Me acostumei a ficar no cantinho, escondida, acoplada a um pedaço de tecido qualquer.
Já se foi o tempo em que eu era exibida e desfilava no bolso da calça ou na fronte da camisa. Ali eu era mais do que um anexo informativo de tamanho e modo de uso. Me bordaram com marcas e elas reluziam em mim.
Mas o fato é um só, eu não sirvo pra nada, apenas sou exigida a ocupar aquele lugar.
Do lado de fora, é sempre mais agradável, pra mim e para o usuário. Quando eu fico por dentro, incomodo, pinico, só me mantenho até vir a tesoura e me cortar ao meio, ou bem rente à costura da roupa. Porém, uma vez colocada, costurada, atada pelos furos e pontos da linha, não tem como me esquecer. Sou sentida, percebida nos movimentos, ou mesmo em repouso. Os mais detalhistas, pacientes, tiram todo o fio que prende aquele retalhinho na borda e fazem desaparecer os fiapos.
Porém, uma vez marcada a superfície, sou inesquecível.
Simone de Paula - 20/08/2021
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