Se Blanchot escreveu o livro por vir, esses dias descobri a palavra por vir em mim.
Não tem forma, não tem letra, não tem nem impulso. É uma coisa que trava, sufoca, faz sofrer.
A boca cheia, o peito oprimido, o estômago estufado, o intestino entupido, o ânus rasgado.
De fio a pavio no corpo os restos daquilo que está lá, mas sem ter como falar.
Amélie Nothomb conta da metafísica dos tubos, começa aqui e termina ali, passando liso sem nem marcar.
É um tubo, um oco, um buraco, ou é a massa amorfa que precisa se moldar para atravessar?
Falta dente, falta músculo, falta pressão, falta tesão.
A frase volta: eu queria encher tua boca de....
Porra!
Mas aí é que está - A boca cheia, o peito oprimido, o estômago estufado, o intestino entupido, o ânus rasgado.
A garganta! Aspirar, engolir, regurgitar, vomitar. Sair, parir, expelir, criar.
A palavra por vir.
Simone de Paula - 28/08/2020
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