sexta-feira, 24 de março de 2017

Objeto-fetiche

Acho que eu tenho um objeto-fetiche: luvas!
Não escrevo para contar uma história infantil, de menina romântica e sonhadora, que mantém essa lembrança amorosa guardada no centro do peito com um toque de rancor.  Quero falar das luvas.
Eu até poderia fazer um texto mais nostálgico ou poetico, porque as luvas em si me levam para outra dimensão, provocam um estado emocional que me eleva um tantinho do chão.
Diziam que eram usadas para esconder a pele em sinal de pudor. Imagine só, quem pode olhar as mãos de uma mulher sob luvas e não ter suas pulsões disparadas? São frias, na aparência e na essência. Luvas e mulheres, essa dupla é infalível.
Seda, cetim, couro, lã, renda, veludo.... Isso, luvas de veludo! O comprimento nem importa tanto mas o desenho daquele objeto é surreal, ainda que simulacro de real. Elas nem precisam estar recheadas, vestidas, preenchidas, se bastam por si. Ver luvas é não ver mãos. 
Se há um símbolo da femme fatale, aquela que domina qualquer olhar, não são olhos, boca, vestido, meias ou sapato salto agulha, tudo isso existe para ela poder usar as luvas, essas sim que poderiam aparecer sozinhas e definir o lugar de uma mulher. 
As divas de Hollywwod usavam, todas! Se Marilyn vendeu o 'Channel no. 5', é porque não quis revelar o que vestia antes mesmo de querer tirar.
Confesso, não paro por aí, luvas de médicos, enfermeiros, esteticistas, bem justinhas , coladas na pele. Não consigo deixar de pensar nas luvas de couro dos imponentes militares, suavizando o caráter cruel que está por baixo daquele tecido macio. 'Tapa com luva de pelica', que expressão mais precisa. 
Eu tive boneca com luvas. Na gaveta da mãe tinha um par. Hoje, tenho algumas.
Quando as vejo na loja fico olhando, passando os dedos no tecido, imaginando que depois do frisson do frio que minha pele sentirá ao vestí-las vem o calor que provocam, uma simbiose das matérias e texturas, puro deleite. Quando as uso, olho encantada para elas. Dirigir com luvas de couro é um êxtase.  
Eu sabia, acho que você não. Revelei um segredo e agora paro por aqui. Você tem um objeto-feriche?

Simone de Paula - 24/03/2017



Conto inspirado na capa deste livro e na vontade de reler 'A mão e a luva', de machado de assis. 



16 comentários:

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  2. Amei saber que alguém gosta de luvas assim com eu. Você descreve muito bem as sensações que este objeto maravilhoso provoca. Se eu pudesse, usaria luvas longas de couro, forradas, bem justinhas, até no final do braço, todos os dias, o dia todo, sem deixar os saltos altos de lado um só instante. Andar de saltão com luvas longas é tudo. Também gosto de luvas domésticas.

    Minha outra paixão são as botas over the knee com saltos finos de 12 cm. Não consigo usar tudo isso sem ficar admirando um só instante. É um sonho bom que parece não ter fim!

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    1. Demais, né... eu uso luvas sempre que posso.. o inverno está chegando.. :D

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  5. Texto esplêndido. O charme, sensualidade e poder que as luvas exercem são indescritíveis. Quando vejo mulheres usando luvas, principalmente as de couro e veludo, estas exercem quase que uma hipnose em mim.

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  6. Olá, me chamo Leonardo, tenho 44 anos e sou casado. Achei esse blog por acaso e foi uma das melhores descobertas em minha vida, confesso e explicarei o porque.
    Tenho fetiche por luvas desde adolescente, as poucas vezes que tentei contar para alguém que estava junto fui como maluco, ou mesmo fui motivo de chacota. Depois disto não contei para mais ninguém e guardei isto para mim mesmo após casado. Quando estava com trinta e quatro anos, eu e minha esposa viajamos para o chile e estava aquele friozinho gosto, aproveite para passear e no caminho encontrei uma loja que vendia roupas de couro. Não tive dúvidas entrei e comprei um par de luvas de couro até o cotovelo para minha esposa e falei para mim mesmo, hoje eu conto meu fetiche para ela. Noite a dentro e algumas garrafas de vinho, pegue a caixa de presente com as luvas de couro e entreguei a ela. Quando ela abriu deu um sorriso e me agradeceu com um beijo muito quente. Pensei comigo mesmo, agora é a hora, pedi para que experimentasse e então como era de se esperar, as luvas ficaram perfeitas e lindas. Não pude esconder minha excitação e então entre beijos e amaços ela foi tirar as luvas então pedi que não as tirassem e ela me olhou muito assustada e perguntou por quê? Então contei meu fetiche e ela continuou usando porém ficou um pouco mais fria. No dia seguinte pedi o café da manhã para nós dois no quarto do hotel e falei que ela ficava maravilhosa com as luvas e que foi uma das melhores noites da minha vida e então escutei friamente a seguinte frase, "que bom que gostou, pois não vai acontecer novamente." Depois disso vi que infelizmente nós brasileiros temos muitos tabus e acabamos por não aproveitarmos os prazeres da vida. Resolvi então que nunca mais iria contar meu fetiche para ninguém e teria só para mim. No mesmo dia sai do hotel, voltei a loja e comprei um par de luvas de couro longa pra mim e as guardei em segredo. Voltando para casa as escondi e as uso apenas quando não tem ninguém em casa, mas ao menor barulhos elas retornam para o esconderijo.
    Quando li este texto acima e os comentários, fiquei em êxtase, pois descobri que existem mulheres com o mesmo fetiche que o meu, e foi apenas falta de procurar. Agradeço por existirem, me sinto vivo novamente e acreditando que um dia posso encontra alguém para falar sobre esse assunto sem ser alvo de críticas, tabus e chacotas. Sinto com estivesse saído do limbo.

    Leo

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    1. Oi Leonardo, que ótimo... nossa cabeça tem que voar e quando for possível, o corpo também entrar no jogo. Agradeço o depoimento... bjo

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    2. Olá Simone, concordo plenamente com você! Um ótimo fim de semana. Bjo
      Leo

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  7. Tenho fetiches por luvas de borracha dessas doméstica e nao tenho vergonha em admitir isto .

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