sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Vagas abertas

Estamos caminhando para o fim da pandemia, dizem os especialistas. Que seja, tomara!

Quando tudo isso começou, susto, reação imediata, invenção de novos modos de vida, suspensão das práticas rotineiras, etc. Tudo isso foi vivido intensamente, num curto espaço de tempo.

Mas, o tempo foi passando, as escolhas foram sendo feitas, alguns se afundando e outros arriscando fazer o que adiavam por motivos variados. Consequência: todo mundo mudou um pouco, a si e a vida.

Porém, um sentimento me acompanha há uns meses e cresce. Perdi contatos.

Não que meus amigos / amigas tenham morrido, longe disso, mas foram para outro lugar. Mudaram de cidade, país, se distanciaram. Nossos programas, nossas conversas, diminuíram até quase acabar. Sinto falta, muita. 

Vivo um misto de luto por isso e o desejo de abrir vagas para novas amizades. Meu ofício diário me proporciona interações íntimas, mas numa relação neutralizada. Então, convivo diariamente com muitas pessoas, mas distanciada desse tipo de relação.

Fazer amizade na vida adulta não é tão fácil como na juventude. Não concordo muito com isso, porque já fiz muitas e sei que farei mais um monte. Pessoas com quem se trabalha (perdi essa), colegas de grupos de estudos, amigos de amigos em encontros, parceiros de academia, gente com mesmos gostos e hobbies, um monte de oportunidades. Eu gosto de gente, com qualidades e defeitos, que chamo de características. Gosto de humanos, trocas, incômodos e prazeres. E, gosto de vida real, que pode ser fantasiada e realizada. Sou da ação: "vamos tomar um café?", "só se for agora!"

O distanciamento social, com os estados ansiosos, depressivos, amedrontados e com excessos de trabalho, dificultou a conexão presença real e física. Já fiz algumas amizades pelas redes sociais, acredito plenamente que essa ferramenta possibilita muitos encontros improváveis sem o uso dela. 

Os traços do nosso tempo, os impedimentos do despertar de Eros, provocando a curiosidade pelo outro, a exigência em mudar o mundo e criticar ou ter opinião sobre tudo o tempo todo, isso tudo promove uma grande desconexão.

O fato é: as vagas aqui estão abertas para novas amizades. Se o ditado é: 'Joga pra cima que cai na cara!", 'joga pro universo que ele te traz de volta!', tá aqui meu tiro, lançado pra cima, vamos ver o que cai na minha rede.

 

Simone de Paula - 28/1/2022



sábado, 22 de janeiro de 2022

Tudo na vida...

"Tudo na vida começa com um sim"... e termina com um chega!

A citação da 'hora da estrela', acompanhada de um desabafo, me fez marcar o início do texto e passar a sexta-feira envolvida em letras e escrituras, me perdendo do meu próprio ofício.

Da escrita do Outro à minha grafia, perdi o prazo, escorreguei, mas levantei deslizando por essas linhas.

Tá aí, mais um escrito para cumprir o protocolo.

 

 

Simone de Paula - 22/01/2022

PS - acho que eu queria mesmo era fazer no 22-22

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Ella

Ella ganhou esse nome porque a mãe tinha realizado o sonho de ter uma menina. 

Na infância fazia certa confusão quando ouvia o seu nome, era alguém lhe chamando ou apenas usando só o pronome feminino. Mas aprendeu a modular isso. Adulta, pensava que a mãe tinha sido exagerada nessa escolha, pois era uma família que tinha muitas mulheres e ela era filha única. Mas a gente ganha nome e tem que seguir com ele.

Se por conta de ter que lidar com essa especificidade entre o nome e o pronome, por gosto mesmo ou falta do que fazer, Ella pensava muito. Uma cabeça que não parava. Não era nenhum mal, mas também não ajudava muito, pois cada tarefa exigia um tempo longo de execução, porque entre um movimento e outro, tinha a dispersão pelo pensamento que ia longe. 

Na infância, ficava pensando na brincadeira, antecipando o que ia fazer. Adolesceu e passou a ficar imaginando o que acontecia com colegas e ídolos fora do seu campo de visão, a vida deles era uma festa. Começou a trabalhar e não conseguia estar no dia certo do calendário, porque vivia pensando nos eventos mais importantes. Sim, ela se atrasava muito para as coisas, ou deixava de fazer. 

O começo do namoro com Maurício foi um sofrimento, porque com o pensamento veio o sentimento. No começo era saudade e depois, ciúmes. Ella não tinha sossego.

Começaram a falar em morar junto ou casar, ela se angustiava muito em pensar como levaria trabalho, casa, marido, tendo que dividir as atenções. Mas Ella não deixava de viver, apenas funcionava em duas bandas, uma no mundo presente e outra no pensamento paralelo.

A vida se complexifica, muitos temas acontecem simultaneamente e adultos precisam administrar tudo muito bem. É por isso que perdem desejo, curiosidade ou mesmo criatividade, porque ter a cabeça em muitas responsabilidades exige disciplina, coisa pra estoico.

Nesses dias encontrei Ella, que me contou que estava com a cabeça vazia. Disse que tinha perdido os pensamentos. Não se sentia mal, mas não sabia onde encontrá-los. 

O resumo da história é que ela tinha feito umas práticas novas de esvaziamento da mente, que vinha tentando formas de sair da exaustão mental há meses e nada adiantava. Essa tinha dado certo. Não sabia como, mas parece que tinham desligado o botão. Perguntei se ela andava esquecendo das coisas, preocupada com algum  problema neuronal, mas ela disse que não, que aquilo é que era o mais doido, a cabeça ficava desligada, como uma televisão, quando você liga, tem que escolher um canal e assim que é, quando liga, que é quando precisa pensar em algo, escolhe o quê e pronto, voilá, não fica mais exausta,

Me pergunto, desde esse encontro, se eu quero também desligar minha tv.


Simone de Paula - 14/1/22


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Tapete mágico

Nossa, o dia passou tão rápido. Só agora me dei conta que eu nem tinha escrito nada aqui.

Queria compartilhar uma coisa linda que vi pela manhã, passeando pelo pinterest. São composições artísticas de um iraniano, com tapetes, elemento mais do que decorativo, altamente simbólico na cultura persa e árabe. Os signos contidos na tapeçaria indicam uma cenário, próximo aos ambientes domésticos. Como os quimonos para os japoneses. 

O artista Babak Kazemi escolheu uma história famosa, de um casal de amantes, Shirin e Farhad. Ele subverteu tanto a narrativa, quanto o ambiente. Resultado: essas imagens lindas. 

Eu adoro composições e colagens. O que ele faz é mágico, como os tapetes voadores dos contos das Mil e uma noites. Alladim, minha história preferida.

Não nego todas as questões que envolvem a ditadura religiosa em que se encontra hoje o Irã, nem mesmo a opressão às mulheres atribuídas às palavras de Allah, deus islâmico. Mas esse trabalho, assim como tantos outros de escritores, cineastas, artistas plásticos, mostra a imensa criatividade e inventividade com que os orientais expressam seu simbolismo e sua mitologia.

Divirtam-se!!!

Simone de Paula - 07/01/2022


http://www.silkroadartgallery.com/portfolios/exit-of-shirin-and-farhad/