terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Olhar

No silêncio da sala, meus olhos buscavam algo que nem eles sabiam o que era. De repente, como se acordados de um sono profundo, encontraram uma janela enorme de madeira. A janela na cor verde escuro, aberta, era uma bela moldura para o mundo lá fora. E meus olhos simplesmente estacionaram nessa janela. Minha memória mais remota tomou a frente da cena e imediatamente eu escutei música lá fora, como se estivesse passando um bloco de rua. O sol estava a pino, a luminosidade que entrava pela janela irradiava a sala toda. Tanto quanto a luz que entrava pela janela, a sensação era que as pessoas também entravam. Algumas pessoas passavam na frente da janela, outras paravam, outras se apoiavam no batente, outras cantavam e dançavam e tudo acontecia ali, diante da janela.

Os confetes e serpentinas pulavam bem na frente dos meus olhos se misturando com as fantasias coloridas e brilhantes. Para uma criança de quatro anos, tudo aquilo era um reino encantado. Mal conseguia piscar, na tentativa de não perder nenhum momento daquilo que acontecia ali diante dos meus olhos. Eu estava no colo da minha mãe, fantasiada de bailarina, com meu tutu rosa e com uma coroa de princesa na cabeça. Estava imensamente feliz com tudo aquilo, radiante de fazer parte daquele reino. Aos quatro anos não sabia de nada disso, mas agora com os meus olhos fixos nesse momento, percebo o quanto estava feliz. Na época, meus pequenos olhos iam de um lado para o outro em busca de todas as cores que pudesse achar, como se quisesse colecioná-las. Meus olhos estavam me levando para longe e eu queria ir, queria voar. Foi ali que começou a minha vontade de ir, de ir embora, de ir de um lugar para outro, de ir de um sentimento para o seu oposto. Ali naquela janela foi a primeira vez que fui embora, que fui para longe, mesmo que enlaçada pelos braços da minha mãe, sem ter saído da janela em momento nenhum.

Carla 02/02/2016

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