Desceu do ônibus no lugar errado, estava distraída com a
leitura, coisa que não aparecia há muito tempo. A distração sempre vinha de
outros lugares. Do tempo, das pessoas tropeçando com a freada, um corpo
estranho diante do seu, da distância, do afeto que ficava longe de quando em
quando, as perguntas velozes sem respiro dentro da sua cabeça chacoalhando
pelas ruas de São Paulo.
O livro falava da menina no trem, era o começo da história,
mas se identificou com a passagem, de um caminho ao outro, mais uma. Era um dia
de sol, ainda não estava escondido, naquele lugar aparecia céu, aparecia azul e
branco, dava pra ver que no rosto de cada um tinha luz, sombra, contorno.
Não sabia daquele ponto, naquela rua, viu uma grande escada a poucos passos
da calçada, era o meio da cidade, um atalho novo, gente sentada, casal
namorando, calcinha rendada aparecendo pelo jeans desbotado, músico, instrumento, milho cheirando
margarina, pão de queijo azedo, dogão prensado, grafite de criatura que parecia
a cuca malvada, canteiro de terra, corrimão e cimento.
No tempo de uma escada coube um jeito de ver, jeito que tem
vida de fora e vida de dentro.
Andou calma, o mais que pode, passo, degrau, prestou atenção
na quantidade de tudo nesse espaço de tempo, nesse espaço de espaço.
Entrou no metrô, abraçou o livro, cheirou
as páginas quase coladas, respirou folha e palavra, não sabe como seguirá o desenho dessa narrativa.
Novo capítulo.
Nada a fazia mais viva do que atravessar a rua e depois ser conduzida, pela entrega.
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