sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Nó cego

Não tenho palavras para dizer aquilo que é claro em mim. Como é difícil expressar o que as coisas são, as miúdas diferenças entre elas, que se tornam inconfundíveis na materialidade da coisa em si, mas que passando pela voz se tornam mescladas e confusas.

Penso, na minha cabeça, milhares de formas diferentes de expressar, através de frases distintas, a separação entre o animado inumano e o inanimado verbal. Mas quando coloco todos os elementos encadeados, o que resta é dizer o mesmo sentido. 

Me deparei com o impossível da linguagem, esse que leio diariamente em tantas bocas. Sei que quem escreveu isso chegou aí, só não sei se quem repete, também chegou nesse mesmo ponto, porque é tão perturbador, desafiador, provoca raiva, impotência, é o próprio limite.

Matemei para tentar me afastar de conceitos e teorias, porque eles são aquilo que está mais longe disso. Com saberes externos é que eu não conseguirei dizer de duas coisas diferentes, que se igualaram por terem sido significadas. 

Procuro no baú das palavras duas que se equivalham, mas que digam da diferença inegável do que quero dizer. Mas lá não acho. Fico bem quieta, tentando captar o som do ar, para ver se ele sopra o que seria o traço puro para poder reproduzir.

O silêncio é aceitável, o escuro também, mas a surdez e a cegueira, isso levaria justamente o pedaço material animado e inumado e deixaria o quê? nada. A cabeça que quis ficar com tudo, se reduz a nada sem o órgão tocador de real. Resta a mim procurar o quê desata esse nó cego. E daí, percorrer um espaço sem fim.

Simone de Paula - 19/02/2021

Obs.: Este é um exercício de linguagem e se você não entendeu do que se trata, bem-vindo ao clube dos desentedidos e ignorantes.



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