quinta-feira, 10 de maio de 2018

Jataí


No ofício.

- Cheguei de viagem e ainda não conversarmos atentamente.
- Faz tempo que não escuto os arredores, minha voz está gritante.
- Almoçamos?

Checaram as devidas entregas do dia. Tem sempre alguma pendência enquanto acontece uma boa prosa.

- 12h40, está pronta?
- Sim, te espero no final da escada.

Desceram 5 mulheres, uma grita:

- Falta a Cris! Está embaixo!

Saem todas juntas. Mesma mesa. Pedidos feitos. Uma abelha ronda o açúcar da doçura dessas moças. Vem a impaciência. A abelha se aproxima dos olhos, boca, braços. Tensão. Redobrada. Lembra a picada com ferrão da infância, doía tanto e agora quer controle. Perde as estribeiras, bate na mesa, gira a cabeça e solta um grito.

- Chega!

Coro: pelo menos a comida era boa, sim, sim, sim, que sobremesa!

Outro dia.

- Você ficou chateada?
- Por que?
- Não falamos da viagem, sua reação com a abelha, sei lá né. Terapia tá em dia?
- Ah! Teve nada não! Falamos a beça! Das séries todas e tal.

O que deveria ser dito foi dito um pouco. O resto seria outro dia. A abelha falou da dor e do medo, a farofa do conforto, o pudim, carícia. Assim é o não se fala, mas está.

- Amanhã 12h45? 


Maria Laura, SP.


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