sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Mira

Sentada de forma elegante, mostrando dignidade acima de tudo. Calça e casaco de lã pretos, de corte sóbrio. A malha amarela, escondida sob o casaco, era o detalhe da excentricidade dessa mulher. O lenço  de cor mostarda, beirando o dourado, cobria a cabeça e se cruzava delicadamente no pescoço. Coroada, se portava como rainha. 
Falava muito, num tom baixo, mas muito seguro. Com o árabe ma língua, apontava os dedos quando queria indicar o bem e o mal em algum tipo de situação. Claro estava que ela ensinava por exemplos, tanto nela, quanto nos outros. 
Filha e neta pareciam não querer cair nos trejeitos hipnotizantes. Mas a potência da voz e do discurso da moral ideal estavam ali, delineando cada centímetro daquelas mulheres. Olhos amendoados, maquiados de forma madura. Unhas feitas, acessórios marcadamente dourados e com pedras, tudo indicava uma rainha, onde quer que estivesse. 
Olha nos olhos do interlocutor, segura a atenção deste, sem que ele se dê conta disso. Chama para si, aponta para onde se deve olhar.  Se sabe em público e aproveita disso. 
Mira, nome forte.  Significado: “peregrina”, “aquela que nasceu rodeada de palmeiras”; “vigorosa”, “cheia de vida”, “animada”; “mar”; “paz”; “cheirosa”, “aquela que tem uma fragrância agradável”, pela relação com a Mirra.
Os caminhos se cruzaram e descruzaram, só ficaram as imagens pra contar esta história.

Simone de Paula - 07/12/2018

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