sexta-feira, 2 de julho de 2021

Inveja

O olho que pescou o olhar furtivo, que mirava os olhos brilhantes de quem parecia feliz, despertou em mim a inveja. 

Não foi mais do que uma piscada, o foco foi decidido e preciso. Isso indicava a abertura do desejo. 

Me perturbou o que em mim viu, o que não deveria ter visto: o olhar e o olhado, me jogando do instante presente ao momento eterno do passado. 

"Quem mandou ver?", perguntava meu pensamento alarmado. "Não fui eu", pensava a minha consciência em resposta àquela gritaria mental. 

Passou, mas não desapareceu. 

Nos dias seguintes, os flashes da memória daquele olhar me acompanhavam, trazendo como sombra a inveja. Já era tempo de acabar com aquilo, tomar uma decisão, me livrar do que se dizia incessante. 

Olhei! 

Me desloquei do lugar invisível de quem assiste, passivamente, a imagem vívida. Recordei que eu também mirei, vi o olho, o olhar e o olhado, sem ser convidado, mas ativamente determinado. Não recuei da minha parcela de prazer, que usou os corpos alheios, expostos nas suas trocas, para compor a minha satisfação. 

Curti!


Simone de Paula - 02/07/2021





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