sexta-feira, 10 de maio de 2019

Diário de Bordô

Embarquei com a cara e a coragem.
Cheguei sem nada.
Descobri o querer e agora quero muito.
Me ofereceram o primeiro. Um tanto amargo, pegou um pouco na boca.
Tomei o segundo, pareceu mais agradável. Era diferente do anterior, mas carregava certa semelhança, especialmente a impressão de pesar na língua, me fazer perceber que tinha passado por ali. 
No terceiro tentei segurar mais antes de engolir. Já tinha aprendido que não era para a sede que aquilo servia, mas para me marcar, deixar restos na pele.
O quarto chegou e eu já não tinha mais como ficar calada, silenciosa. Articulei boca e lábios, língua e garganta, jorrando as notas musicais da minha voz. Falei, recitei, cantei.
No quinto, meu corpo inteiro estava inquieto. Levantei, andei, circulei, dancei.
O sexto chegou e nele ainda tinham bolhas, suavidade, doçura e uma explosão de prazer. Andei pelas nuvens, toquei as estrelas, me entreguei ao solo.
Eu já não sabia mais quem se movia, se era o corpo, a alma ou o mundo.
Um toque e uma voz grave sussurrou: quer o sete? Sorri. 
Dali em diante, nem sei se resisti.
O mundo é uma festa e Dionísio está entre nós.

Simone de Paula - 10/05/2019

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário