sexta-feira, 30 de abril de 2021

Migalhas

Plaft!

O som seco representava a queda do saquinho de mini-pães de queijo caindo no chão.

Laisse colocou o focinho no saco da forma mais veloz que conseguiu. Joca, tranquilão, como sempre, abaixou pra pegar. Não olha pra ela, nem notou o olhar dela que se dividia entre o cheiro atraente e a submissão ao dono. 

Ela quer, não sabe como pedir. Ele tem, e decide se quer dar ou não.

Sai andando, ela atrás, louca pra conseguir um pedaço do petisco. Ele abre o saco, faz barulho, pega um, morde, olha para o horizonte, dá mais uma mordida.. Enquanto isso, Laisse anda meio de lado, abana o rabo, não olha mais nada a não ser a mão dele. Aliás, mão e boca, seguindo aquela bolinha amarela pálida que despertou os demônios da cachorrinha. 

Na perseguição cega ao pão, e a confiança completa no dono, nem olha para a rua quando atravessa, correndo o risco de atropelamento num caso desses. O dono, sabe que ela quer, consegue ver pelo campo de visão todos os movimentos dela. Mas gosta de controlar a situação. Ameaça dar um pedaço, de forma dissimulada, só pra mantê-la o seguindo. 

Finalmente ele joga um pedacinho pra ela. Ela come, nem sabe o que entrou na boca, nem sabe que gosto tinha. Tão sedenta pelo que tinha desejado, engoliu sem nem perceber. 

Em um micro segundo, lá está ela de novo, olhando em desespero para o dono, olhar fixo entre a mão e a boca, na esperança de que em algum momento, mais um pedacinho, ou uma migalha, caísse no chão pra ela pegar.


Simone de Paula - 30/04/2021

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