Americano transforma tudo em
verbo. Dê a eles um substantivo e veja que verbo bem empregado, mesmo que
sonoramente estranho, eles conseguem produzir. Estranho é para nós que não
exercemos esse mesmo trabalho sobre a língua. Provavelmente para eles, que
entendem esse fazer com a língua materna, já fica bem entendido o sentido de
verbalizar os substantivos, transformar nomes em ações. Esses danadinhos... parece que eles que
inventaram, com seu jeito de falar, o sem fim de fazer, fazer, fazer em que
vivemos hoje.
Que momento mais doido do mundo, a
gente não pode parar de produzir nem um minuto. Retornamos ao ponto em que
vamos desde o plantio até a venda da manufatura, tudo pelas mesmas mãos. Por
mais sagrado que isso seja, num mundo em que temos excessos de consumo, a
exaustão se instala. Não adianta tirar a religião de cena se o modo de vida é
religioso. Aliás, a estrutura da cultura
e da religião funcionam do mesmo modo, por isso existem desde sempre. O
Agamben, um dos meus crushes das letras, fala de um jeito gostoso das
sacralizações.
As mulheres estão abarrotadas,
cansadas, doentes, o tempo todo. Estou generalizando, sim. Mas por quê não
generalizar? Especificamos demais e isso cansa. Sintetize e generalize, porque
não importa mesmo tanto assim. Voltando a elas, olham umas para as outras e
dizem, “vamos lá! Não para, miga!” Jamais dizem, “para mesmo, sossega, dorme,
descansa, faz nada, ocie bastante”.
O verbo ociar deveria ser
conjugado com mais frequência. Borá lá fazer nada sozinhas, em casa, sem gastar
nenhuma caloria. Dar um tempo para as calorias. É isso!!!! Porque elas estão
aceleradas e desgastadas. Nem a caloria tem a mesma potência que tinha nos anos
80. O low carb veio com tudo tirar o protagonismo daquela figura incontável das
nossas vidas. Decadente, a caloria não tem mais função, mesmo ativada 24 horas
por dia. Tudo que parece novo é só substituto do que não funcionou plenamente no
passado. Nem o pobre do ócio tem mais espaço, e justo ele que teve status de
promover criatividade, despertar gênios por aí.
Este texto serve para quê mesmo?
Para nada. É isso, um fazer para nada, sem finalidade objetiva, apenas um fazer
isso aqui com aquilo lá.
Simone de Paula – 17/01/2019
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