sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Aparição

Eu queria mesmo era poder traduzir em palavras o que foi aquela aparição.

Eu estava sentada, num papo amigável, sobre questões íntimas, dores do corpo e da alma. 

O clima não era sombrio, bem como o ambiente também não estava escuro. Tinha luz, sol, cor, sorrisos e simpatia. 

O convite veio com o prévio aceite combinado: "feche os olhos!" E eis que naquele exato instante de pálpebras cerradas, o bichão pulou no vidro.

Eu estava em outro lugar. Ao mesmo tempo eu via minha silhueta de costas, numa sala escura. E via ao fundo, duas pessoas conversando numa sala de meeting. E, entre esses dois planos, um terceiro, espécie de aquário, em que a criatura apareceu.

Realmente não tive um susto, mas uma surpresa. Tinha uma cara de Gólum, zumbie, cadáver de capa de disco de heavy metal, algo desse tipo, mas jamais assustador, era uma coisa que me olhava curiosa.

Eu estava do lado escondido do vidro, tipo sala de interrogatório, ou estúdio de rádio e tv, ou ainda a chamada sala de espelho, aonde quem está do lado iluminado não vê do outro lado. 

Ainda agora, quando eu escrevo, sorrio pela carinha inocente e perversa daquela coisa e não consigo dizer mesmo a cena toda.

Somando, eram três planos, observados por um quarto olho. Dois de dentro para fora e dois de fora para dentro. E o som, do lado de cá era silêncio, que combinava com o ambiente escondido. E, do lado de lá, era vácuo, causado pela separação entre as salas. No vidro e na cena de dentro, a luz toda era vermelho alaranjada, quente, vibrante. E, na penumbra, era apenas um cinza preto e branco, ao mesmo tempo que as cores da realidade, apenas apagadas pela falta de luz do ambiente.

Surreal, sobrenatural, onírico, não dá para capturar, e isso só acontece quando a gente não planeja.

 

Simone de Paula - 11/12/2020



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