa

ele me contou da venda que fica virando a esquina, que vai lá, compra o que precisa, depois volta. enquanto cria, cria.
aí me disse pra pisar no chão e ver a coisa toda de uma perspectiva nova.
meio bravo, não bravo, tão acolhedor que eu não via ninguém assim hace muito tempo.
um encontro de segundos de milésimos de uma soma sequência dos dois em seus caminhos imprecisos. sim.
se achava que não existia, garanto que tem. e é tão amoroso. é tão.
abriu um mundo todo e reconheceu os antigos.
ah as loucuras do amor de quem não se vê e sente.
se fosse piegas, diria que é assim que é mesmo.
mas como é, estamos unidos.