quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Mais uma do tempo

Cheguei e teria um tempão.
Passou o hoje e o amanhã duas vezes e cheguei no aqui e agora. Amanhã quase acabou, tem só mais um tantinho de depois de amanhã, e pronto. Incrível, mas aqui o tempo some e sempre parece que não fiz nada.

Simone de Paula - 30/11/2018

Fato

Não diz não ao outro
mas a si mesmo.

ml

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Coisas de mulher

O tema me faz chorar.
Um choro fundo, doído, inteiro.
Se penso no tema, não tenho porque chorar. Mas as lágrimas se debruçam sobre meu olhar mesmo assim.
Ontem mesmo, naqueles dois ou três pequenos textos do livro de capa preta, o fato se deu. Sem vergonha, sem temor, no meio de muitos conhecidos e desconhecidos. 
Só voltei a respirar muito tempo depois e dentro de mim, não ficou tristeza.

Simone de Paula - 23/11/2018

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O não e o nada

O não eu posso suportar.
Com o não, dá pra fazer algo.
Já o nada...
O nada é impossível.

Simone de Paula - 16/11/2018

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

A fenda

Cerrei as pálpebras levemente. O esforço não foi ali, nos olhos. 
A cabeça pesada, pressionada pelo intenso trabalho do corpo.
A imagem nítida forte, escura apareceu de surpresa. Não pela primeira vez, mas sempre inesperada. Uma fenda de luz amarela chamando para um outro lugar.
Interpretei como uma fresta em uma rocha, inicialmente foi isso que eu vi.
A luz intensa amarela foi ficando alaranjada, mais quente, me remetendo a lava incandescente escorrendo de uma rocha, talvez de um vulcão. 
Olhado sob nova perspectiva, o rasgo vibrante cor-de-laranja poderia ser um horizonte num por-do-sol, visto de longe, emoldurado por duas montanhas. Existia assim lá fora e aqui dentro.
Resolvi brincar controlando o foco do olhar, gerando assim duas repostas satisfatórias: vulcão, interior de uma caverna. 
Mas meu olhar não permitia meu controle e a luz avermelhada, aquela espécie de fogo, foi dando lugar a uma cor mais rosada, púrpura, e então roxa. Ficou mais escuro, a fenda foi se fechando. O rasgo de ponta a ponta se despedia, se consolidava com espaços escuros no traço do percurso até que tudo ficou preto. Cerrou!
Voltei relaxada, a cabeça leve e o silêncio preciso.


Simone de Paula - 6/11/18

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Passo a passo

Há tempos que não há palavra,
um ausente
outro presente

No meio,
diante do que não esperava
choque na vida

Com uma nova morada à espera,
em soluços e descalça com a sola dura
a gruta aberta dando passagem

Um passo,
e o caminho
o mesmo que mora dentro.

Sorte é deus, como disse hoje o proprietário.

Maria Laura



sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Dia dos Mortos

Efeméride curiosa, dia de finados, dia dos mortos.
Tive a chance de escrever no meu aniversário, aquele dia em que se comemora o nascimento e a vida que ainda é vivida. E hoje é o dia de guardar a atenção para a memória deve ser reverenciada. 
O tema da morte me chama, me intriga, mas confesso que não quero encontrá-la tão cedo. Não apenas porque tenho muito para viver, mas porque morro de medo de morrer. Sei lá, deve ser algo sobre amar demais a mim mesma e não considerar que algo desse tipo pudesse ocorrer comigo, esse objeto de amor eterno. Sei que esse dia vai chegar e eu mesma não vou lembrar. Não terei a chance de viver a experiência e poder registrá-la, guardá-la comigo para depois rememorar.  É por isso que quem morre não pode saber da própria morte. Que coisa mais cruel, justamente um ponto tão fundamental da nossa vida não nos é permitido conhecer. E pensando nesse sentido, também não conhecemos, através de nós mesmos, da nossa faculdade racional, sobre o nascer pelo qual passamos. Os outros nos contam, mas a gente mesmo não consegue reviver aquele fato, porque não conseguimos registrar pela via da cognição. Dizem que sensações persistem, mesmo que a cabeça não se recorde. Quem sabe? Só se supõe mesmo.
Uma amiga querida, um dia desses, fez um texto lindo sobre um objeto perdido. Ela que diz perder pouco, conseguiu uma lindeza de testemunho sobre sua perda. Se perdido foi é porque outrora era possuído. Se sentimos falta é por apego ou porque o que foi perdido deixou tantas marcas, que a saudade revitaliza aquilo que não pode estar ali, de corpo presente? Marca mais a presença ou a ausência?
Diferente dela, já perdi muito. Perdi pessoas, coisas e situações. E ainda o que quis e nem tive, a esperança de ter aquilo que não tinha, mas queria. Perco diariamente células, cabelos e unhas. Perco os anos que já passaram e ganhos usufruídos. E por perder tanto, acho que sempre quero mais.
Sinto saudades, muitas vezes nem sei de quê. Hoje é um dia que dá lugar à melancolia, sentimento humano geralmente deixado de lado como algo ruim. Melancolia é bom de vez em quando, silencia a boca, tapa os ouvidos, nos coloca lá dentro, quietinhos, mergulhados no nosso magma mais precioso. O melancólico se ama muito, mas nem sempre sente isso pelo mundo, por isso deseja morrer, para poder ficar só consigo mesmo.
O mundo não para, nem a história, nem as mudanças. Se formos pensar, vivemos alguns pares de anos e brigamos por alguns valores essenciais. Depois disso tudo, o que resta de nós é o que lembram da gente.

Simone de Paula - 02/11/2018