sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A escrava

Almejava liberdade, não das correntes que prendiam os seus pés, mas dos olhares que seguiam os seus passos.
Não era dona nem do seu corpo, nem do seu destino, pois mesmo se escondendo e esquivando, o desejo alheio não a esquecia.
Não tinha gosto de elogio a perseguição desmedida, mas de cruel capricho de quem pouco obedecia.
Alguns que lhe tinham compaixão, diziam para pensar em outro lugar, se transportar para evitar todas as humilhações e ofensas. Mas era impossível imaginar qualquer outro lugar que não aquele, em que nascera, fora nomeada e criada. 
Nos momentos em que alguma agressão física era inevitável, a dor do copo não podia criar um escape, nem mesmo assim, tinha liberdade para sentir raiva. 
Obediente e passiva, afirmava sobre si mesma que era uma escrava e assim deveria ser tratada. Se reconhecia ali, sendo quem tinham dito que ela era.
Só se pode ver mundo quando mundo te dão.


Simone de Paula - 07/09/18

Conto inspirado na leitura de 'A escrava Isaura', de Bernardo Guimarães

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