sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Esquecimento

Estou te esquecendo... até uso reticências para mostrar o fluxo corrente que se instala em mim.
Tenho olhado para cores, cheiros e sabores mais suaves e coloridos. Contrastes aos seus, ora obscuros e pesados, ora neutros e desbotados.
Pensei hoje que esqueci algumas vezes daquilo que me uniu a você por tanto tempo. E quando me dei conta, tinha deixado de lado porque já não me fazia falta.
É muito curioso isso, por já não fazer parte da minha angústia, mesmo se ausentando, não faz diferença. 
Talvez, finalmente, a promessa do passado se torne presente e eu possa ter assim o que sempre deveria ter tido.
Estou te esquecendo e hoje lembrei sobre que tema meu você sempre me recordou.

Simone de Paula - 29/11/2019

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Velho sábio

Encontrei novamente com aquele velho rabugento. A cada volta e meia, e mais meia volta, dou de cara com ele. Já foram tantas vezes que agora fica a grata surpresa da manifestação de sua presença.
O aspecto sério é sempre mais forte do que a provocação instigante que ele traz consigo. Ele só quer se fazer notar. Se consegue isso, prepare-se porque de lá pode vir muito mais. 
Na última vez, esses dias atrás, percebi que essa riqueza toda, mais eu vejo nele do que ele mostra. Acho que ele a tem, porque também se não tiver, já valeu, na simplicidade a que expressa e que permite fazer reverberar o que deve vir à tona.
Dessa vez vou ficar mais um tempinho com ele. Acho que ele merece. Eu também mereço. Temos algo a trocar. 
E pra você que desconfia, não confia e nem quer me deixar entrar pra te contar, traquize-se, porque mesmo de longe, você vai acompanhar.

Simone de Paula - 22/11/2019

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Varetas

Toda vez é o mesmo jogo de palitinhos. Você espalha as varetas e me diz: “vai!”, e eu sei que naquele começo fica fácil sacar sem mexer demais na estrutura empilhada.
Sou muito cuidadosa, porque você está ali, louco pra me tirar do jogo. Com o passar das jogadas, nem lembro mais da competição ou da minha vontade de ganhar, porque aumenta demais a minha apreensão diante da sua gana de pegar meu erro. 
A partida de ontem foi muito boa. Você ganhou, mas eu não perdi. Olhei pra você dizendo” vou mexer naquela ali...”. Você sorriu, esperou, quando viu o movimento da peça indicada, encostou tranquilo na cadeira e afirmou: “é o que você quer..” 
Sim, quero. Quis. Mas quando você pegou a varetinha, me mostrou, a apontou pra mim, definindo o fim de jogo, minha mente se espiralou sem deixar espaço para uma nova partida.
Quero um novo jogo.

Simone de Paula - 15/11/2019


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

As Deusas

Estão todas em roda, atuantes.
Cada hora um pouco de sua vez.
Me encontra cabeça de porco, cabeça de touro e o ventre.
Solares, sombrias, avassaladoramente sutis.
Chama de um lado, o avesso.
À beira mar do mergulho,
não me deixam sem.
Uma me conta do seu corpo labirinto, tonterias, esconderijos.
Outra que diz: vá bem fundo, minhas mãos do chão impulsionarão seu corpo para o retorno.
Quase sem ar aprenderá a (re) respirar tão ouro quanto é.








sexta-feira, 8 de novembro de 2019

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Perséfone

A donzela colhe flores e mel
dança doce sem pisar o chão.

O deus, pasmo de amor, agarra sua cintura
nada se solta dessa força descomunal, criatura.

Deixe que eu te leve dentro,
para baixo, para baixo.

A terra chama, em volta toda dor
nada mais que semear nem em ti ou lugar algum.

Volte para mim, volte.






sexta-feira, 1 de novembro de 2019

E agora?

E agora que estamos sozinhos no elevador por três longos andares?
E agora que convivemos no entra e sai, oi e tchau, da rotina de trabalho?
E agora que sabemos mais dos nossos interesses e queremos estender o tempo de contato?
E agora que a sedução deu lugar à possibilidade?
Forçar a conversa mole para poder ainda ver o brilho do olhar, não deixar escapar.
Apelar para a conversa séria pra tentar fazer bater o coração e implorar para o olfato caçar por maior intimidade e quebrar a distância moralmente adequada.
Adoecer, reclamar, padecer de algum mal para invocar a atenção mais preciosa.
E agora que deu certo, que chegamos perto, que vamos fazer?

Simone de Paula - 01/11/2019