sexta-feira, 27 de agosto de 2021

As rugas do amor

"Quem vê cara, não vê coração."

Esse dito dita a face do amor estampada na nossa cara. Não amor romântico (ainda que possa ser também), mas o amor ao si mesmo, amor aos vícios, amor às migalhas a que nos apegamos, achando que aquilo é o suprassumo da nossa existência.

Já foi o tempo que o amor (aí sim, aquele romântico, apaixonado, metade da laranja), dava ao semblante um brilho diferente. Os olhos olhando, como se mirassem aquele que se imagina. A boca falando, com a potência dos músculos e a umidade da saliva daqueles que beijam. O corpo exibido, implorando pelo corpo do outro. 

Todo dia vejo amor panicando, enrugando, estressando cada pequeno pedacinho do amante / amado. 

Aquele embalo que soltava todas as reservas com as quais a gente se agarrava ao mundo, agora se tornou aprisionamento ao outro. Mais do que nunca, não podemos largar aquela barra de saia que tocou na ponta dos nossos dedos, apavorados diante da certeza do ficar só.

Foi-se o tempo em que estar apaixonado carregava a ilusão de ter encontrado o par. 

Parece que agora, apaixonar é encarregar o par da finitude e da decepção.

Simone de Paula - 26/08/2021

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