sexta-feira, 14 de maio de 2021

As maçãs de Edimburgo

Era Edimburgo e tinha maçãs.

A surpresa estava por toda parte. E eu, rodeada do vento gelado e úmido de um final de outono.

As formas descortinadas na cidade iluminada pelas luzes da rua e enegrecida pela superfície molhada do asfalto só comunicavam insistentemente isso: é Edimburgo. A repetição dessa frase, vinda do mais lúcido da minha mente, vinha em auxílio ao não reconhecimento de nada que estivesse diante dos meus sentidos. Tudo era mistério mesmo que estivesse declaradamente exposto.

A excitação era atravessada pelo frio. A ansiedade se conformava na pressa do caminhar. A fala não tinha o que dizer, mas transbordava com frases inócuas, referências banais, apenas buscando sair do desconforto.

Rua, prédio, porta, chave, sala de estar. Ufa, cheguei!

Exploração do território de 60 metros quadrados confortáveis e aquecidos.  Investigação de armários, em busca de chá para esquentar o interior do corpo que deveria se manter em aproximadamente 37 graus.

A ansiedade baixou, o corpo acostumou, a cabeça decifrou: estava tudo ali, me entendia naquele universo estranho, com todos os elementos conhecidos necessários para aquela noite de descanso.

Exploração II, comida! 

O anfitrião gentil tinha deixado pão, leite e maçãs!!! Que curioso, que excêntrico, que prazer! Quem deixa maçãs para o café-da-manhã? 

Nem todos tinham gostado dessa opção, e saímos em busca de mais. Eu só pensava nas maçãs. O que eu comeria com elas? Sim, iogurte e flapjack, aquela gororoba de aveia e mel que só pode ter sido inventada por elfos, tamanha suavidade ao paladar.

Os dias seguiram e eu, nas maçãs frias e chá quente. Me pergunto de onde veio o gosto pelas maçãs. Talvez as histórias da Branca de Neve. A oferta na infância foi a mesma que com outras frutas, então, acho que não foi por aí. Confesso que essa queda pela maçã, que veio desde Eva, também tem uma carga de fazer diferente do comum. Mas, seja por isso ou por outra coisa, realmente é uma fruta que me seduz. 

Maçã do amor, cozida, assada, picada, em compota, todas elas. No entanto, o prazer de enfiar os dentes naquela carne firme, experimentar o suco úmido e doce que acompanha a massa seca e neutra, tem um efeito muito erótico. Misturada com iogurte, que frescura! Acompanhada de chá, que aconchego!

Bem, mas voltando a Edimburgo e seus dias iniciados com maçãs, me lembro que tenho que voltar.

Simone de Paula - 14/05/2021




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