No ofício.
- Cheguei de viagem e ainda não conversarmos atentamente.
- Faz tempo que não escuto os arredores, minha voz está gritante.
- Almoçamos?
Checaram as devidas entregas do dia. Tem sempre alguma pendência enquanto acontece uma boa prosa.
- 12h40, está pronta?
- Sim, te espero no final da escada.
Desceram 5 mulheres, uma grita:
- Falta a Cris! Está embaixo!
Saem todas juntas. Mesma mesa. Pedidos feitos. Uma abelha ronda o açúcar da doçura dessas moças. Vem a impaciência. A abelha se aproxima dos olhos, boca, braços. Tensão. Redobrada. Lembra a picada com ferrão da infância, doía tanto e agora quer controle. Perde as estribeiras, bate na mesa, gira a cabeça e solta um grito.
- Chega!
Coro: pelo menos a comida era boa, sim, sim, sim, que sobremesa!
Outro dia.
- Você ficou chateada?
- Por que?
- Não falamos da viagem, sua reação com a abelha, sei lá né. Terapia tá em dia?
- Ah! Teve nada não! Falamos a beça! Das séries todas e tal.
O que deveria ser dito foi dito um pouco. O resto seria outro dia. A abelha falou da dor e do medo, a farofa do conforto, o pudim, carícia. Assim é o não se fala, mas está.
- Amanhã 12h45?
Maria Laura, SP.
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