sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Lisboa

As surpresas do caminho... sim, elas são os pedacinhos de toda história.
Ora o nome de uma rua, um brilho intenso do sol, um sorriso.
Ora o não vivido ou esperado, como ser turista e estrangeira na mesma língua. Isso tem sido diferente e bom. Há cumplicidade, afinidade, mas fica o respeito ao outro, como outro. Mágico.
Vi de onde vem a mania de se meter na conversa do outro, não por xeretice, mas para ajudar a que não se caia em ciladas desnecessárias. Sim, coisa de gente solícita.
Houve uma cena de boa sorte, daquelas que quem recebe só pode acreditar em Deus depois dela. Estávamos em Cascais e uma romena pedia esmola. Um acompanhante turístico, querendo ser garboso para sua cliente, oferece trabalho ao invés de dinheiro. A conversa dura muito, ele.pergunta de toda a família dela, informações da Romênia. É um misto de desconfiança, que com perguntas desmonta a mentira e a curiosidade. Fim do papo e ela segue pedindo e ouvindo não. Se liga na boa sorte. Volta e pede o trabalho oferecido.
Valeu!

Simone de Paula - 26/9/2019

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Subjetividades

Tem sido constante me perguntarem se não gosto de cinema. Claro que sim. Justo eu!?! Me intriga aqueles novos, que hoje me acompanham, não notarem uma verdade tão declarada das minhas subjetividades. Parece que o que é meu eu não mostro, nao preciso. Será?
Tenho meus diretores preferidos, seus estilos. Eles me levam  para a sala escura.  É como um ritual, devoção, paixão. Avaliar gostei ou não, nem importa. São mestres para um gozo meu. Sabem dizer pra mim com seus filmes. 
E meus atores, meus astros, que também me fisgam não importa muito o que fazem, porque eles estão lá e isso basta.
Do cinema americano gosto de entretenimento, mas também dos independentes que ousam mostrar a cultura paralela, ou como lado B ou como o deboche do pop.
Do cinema francês, aquela eterna discussão de relações, que não existem e exigem milhares de metros de negativo pra tentar fazer juntar. 
O cinema italiano e aquele descaramento alucinado.  E o cinema português, com sua poesia, seus silêncios. E dos ingleses o humor ácido, o suspende marcado.
Os suecos, dinamarqueses, alemães. Aquela frieza e síntese capaz de nos manter por semanas presos às imagens deslumbrantes e personagens densos. 
Os orientes, nos tempos longos, na geografia exuberante e nas diferenças estéticas. São tantas e tão distintas, com marcas de culturas antigas e tradições repassadas e recortadas.
A estranheza moderna dos japoneses, com a sexualidade que não se desculpa. A fantasia chinesa e indiana, mItificando ainda mais os mitos eternos. Persas e árabes, garantindo as particularidades de cada povo apesar de reunidos pelo islã.
E a África demora tanto pra chegar...
Hoje eu não vou ao cinema, mas o carrego dentro de mim.
Hoje assistiria Closer, pra deixar o erotismo.circular. 

Simone de Paula - 20/09/2019.



quinta-feira, 19 de setembro de 2019

No meio do caminho

Manhã no parque, manhã de sol no parque, manhã, das raras, no parque.
Árvore convidando pra abraço, calor batendo no rosto e na nuca, suor escorre gota depois de gota.
Anda e respira, anda e respira, deixa vir vida de dia de sol de parque, vida de ter a vida.

Um homem descalço e sujo veste um cobertor grosso nos ombros. Ele passa por mim, atravessa apressado. Vai até o lixo, já eram oito horas, já devia ter ali, ali naquele lixo do parque, de um dia ensolarado no parque, um café da manhã de lixo do parque.

Um café da manhã de um homem de um parque de um lixo, lixo. Atenção, lixo!

Está nos faltando tanto alimento. Tanto.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Braços cruzados

Não faz assim comigo, não.
Não cruza o braço, era só um sonho.
Usei as palavras que estavam lá, sem pavor, sem pudor.
Faz careta, finge que nem liga, olha pela janela, mas não cruza os braços nem feche os ouvidos.
Não estou aqui para brincadeira, falo sério, mas isso não quer dizer que é pra fechar a cara, recusar a fala. 
Deixa rolar, deixa fluir, no final da frase tudo fica mais suave e seguro. 
Larga a moral, deixa o tabu, entra no clima e brinca. 
Ri, porque eu sei que você sabe rir e se divertir comigo.


Simone de Paula - 13/09/2019

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Só um tantinho

Queria fazer um haikai, porque hoje tenho só um tantinho pra dizer.
Mas poema não sai, nem haikai.
É um talento colocar em doses mínimas coisas gigantes. 
E eu uso muitas palavras para falar de coisas diminutas, desimportantes.
Era só isso mesmo.

Simone de Paula - 06/09/2019