quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cuidador

Pi pi pi pi pi pi
Um dos tantos sons que se ouvia do quarto. Os outros mais comuns eram dos carrinhos de limpeza, comida, dos exames, material de tudo, lençol, algodão, medicação. Os aparelhos medidores tinham cada um sua própria sinfonia, ar que fazia barulho, ar de respiração quando o sufocamento tomou conta de tudo. Também as conversas dos corredores, a cada seis horas trocavam de turno, médicos, enfermeiros, catering, manutenção. Todos os dias eram novas pessoas, a política do lugar diz que todos devem circular. Portanto, mal temos tempo para o afeto, um pequeno apego ou uma pequenina continuidade.

Neide foi a primeira com quem estive irritada. Não porque era ela, mas porque era eu. Qualquer coisa diante de dias e noites na frente da dor, me fariam bravejar,  se parece simples uma receita, em pouco tempo não é mais. Dormir não é mais simples, é complexo. Uma vida toda se revendo pelo corpo, sintoma. Um amor que nunca foi dito assim, revelado. Sempre nos conhecemos e pouco soubemos de nós, não imaginava que os olhos tristes vinham da sua história passada que nem você quer lembrar. Mas há algo novo onde penetramos, mais que agulha na veia.

Perguntava, apitava continuamente em nossas cabeças, ardia, a cada segundo de hora, nos agredimos e choramos, onde está a nossa cura?

Muitas vidas, mudando.
Uma cadeia de desamparos.
Seja possível, acolher.



 Maria Laura

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