sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Não dependa de mulher!

Cidinha recebeu o diagnóstico de uma doença terminal. A informação caiu como uma bomba sobre sua cabeça, mas ela não teria tempo de sofrer e se lamentar, só teria tempo de orientar melhor o filho, Olavinho.

Depois do término do casamento com Cláudia, Olavinho tinha voltado a morar com a mãe. Namorando aqui e ali, dividia com ela suas questões amorosas e também contava com ela para cuidar dele.

Cidinha passava partes do dia muito meditativa, introspectiva e nostálgica. Lembrava dos pais, das frases ouvidas, das histórias vividas. Mas, uma frase era a que mais aparecia, era uma sentença de fato: "não dependa de homem!" Imperativa, negativa, chegava de todos os lados, da mãe, do pai, tias, enfim, era o mantra para as mulheres de sua geração. E ela obedeceu prontamente, porque ela não tinha dependido de ninguém. Quando cansou do pai de Olavinho, tratou de mandá-lo embora de casa. Mas, se viu dependente do amor do filho e foi avaliando quantas dependências tinha criado na vida. Realmente, financeiramente nunca dependeu, mas no quesito emocional, na necessidade de reconhecimento, ou ainda de conhecimento, ela dependia e muito. Mas agora era tarde, e a tão desejada independência total tinha chegado: morreria em breve!

Decidiu que ela precisava mudar um pouco o rumo das coisas. Seja porque tinha medo do filho sofrer, seja porque tinha carregado um pouco dos ideais feministas no peito. Cidinha resolveu incutir em Olavinho a sentença que tinha recebido. Era a melhor herança que ela poderia dar a ele e também colaboraria com as mulheres que pudessem aparecer na vida dele.

Começou a dizer diariamente para o filho: "Olavinho, não dependa de mulher!"; "Isso é a pior coisa que pode acontecer, porque você vai ficar na mão delas." E com essas frases, ela ensinava o filho a cuidar dele mesmo, das roupas, comida, cuidados de organização. Planejamento, investimento, intenções de conquistas futuras. Dicas de estudos, passeios, possibilidades de vida. 

Olavinho estranhava a conduta da mãe, que nunca tinha feito isso, muito menos insistido na frase "não dependa de mulher!", mas ele lidava numa boa com os momentos juntos que tinham. Era curioso que ele se sentia mesmo mais estável emocionalmente, sem precisar imaginar em cada mulher que via uma potencial parceira. 

Poucos meses se passaram, Cidinha foi ficando mais fraca e contou ao filho que estava morrendo. Ele quase se desesperou, mas entendeu o que a mãe vinha fazendo com ele. Cuidou dela, dando atenção e o que ela precisava. 

Ficou quase um ano de luto, refazendo a vida, organizando as coisas, colocando em prática a sentença que a mãe lhe deu. Começou um novo namoro, mas ainda conservava o amor pela ex-mulher. Decidiu que a reconquistaria, para poder lhe dar o melhor dele. Acompanhava a carreira esportiva dela à distância e sabia em que clube ela jogava. Foi atrás, conseguiu a atenção dela. Disse que podia esperá-la. Dois anos se passaram e Olavinho e Cláudia conseguiriam se reunir de novo. Ela estava mais madura, já pensando no que faria profissionalmente quando parasse de jogar. Ele a apoiava. Decidiram aumentar a família, com filhos, gato e cachorro. Cláudia conversava com Cidinha diariamente, agradecendo o que ela tinha feito pelo filho e, por extensão, por ela. 

É isso, ensinar aos meninos a "não depender de mulher!", e nem de homem!!!

Simone de Paula - 18/02/22

Nenhum comentário:

Postar um comentário