O olho que pescou o olhar furtivo, que mirava os olhos brilhantes de quem parecia feliz, despertou em mim a inveja.
Não foi mais do que uma piscada, o foco foi decidido e preciso. Isso indicava a abertura do desejo.
Me perturbou o que em mim viu, o que não deveria ter visto: o olhar e o olhado, me jogando do instante presente ao momento eterno do passado.
"Quem mandou ver?", perguntava meu pensamento alarmado. "Não fui eu", pensava a minha consciência em resposta àquela gritaria mental.
Passou, mas não desapareceu.
Nos dias seguintes, os flashes da memória daquele olhar me acompanhavam, trazendo como sombra a inveja. Já era tempo de acabar com aquilo, tomar uma decisão, me livrar do que se dizia incessante.
Olhei!
Me desloquei do lugar invisível de quem assiste, passivamente, a imagem vívida. Recordei que eu também mirei, vi o olho, o olhar e o olhado, sem ser convidado, mas ativamente determinado. Não recuei da minha parcela de prazer, que usou os corpos alheios, expostos nas suas trocas, para compor a minha satisfação.
Curti!
Simone de Paula - 02/07/2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário