sexta-feira, 26 de março de 2021

FDP

Para um filho da puta, só resta uma puta para ser sua mãe.

Era isso que ele era, um filho da puta. Não que tenha nascido assim, nem que tenha sido parido por uma puta. Mas, quando se deu por gente, foi assim que se viu. 

Uma rejeição, cedo demais. Não que não nos aconteça o mesmo, porém, lá dentro dele, era particular.

Um abuso, vindo de onde menos se espera, na confiança e na intimidade. Nem sempre é o mesmo pra todo mundo, tem a questão da sorte, quem tira cara, coroa ou curinga?

E eis o filho da puta! Só pode, porque para não encontrar contraponto pra rejeição e nem proteção ao abuso, só pode ser um abandonado, trocado pela moedinha que vale um litro de leite e o gozo do outro. 

Mas daí, já foi! 

Ele encontra em cada puta a visão da santa mãe, mas não consegue ter mais do que o corpo e a mão aberta à espera da nota que paga o breve encontro imaginado. Busca em cada mulher aquela que por trás da imagem de puta, deveria ser a mãe.

Encontrou os litros de leite, nas mais variadas formas, até mesmo no leite de vaca. Descolou moedinhas para ter a paga no lugar do outro. Não precisava de mais nada, porque já tinha as vias de tê-la só para si. Quando chegou bem perto, teve medo, medo de perder a busca. Jogou as moedas fora, esvaziou as garrafas de leite, se abandonou, quem sabe assim a mãe viria como mãe, mesmo repartida entre outros. 

Fez isso tantas vezes isso, que um dia viu que a mãe não vinha, esperou, definhou, entendeu que o que tanto esperou morreu. Não tem mais como ficar buscando em substitutas aquela que era a matriz desejada. Com a puta morta, morre o filho da puta. O que resta agora? Quem vem no lugar?

Simone de Paula - 21/03/2021

Obs.: história verídica que só podia ser contada a partir do lindo filme Rosa e Momo, de Edoardo Ponti, com a diva Sophia Loren.


 

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