Eu conheci um cãozinho, Dog-boy.
Ele chamava pouca atenção: tinha porte
médio, era branco com algumas manchas de cores comuns. Nada demais.
Apesar dessa aparência indistinta, ele era um cão muito ativo, não
parava, sempre pra lá e pra cá circulando, chafurdando, farejando.
O mais curioso é que ele parecia ser muito
interessado no mundo. Atento, olhando tudo e todos com muita atenção.
Investigativo, chegava perto e parecia querer muito interagir. Ele
rondava, se aproximava, mas perdia o interesse e seguia em outra
direção.
Um dia resolvi prestar atenção ao que ele
fazia e por que se desinteressava. E notei que ele tinha um limite, ele
estava preso. Pensei: mas que coisa, como pode um cão sem coleira estar
preso?
Observei o espaço que ele ocupava e percebi
que não aparecia nenhum dono, nem voz de dono. Ele estaria sozinho? E
por que permanecia ali, brincando apenas naquele espaço restrito? O que
não havia me dado conta é que tinha uma fronteira entre ele e o mundo.
Ele estava num quintal, na frente da casa, mas entre ele e a rua tinha
um belo portão. Como o portão era baixo, nem imaginei que isso o
limitaria. E se ele quisesse, o portão não seria problema para ele sair e
explorar aquela imensidão que passava pelos seus olhos, pelo seu faro.
Fato é que Dog-boy não fugia. Ficava ali, serelepe, animado, mas
obediente ao seu amo, delimitado pelo quadro que lhe tinha sido
designado.
Dog-boy era um cão safado, porque não tinha
carisma, mas se mostrava para quem dali se aproximasse. Ganhava pouco
tempo de atenção e guardava aquilo como um troféu da sua aventura. O que
faria Dog-boy viver alguma aventura um dia? Como será que ele
atravessaria aquele portão? Daí fui eu que fiquei presa naquela teia de
fantasias e suposições, ligada naquele cãozinho, na rua, separada por
aquele portão.
Um latido vindo de outro lado me acordou.
Percebi que Dog-boy tava todo excitado com o cachorro saltitante que
passeava com seu dono e isso me deu a pista pra entender quem era
Dog-boy, o cão que não late, não morde, só fareja.
Simone de Paula - 31/1/2015
Conto inspirado em uma cena urbana que se repetia diariamente
Lindo!
ResponderExcluirCade curti? ;)
ResponderExcluir:)
ExcluirHihihi