sexta-feira, 26 de junho de 2020

Cristal

O brilho fascinante me fez jurar que era um diamante.
Olhei de perto e vi a opacidade no fundo daquela pedrinha. 
Tentei justificar a falsidade. Lustrei, poli, quase lixei, só o não fiz porque era demais, invadir aquela superfície daquele jeito. E lá, bem dentro de mim, eu sabia que poderia rachar a rocha se friccionasse demais os pontos opacos. Parece que não quis ferir, mas acredito que o que tive foi medo de perder.
Resisti, insisti, fiz perdurar. Desviei o olhar, a atenção, cheguei mesmo a acreditar que era um defeito da minha visão. Mas não, era mesmo um cristal no lugar de um brilhante. 
O cristal tem sua beleza, seu brilho e sua fragilidade. 
Um diamante, por sua vez, não quebra com facilidade, por mais delicado que pareça.
Coloquei numa caixinha a pedrinha e deixei escondida, se brilhante, não queria que me roubassem, se cristal, não queria que quebrasse. Mais uma vez a certeza, não queria perdê-lo.
Bem, mas o que existe não é fácil esquecer. O tempo passou e aquela peça me pediu insistentemente para ser vista como ela é, frágil, barata, mesmo que brilhante. Aceitei. Junto com ela, aceitei também que eu quero mesmo um diamante, não basta brilhar, tem que pesar, valer, durar de verdade.
Deixei o cristal exposto, aquela matéria mineral que carrega a energia concentrada nos seus átomos, e fui atrás do meu brilhante.

Simone de Paula - 26/06/2020

 




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