sexta-feira, 22 de abril de 2016

o que veio primeiro?

O que veio primeiro, o ovo ou a galinha? O desejo!

Assim poderia ter sido resumida aquela explicação tão reveladora das escrituras e das estruturas. O professor falava tranquilamente dos aspectos históricos e políticos sob os quais estamos amparados e a aluna curiosa e astuta sacou a pergunta:
"Professor, o que veio primeiro, a religião ou a política?" E ele, bem tranquilo, foi direto na resposta: "O sedentarismo!"
As alunas franziram a testa e silenciosas esperavam a explicação para aquela resposta desproporcional que tinham ouvido. E ele continuou, com uma voz melódica, como um antigo cantador de mitos:

"Nascemos nômades. Nossa vida era andar por aí, incansáveis, sem saber qual era o momento de parada, de descanso. A gente seguia. Quem nascia, seguia junto, quem morria ficava pelo caminho e servia de comida para as bestas que habitavam a terra. Um dia, alguém resolveu parar, todos pararam juntos. E, na primeira morte, notaram que não dava para ficar ali com o morto fedendo, em decomposição, e com o perigo do ataque de algum animal feroz. Então, levaram o morto para longe. Mas nenhum longe é longe o bastante, pois ainda assim estavam próximos demais. Resolveram então fazer um buraco e enterrá-lo, pois debaixo da terra não federia. Dose ilusão, o cheiro continuava a aparecer e os animais também continuavam a rondar, cavar a terra em busca das vísceras que ali jaziam. Nessa época, e pela estrutura que já se organizara ali, a capacidade de produzir utensílios de cerâmica já era conhecida daqueles que tinham se instalado numa determinada região. Resolveram então cuidar dos mortos de forma diferente: fizeram um ataúde de cerâmica, o colocaram dentro, fecharam, vedaram com cera de abelhas e o enterraram. Pronto, o morto não atrapalharia mais. Mas, nem todo mundo sabia fazer o serviço, e quem sabia, ficou incumbido de cuidar dos mortos. Pronto, temos o Sacerdote! Mas tinha também aquele macho alfa na tribo, o que é mais forte, mais corajoso. É esse que passa a mandar, determinar quem faz o quê, e como. Pronto, temos o Político. E para completar, tinha os 'machinhos beta', aqueles que queriam ter a força e a potência do verdadeiro macho alfa, mas não tinham. Esses viraram seu exército, protegiam e obedeciam, na espera de ter sua vez no comando. Pronto, temos uma estrutura que dura até hoje. Vamos seguir com a aula?"

Simone de Paula - 21/4/2016



Conto inspirado na aula do prof. Roberto Coelho Barreiro Filho. Como todo mito contado, este serve para muito mais do que representar um fato real, mas para metaforizar as condições humanas diante dos impasses com a natureza.

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