sexta-feira, 13 de março de 2020

Dogs

Carlão acordou cedo e viu o sol raiando pela janela da área de serviço. Sentiu seu cão companheiro andando atrás dele, pedindo atenção. Decidiu que ia ao parque logo cedo para o passeio diário. Saiu tranquilo, orgulhoso, segurando firme a coleira do bicho. Tob, o cão, liderava as passadas, todo animado com o rabo abanando. 
Mal sabia Carlão que o dia radiante, marcado pelo estado de plenitude que a cena ilustrava, estava prestes a ir por água abaixo. 
Essa mesma ideia, de sair com o cão cedinho para ir ao parque, também tomou Gerson, Mário, João e Pedro. 
Ora, como não se dar a mostras tão agradáveis como essa? Especialmente por notar olhares invejosos naqueles homens que não podem ter tão imponente objeto, um cão elegante. E ainda, como brinde, ganhar olhares carinhosos, daquelas que se sentem atraídas pelo bichinho.
Entre árvores, lago, pássaros e muitos transeuntes, os cinco homens com seus cães de raças variadas andavam imponentes pela pista de corrida quando os cães deram de cara um com o outro. Coleiras se enroscaram, os bichos latiram e rosnaram, os homens ficaram agitados, apavorados e sem saber se atacavam ou se defendiam. Estava montada a confusão.
Meio a contragosto, todos se distanciaram, derem aqueles sorrisos amarelos um para o outro, fizeram comentários espirituosos para quebrar o gelo, enfim, ficou declarada a falta de graça que a cena teve.
Cada um puxou forte a guia do seu animal, que colocou o rabo entre as pernas depois da bronca do dono. 
O sol continuou radiante e o dia tranquilo, mas cada um seguiu rapidinho pra casa, querendo esconder aquele abalo sísmico.

Simone de Paula - 13/03/2020

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