quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Mel

Saíram para almoçar grãos e naturezas.
No caminho falavam dos meninos. Ah...quanta meninice!
Pão caseiro, geléia azedinha, beringela com liga, liga de banana verde.

- Foi uma tristeza viu, plantei a rúcula com todo amor, tava pronta, linda, verde, muito verde, parecia viva.
- Gostoso.
- Nada, tava toda comida, amassada, coisa de mini tornado.
- Como foi isso?
- Acusei o marido, as crianças, nunca pensei nela, quando descobri...Você dá um duro danado e sem a menor consideração ela chega e destrói tudo, um trabalho de dias e dias!
- Quem foi?
- Olhei para ela furiosa, dei o maior sermão, falei mesmo sem dó, que isso não se faz, que ela precisa ser mais responsável, comprometida, que tem que respeitar o trabalho do outro, que eu não to aqui de brincadeira não, que uma rúcula é coisa séria, é nutrição! É nosso alimento, que hoje é preciso pensar com consciência, com amor por tudo, tudo mesmo. Não se pode fazer o que quer assim do nada. Poxa vida. Com aquela indiferença comecei a levantar a voz, fui suando de nervoso. Deixei tudo muito claro, dei um basta, joguei na cara um monte de coisa guardada. Ah se fosse só a rúcula! O que me mata é esse olhar, esse ar de superioridade, parece falta de sentimento, que não tá nem aí, só de pensar quero chorar, gritar, explodir!

A gata saiu calmamente e deu uma bocejada. Parou um pouquinho no pé do sofá cor de rosa para arranhar o tecido gostoso e macio. Muitas outras sementes seriam plantadas.

Maria Laura







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