sexta-feira, 3 de julho de 2020

A noite impossível

Esta noite foi impossível. A agitação tomou conta do mundo. Quando deitei, suspeitei que não conseguiria dormir tranquila. O sono me acompanhava, mas havia algo estranho no ar. E, nesse caso, o ar era mesmo o ar, porque o vento não parava de soprar. Não sei dizer se aquela ventania tinha começado pela manhã ou já nos acompanhava desde os dias anteriores, mas o fato era que o estranhamento vinha mesmo do incessante.
Relaxar o corpo e a mente, garantir o calor no ambiente, fechar os olhos e pronto, sono vem, ansiedade vai. Mas o barulho das janelas lembrava que havia algo lá fora, o vento, ventania.
"Abre os ouvidos, acorda!" Um mandato mental de tempos em tempos. "Vira para o lado, dorme!" Eu tentando seguir noite afora. Esses comandos me acompanharam por umas três ou quatro vezes entre o tarde da noite e a alta madrugada. 
Lá pelas três e tanto da manhã, a ventania acelerou. Mais janelas batendo e não só elas, a força do vento gritava nos céus: "não é hora de dormir, levante!" E foi isso que eu fiz, saí da cama direto para a janela da sala. Olhar o ar, ver o vento, impossível. Mas aquilo é massa, tem força, empurrava as árvores com energia. Entre o movimento delas, as árvores, o barulho dele, o vento, e minha visão, nada parecia coincidir. Elas movimentavam com um vento forte, eu ouvia o sopro da ventania, e na noite escura, fora isso, a imagem era de paz. 
Voltei para a cama, deitei, tentei adormecer de novo, mas dessa vez não deu. 
Saí da cama, andei pela casa, fiz café e resolvi a estrutura de um texto que eu estou escrevendo. Fui ler sobre o assunto, agora sabendo o que extrair da minha fonte. 
Parece incrível, mas o que o vento queria era a minha vigília, pois foi só eu sentar na minha poltrona que ele parou. Talvez isso, talvez o amanhecer que parecia se aproximar, mesmo que a claridade ainda não despontasse no céu. Mas uma coisa eu sei, depois das quatro e quinze da matina, o silêncio voltou a reinar no céu.

Simone de Paula - 01/07/2020 



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