sexta-feira, 2 de abril de 2021

Destinatário: Amor

Ainda não decidi se essa missiva seria carta ou bilhete. Só sei que optei, finalmente, por colocar o destinatário no seu devido lugar.

Te escrevo há muitos anos tentando acertar as palavras que fariam você se curvar, ceder da eterna posição de quem dá as cartas e termina o jogo, antes mesmo de termos um vencedor. E, pela lógica, ganhou aquele pra quem bastou o que tinha sido jogado.

Mas não era nada disso que eu queria te dizer. Vamos voltar ao começo: carta ou bilhete?

Bilhete. Pode ser curto. Não é nada demais a não ser um detalhe, um lembrete, uma coisinha que não pode passar em branco.

Amor, não sei porque insisto em te colocar no lugar de outro, muitas vezes no lugar do pai, sabe-se lá o que é isso: genitor, protetor, orientador, mito, deus? Bem, mas te escrevo para dizer, te quero! Só não sei se te posso.

Ficaria bom? Não. 

Nem sei como te escrever, Amor, porque as palavras são banais diante dos sentimentos intraduzíveis que sinto diante de ti, todas as vezes, arrebatada, disposta para tentar te alcançar.

Confesso, o que eu queria mesmo é que você me ensinasse a habilidade com as flechas. Estar no seu lugar, fazer o que você faz, sentir prazer no match bem mal feito, em que as partes em questão se desencontram na tentativa de fazer dar certo a promessa da união.

Inveja, é isso. Um dom como esse, quisera eu. Poder experimentar sem precisar me deter tempo além do deleite dos primeiros lampejos da inspiração. 

Me dá! Só quero um dia de você. Todo, completo, inteiro. Seu dom em mim e você arrebatado assistindo meus comandos. Me dá!

É, acho que um bilhetinho assim ficaria bom. 

 

Simone de Paula - 02/04/2021

 


 



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