sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Não morra!


Morra de amor, mas não morra de dor.... por favor!
Te vejo assim, implorando a morte todos os dias.
Não entendo como isso pode ser tão forte e nenhum lampejo de luz é capaz de te abrir os olhos.
Sinto daqui você soterrado nas cinzas da sua própria história. Não há o que eu, ou qualquer outro, diga. Parece impossível você reescrevê-la. Não digo usar uma borracha ou um corretivo que tente apagá-la, como acredito ser o que você espera. Isso ainda deixaria os traços mudos e marcados nos vincos do seu corpo. Penso em passar um risco em cada palavra, cada ato, cada gesto que te dá vergonha, asco, culpa ou decepção. Todos passamos por isso, rachamos por isso. Você é mais sensível? Sim, talvez? Não sei. Eu sou e risco diariamente o que era e já não é mais.
Tenho esse vício de me apegar aos que eu reconheço como meus aparentados. Unidos pela história torta, desregrada, dolorida. Grito para eles sobre refazer os garranchos, rasurar as caligrafias. Em vão. O absurdo dessa cena é que ouço o eco, em mim, da frase que eu mesma poderia ter dito, ou disse: “o que eu digo não importa”. Ouvir isso foi tão fundamental porque eu mesma ainda me comporto como você. Valido que minhas palavras não importem para você. E você insiste em me atender e não ouvir o que repito sem parar.
O tarot me disse hoje: ‘vai, siga, rabisque completamente esse chão que está desenhado na sua frente’.
Num espaço lúdico da minha mente, vejo meu jogo de amarelinha, do céu ao inferno há apenas dez casas. Daqui para lá e de lá para cá, sem parar, senão a brincadeira acaba. No outro espaço fantástico, os tijolos amarelos, tocados pelos sapatinhos vermelhos, colorem e floreiam a velocidade dos pensamentos, as batidas do coração e a força da coragem. E ainda, tem mais. A sombra silenciosa traz o frisson da floresta escura por onde a feiticeira colhe os ingredientes da próxima poção. Eu ficaria aqui por um longo tempo imaginando caminhos, estradas, percursos possíveis para atender a esse destino. Rabiscar, rasurar, remarcar.
Me chamei de passante. Se fui bem ouvida na ocasião, isso importou. Só saberei mais adiante. Mas, se ainda o que eu digo não importa, só poderei passar, insistir em marcar uma nova posição em outro lugar.

Simone de Paula – 25/01/2019

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