sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Escrever o Conto.

Eu queria escrever uma história, com começo, meio e fim. Mas para isso, era preciso primeiro saber o que contar e de quem contar. 

Decidi falar de uma mãe e seu bebê. Os primeiros meses, as impressões, sentimentos e pensamentos que naquele encontro poderiam se passar. Mas daí lembrei do pai e ele me exigiria começar antes do bebê, na história de uma mulher e um homem. Desisti, ia ficar longa demais, complexa.

Então, resolvi que poderia escrever a aventura de uma criança de sete anos passando as férias na casa dos tios. Mas daí percebi que a situação pedia uma explicação. Se eu quiser escrever sobre isso, o simples fato de ter o que contar disso me levaria a ter que explicar o porquê dessa criança, nessas férias, estar na casa dos tios. Possivelmente, os personagens aumentariam e a história dos pais entraria na narrativa.

Bem, poderia escrever sobre o envelhecimento de um homem, seu corpo, sua vida, suas desculpas. Mas como uma biografia, isso pediria ir voltando até sua infância, nascimento, encontraria de novo os pais. 

Entendo então, que aquilo que se conta faz um movimento retrógrado, em busca do início do que parece pedir para ser contado. E, quando caminhamos de volta ao princípio, na gênese estão eles ali de novo, os pais. Antes de tudo, o pai. 

Já chamamos de deus, mas a ciência encontrou um nome melhor, espermatozoide. Cada um que nomeie o primeiro de todos, o início de tudo, com o nome que quiser.

Mas nessa caminhada, pensando no pai, aquele lá do bebê da primeira história, olhando pelos olhos dele, registro um rasgo de pensamento: "ufa, dei Y, parte da dívida já está paga!"

Simone de Paula - 18/12/2021

Ilustrador: Davide Bonazzi


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