Não quero o mudo, nem mesmo o calado.
Procuro no resto deixado pelo silêncio aquele pedacinho que faltava para ser dito.
Bati, cavei, raspei, fiz de tudo para tocar de leve o que tinha por trás da rachadura.
No som, na matéria ou no sentimento. Qualquer forma de existência que reverbere o que ainda não foi ouvido, mas está lá, pulsante, presente.
Descobri, em partes, que meus olhos poderiam imaginar o que seria aquilo.
Escrevi, desenhei, dancei e cantei. Os espaços foram preenchidos. Mas nem todos.
Formei símbolos, rodei em círculos, segui mudando de lugar.
Hoje eu sei, apaguei por achar que era possível calar o silêncio. Tolice.
Não esqueço mais. É nesse sem fim de certeza que se pode fazer o melhor com o que está lá sem saber.
Em cima da areia tem o mar.
Embaixo dela, também. É só cavar um buraco fundo que brota água salgada.
Como ela foi parar lá?
Simone de Paula - 30/03/2018
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