Os olhos se fecham, os ouvidos
não.
Passou a juventude abrindo os
olhos. Tentando ver melhor, olhar por buracos e frestas, encontrar segredos que
pudessem despertar sua emoção. Via muito, ouvia pouco.
Era surda para o que estava sendo
dito, visto que só via.
Fragmentos de cenas, pedaços de imagem,
recortes de revista, tudo no intuito de formar uma imagem perfeita, que encaixasse
na cegueira dela.
Um dia, a cegueira chegou de
fato, mas não apenas porque os olhos já não respondiam aos anseios do olhar,
mas porque ela não sentia mais luz e brilho no mundo que a atraísse para algum
lugar. Parou de tentar enxergar, descobriu que tinha muito que ouvir.
Ouvia tudo que podia, mas já não
usava a lógica da busca do som perfeito. Ouvia as pausas entre as frases, as
brechas entre as palavras e até o intervalo entre as sílabas. Podia perceber
cada letra sendo pronunciada. Notou que um canto se misturava com uma buzina e
entre eles tinha uma risada, uma pisada e uma confissão. Tudo se misturava, era
uma sinfonia numa bela sintonia.
Se divertia esperando pelos sons
todos os dias. Mas a graça acabou, a surda ouvia, mas não tinha mais o som que
a atraia. E no silêncio forçado, encontrou o frio que ardia e o fim que já
existia.
Simone de Paula – 09/03/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário