sexta-feira, 20 de julho de 2018

Foi por ai

Por muito tempo as palavras brotavam sem pedir licença. Escapavam da minha boca e eram admiradas pelos meus próprios ouvidos, como se nunca tivessem sido pensadas por mim. Não nego que saiam incertas. Trafegavam nas rotas abertas em busca de quem (era certo pra mim) existia.
Sua chegada foi só corpo, buscando qualquer coisa que pudesse conter o furor dos movimentos. Foi estranho, porque se minhas palavras eram errantes, seu corpo era delirante. 
Resolvi brincar com a incompatibilidade, musicando com palavras os gestos bailados dos seus movimentos. Foi uma peça longa, cheia de atos e desatos, conexão e quebra.
Te ensinei palavras, você me ensinou corpo. Te devolvi carne e você me entregou segredos. 
Me ligou. Uma fenda se abriu. Não consigo mais só palavras, tenho corpo. 


Simone de Paula - 20/7/18

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