sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O halterofilista

As ruas são o retrato vivo do que as redes sociais insistem em tentar expressar. 
Ontem mesmo eu andava de ônibus pela avenida bernardino de campos, aquela no comecinho da avenida paulista, e dei de cara com o 'halterofilista'. O cara não tinha nenhum tipo de constrangimento em fazer seu treino no meio da rua. Às suas costas, estava o ponto de ônibus, à frente, a banca de jornal. Ao lado, estava a família de moradores de rua com seu carrinho de supermercado lotado de cacarecos e mais adiante, o ponto de táxi. Margeado por duas vias por onde circulam carros, ônibus e milhares de pedestres todos os dias, ele ocupava o centro da rua, ou melhor, o centro do palco. Não tinha como não ver a sua performance. Roupa de ginástica, calção, camiseta, tênis, mas com o toque inusitado que chamava a atenção, o gorro a la 'onde está wally', completando o visual. Na mão, um haltere pesado que servia para o exercício de bíceps. No entanto, otimizando o tempo, ele aproveitava e a cada subida de braço vinha um agachamento completo. Ele não urrava nem fazia ruídos, mas seu gestual era tão expansivo que exercia um chamamento ao olhar de quem estivesse por ali. Não tinha foto, tinha cena. Não tinha barulho, tinha som.
Sorri, como sempre faço. Pensei, quero contar isso pra alguém. Ligar? Não. Escrever? Sim. Desenhar? Também.

Simone de Paula - 24/8/2018


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